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Vitrine / Brasil

"O maior desafio do sistema carcerário é conseguir, além da punição, a ressocialização do detento", disse a juíza Débora Zanini

Em entrevista exclusiva à AH, a autora da obra Regime Fechado-História do Cárcere, revela os bastidores dos presídios brasileiros

Victória Gearini Publicado em 27/02/2020, às 16h40

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Imagem ilustrativa - Divulgação
Imagem ilustrativa - Divulgação

No Brasil, atualmente, cerca de 812 mil pessoas encontram-se presas, sendo que 41,5% delas esperam pelo seu julgamento. Com a terceira maior população carcerária do mundo, este regime prisional passa por diversos altos e baixos, como aponta a juíza Débora Zanini, autora da obra Regime Fechado-História do Cárcere.

Com 20 anos de Magistratura, a juíza catarinense Débora Zanini decidiu compilar 17 histórias que mais lhe impactaram durante sua carreira. Lançada em 2016 pela Editora Lura, a obra retrata o cotidiano no sistema prisional brasileiro, em específico do Presídio Santa Augusta, situado em Criciúma, em Santa Catarina. 

Por meio de uma linguagem acessível e com fotografias, a autora revela os bastidores dos interiores das prisões, desmitificando alguns preceitos do senso comum. Em entrevista exclusiva para a Aventuras História, a autora conta sua experiência pessoal como juíza e corregedora.

Presídio Santa Augusta, situado em Criciúma, em Santa Catarina / Crédito: Lucas Colombo / DN

Para Débora Zanini, é fundamental que o profissional se mantenha neutro sobre os casos. No entanto, há alguns que mais lhe impactaram. “O juiz não pode se envolver emocionalmente nos casos que julga. Do contrário, a imparcialidade ficará prejudicada. Mas não vou negar que alguns casos criminais que julguei ao longo desses 20 anos me chocaram e me entristeceram, principalmente ao ver a que ponto pode chegar a maldade humana”, disse à AH. 

Dentre as 17 histórias compiladas em sua obra, a primeira foi a que mais lhe chamou a atenção, pois retrata a trajetória de uma jovem que foi presa por narcotráfico. “Na cadeia, por ser bonita, teve a face destruída por outra detenta odiosa e ciumenta, que lhe jogou água fervente no rosto enquanto ela dormia. Achei que a moça pagou caro demais pelo seu erro”, revelou a autora. 

Sob sua corregedoria, a Penitenciária Sul tornou-se referência no Estado de Santa Catarina. Para Débora Zanini, o fato de sua administração ser rígida influenciou no combate contra a atuação de facções criminosas dentro dos presídios. 

Crédito: Editora Lura

“Há um código de hierarquia entre os faccionados, com posições de liderança. As ordens e missões são emanadas do escalão superior da facção criminosa, para cumprimento pelos faccionados de posição hierarquicamente inferior”, trecho retirado de Regime Fechado-História do Cárcere.

No entanto, para Zanini, ainda há grandes empecilhos para serem enfrentados dentro e fora das prisões. Apesar de ser um trabalho contínuo e minucioso, muitos detentos acabam regredindo depois de soltos, e por isso o trabalho de ressocialização é fundamental. “A ressocialização é importante. Porque se ele voltar igual ou pior, vai voltar a cometer crimes e captar novas pessoas para esse (sub)mundo, aumentando ainda mais a criminalidade. Portanto, o maior desafio do sistema carcerário é conseguir, além da punição, a ressocialização do detento”, explicou a juíza.

Ainda de acordo com a especialista, em casos de crimes hediondos, este processo é mais delicado. “Temos que ter a visão clara de que a vítima é sempre a vítima e o agressor é e sempre será o agressor”, reforça.


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A rainha dos cárceres da Grécia, de Osman Lins (2005) - https://amzn.to/3abOQ3O

Memórias do cárcere, de Graciliano Ramos (2020) - https://amzn.to/32v6SLA

Cadernos do cárcere (Vol. 3), de Antonio Gramsci (2000) - https://amzn.to/2VumOwe

Filhos Do Cárcere, de Vanessa Fusco Nogueira Simões (2013) - https://amzn.to/2TrgGlY

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