Em entrevista exclusiva à AH, a autora da obra Regime Fechado-História do Cárcere, revela os bastidores dos presídios brasileiros
No Brasil, atualmente, cerca de 812 mil pessoas encontram-se presas, sendo que 41,5% delas esperam pelo seu julgamento. Com a terceira maior população carcerária do mundo, este regime prisional passa por diversos altos e baixos, como aponta a juíza Débora Zanini, autora da obra Regime Fechado-História do Cárcere.
Com 20 anos de Magistratura, a juíza catarinense Débora Zanini decidiu compilar 17 histórias que mais lhe impactaram durante sua carreira. Lançada em 2016 pela Editora Lura, a obra retrata o cotidiano no sistema prisional brasileiro, em específico do Presídio Santa Augusta, situado em Criciúma, em Santa Catarina.
Por meio de uma linguagem acessível e com fotografias, a autora revela os bastidores dos interiores das prisões, desmitificando alguns preceitos do senso comum. Em entrevista exclusiva para a Aventuras História, a autora conta sua experiência pessoal como juíza e corregedora.
Para Débora Zanini, é fundamental que o profissional se mantenha neutro sobre os casos. No entanto, há alguns que mais lhe impactaram. “O juiz não pode se envolver emocionalmente nos casos que julga. Do contrário, a imparcialidade ficará prejudicada. Mas não vou negar que alguns casos criminais que julguei ao longo desses 20 anos me chocaram e me entristeceram, principalmente ao ver a que ponto pode chegar a maldade humana”, disse à AH.
Dentre as 17 histórias compiladas em sua obra, a primeira foi a que mais lhe chamou a atenção, pois retrata a trajetória de uma jovem que foi presa por narcotráfico. “Na cadeia, por ser bonita, teve a face destruída por outra detenta odiosa e ciumenta, que lhe jogou água fervente no rosto enquanto ela dormia. Achei que a moça pagou caro demais pelo seu erro”, revelou a autora.
Sob sua corregedoria, a Penitenciária Sul tornou-se referência no Estado de Santa Catarina. Para Débora Zanini, o fato de sua administração ser rígida influenciou no combate contra a atuação de facções criminosas dentro dos presídios.
“Há um código de hierarquia entre os faccionados, com posições de liderança. As ordens e missões são emanadas do escalão superior da facção criminosa, para cumprimento pelos faccionados de posição hierarquicamente inferior”, trecho retirado de Regime Fechado-História do Cárcere.
No entanto, para Zanini, ainda há grandes empecilhos para serem enfrentados dentro e fora das prisões. Apesar de ser um trabalho contínuo e minucioso, muitos detentos acabam regredindo depois de soltos, e por isso o trabalho de ressocialização é fundamental. “A ressocialização é importante. Porque se ele voltar igual ou pior, vai voltar a cometer crimes e captar novas pessoas para esse (sub)mundo, aumentando ainda mais a criminalidade. Portanto, o maior desafio do sistema carcerário é conseguir, além da punição, a ressocialização do detento”, explicou a juíza.
Ainda de acordo com a especialista, em casos de crimes hediondos, este processo é mais delicado. “Temos que ter a visão clara de que a vítima é sempre a vítima e o agressor é e sempre será o agressor”, reforça.
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Regime fechado: Histórias do cárcere, de Débora Driwin Rieger Zanini (2016) - https://amzn.to/2Tjec8V
A rainha dos cárceres da Grécia, de Osman Lins (2005) - https://amzn.to/3abOQ3O
Memórias do cárcere, de Graciliano Ramos (2020) - https://amzn.to/32v6SLA
Cadernos do cárcere (Vol. 3), de Antonio Gramsci (2000) - https://amzn.to/2VumOwe
Filhos Do Cárcere, de Vanessa Fusco Nogueira Simões (2013) - https://amzn.to/2TrgGlY
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