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Matérias / Carlos Ghosn

Virou documentário: O empresário que fugiu das autoridades em uma caixa

Em 2019, Carlos Ghosn, ex-CEO da Nissan, tomou medidas inusitadas para evitar a prisão

Ingredi Brunato, sob supervisão de Wallacy Ferrari Publicado em 05/11/2022, às 16h00

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Carlos Ghosn em 2014 - Getty Images
Carlos Ghosn em 2014 - Getty Images

Carlos Ghosn estava no topo de sua carreira, atuando como CEO da Nissan e presidente-executivo da Renault ao mesmo tempo, quando foi acusado pela Justiça japonesa de ter mentido às autoridades sobre o valor de seu salário anual e feito uso indevido dos recursos financeiros da companhia. 

O ano era 2018, e o empresário de ascendência libanesa, que nasceu no Brasil, teve sua vida completamente tirada dos eixos.

É como se você fosse atropelado por um ônibus ou algo realmente muito traumático tivesse acontecido com você. A única memória que tenho desse momento é o choque, o trauma congelado", explicou ele em uma entrevista à BBC publicada em 2021. 

Ele foi surpreendido por agentes oficiais no aeroporto de Tóquio, sendo levado imediatamente ao Centro de Detenção da cidade, onde ficou sob custódia durante 108 dias. 

De repente, tive que aprender a viver sem relógio, sem computador, sem telefone, sem notícias, sem caneta — nada", relatou.

Ghosn foi eventualmente capaz de pagar fiança e passar a cumprir sua prisão preventiva em regime domiciliar, mas seu julgamento futuro ainda era uma constante ameaça.

Ainda de acordo com o veículo, a espera poderia se estender por anos. E, quando o ex-CEO da Nissan finalmente fosse a tribunal, seu destino era quase certeiro: seria considerado culpado, o que podia lhe render uma sentença de até 15 anos. Isso porque, no Japão, a taxa de condenação é de 99,4%, de forma que raramente um réu é determinado como inocente. 

Para piorar a situação, o brasileiro foi proibido de ter contato com sua esposa, Carole Ghosn, durante a prisão domiciliar. Ele havia passado do topo de sua trajetória para seu ponto mais baixo em questão de meses. 

Fotografia de Carlos e Carole nas Olimpíadas de 2016 / Crédito: Getty Images 

A fuga 

Foi esse o contexto dentro do qual Carlos acabou executando uma fuga em estilo filme de Hollywood. Para escapar do Japão, o empresário pegou um voo escondido dentro de uma caixa.

O compartimento, que era destinado ao armazenamento de instrumentos musicais, foi locomovido por um pai e seu filho, Michael Taylor e Peter, que estavam disfarçados de músicos. O plano se aproveitava do fato que, naquele período, ocorriam diversos shows no país. 

Quando você entra na caixa, não pensa no passado, não pensa no futuro, apenas pensa no presente. Você não tem medo, não esboça nenhuma emoção. Só pensava em 'esta é sua chance, você não pode perdê-la. Se você perder, você vai pagar com a sua vida, com a vida de um refém no Japão'", relembrou Ghosn à BBC. 

O empresário brasileiro passou uma hora e meia dentro da caixa. Entrou nela em um quarto de hotel, foi transportado de trem-bala até o aeroporto, e, finalmente, embarcado em um jatinho particular, onde pôde sair do compartimento. 

Carlos Ghosn fugiu para o Líbano, país onde têm cidadania, já que é a terra natal de sua família. Outro detalhe importante a respeito do território é que ele não realiza a extradição de criminosos procurados por outras nações, de forma que o homem não precisa se preocupar com uma volta forçada ao Japão. 

Carlos Ghosn em documentário da BBC / Crédito: Divulgação/Youtube/ Sheffield DocFest 

Últimas atualizações 

A fuga espetacular do ex-CEO da Nissan dentro de uma caixa se tornou objeto de um documentário da BBC em 2021 chamado "O último voo". Para os espectadores brasileiros, a produção está disponível na plataforma de streaming da Globoplay. Confira abaixo o trailer: 

Em 2022, a França, onde a Renault é sediada, também emitiu um mandado pedindo pela prisão de Ghosn. A justiça francesa o acusa de lavagem de dinheiro, e, assim como feito pelo Japão, abuso de recursos financeiros pertencentes à companhia.