Incomodado com o progressismo tecnológico, o profissional entrou na lista da agência americana até encontrar um destino inesperado
Nascido em maio de 1942, em Chicago, Theodore John Kaczynski foi uma criança diferente das outras. Até ter urticárias graves em sua pele, a criança era feliz e bem humorada, no entanto, depois de ser levado ao isolamento hospitalar com contato limitado, Theodore tornou-se uma criança que poderia demonstrar poucos sentimentos por meses.
Porém, era tido como uma pessoa saudável e bem calma por educadores que conviveram com ele durante seus anos escolares. Tudo mudou quanto Kaczynski foi classificado com um QI de 167 pontos, fazendo com que ele pulasse a sexta série. Neste ano, ele sentia-se deslocado das outras crianças e sofria bullying.
No ensino médio, o perfil tímido e extremamente inteligente do garoto fez com que chegasse a ser considerado esquisito. Por outro lado, era muito popular nos grupos de matemática. Nesses ambientes, ele era mais aberto ao diálogo, e conversava bastante com seus amigos sobre os mais diversos assuntos.
Tamanho era seu desempenho que Kaczynski se formou aos 15 anos. Seus pais e pessoas da escola incentivaram o garoto a ingressar em Harvard, e, aplicando vaga por uma bolsa de estudos, foi aprovado na universidade aos 16 anos de idade.
Na faculdade era conhecido por seu estilo reservado e de poucas palavras, muitos de seus colegas da época afirmavam que ele falava muito pouco, mas que se demonstrava amigável quando entrava — raramente — em debates, e era um gênio.
Em Harvard, porém, um momento traumatizante de sua vida foi, aparentemente, fundamental para a formação de seu caráter. Trata-se de um experimento psicológico conduzido por Henry Murray, que consistia em um acompanhamento fisiológico dos sujeitos da pesquisa enquanto eram menosprezados e atacados psicologicamente por um advogado, que havia recebido ensaios com crenças e aspirações pessoais das cobaias.
Todos os encontros com o advogado foram filmados, e as expressões de raiva e angústia dos sujeitos da pesquisa eram reproduzidas repetidamente. O processo durou três anos, e Kaczynski passou por mais de 200 sessões ao longo de sua vida acadêmica.
Depois que se formou em Harvard, aplicou para uma vaga na Universidade de Michigan, onde era remunerado para concluir seu mestrado e doutorado em matemática, o campo em que mais se identificava em sua vida. Mais tarde, Theodore afirmou que suas memórias do local não eram agradáveis, e que os padrões intelectuais de lá eram muito baixos.
Depois de um tempo, passou a lecionar na Universidade da Califórnia, com somente 25 se tornou o mais jovem professor de matemática da história da instituição. Porém, ele não se dava muito bem com os alunos, já que não respondia perguntas e parecia desconfortável no local. Depois de um tempo, renunciou ao cargo e voltou para Chicago.
A partir daí, sua vida começou a mudar. Em 1971, ele se mudou para uma cabana remota, sem eletricidade e água corrente. Ele trabalhava em empregos incomuns, e recebia dinheiro de sua família.
A mudança se deu, pois queria viver um estilo de vida autossustentável, podendo viver sozinho aprendendo técnicas de sobrevivência, identificando plantas comestíveis e desenvolvendo métodos de agricultura. Porém, ele identificou muitos problemas em seguir o seu plano, uma vez que o desenvolvimento imobiliário destruía a floresta ao seu redor.
Essa revolta fez com que ele tomasse as ações radicais em sua vida que o tornariam conhecido para sempre. Entre 1978 e 1995, Kaczynski foi responsável por enviar bombas caseiras que vitimaram fatalmente 3 pessoas, e feriram outras 23. Foram 16 explosivos atribuídos ao terrorista.
A genialidade do homem era tamanha que ele propositalmente deixava pistas para enganar os investigadores, como as inicias FC que representariam um suposto Freedom Club (clube da liberdade, em tradução livre). As explosões logo ficaram conhecidas, e o caso começou a tomar a atenção da mídia.
Em 1995, Theodore enviou cartas à diversos veículos de imprensa, em que continham uma exigência da publicação de um ensaio seu chamado Sociedade Industrail e Seu Futuro. Caso fosse atendido, ele dizia nas cartas, o terrorismo acabaria.
Depois de certa relutância, os ensaios foram publicados no The New York Times e no The Washington Post em 19 de setembro de 1995. Anteriormente, o dono de uma revista masculina de grande circulação, a Penthouse, ofereceu o veículo para publicar o Manifesto Unabomb (como seria apelidado pelas autoridades), no entanto, Theodore afirmou que uma bomba ganharia vida se o material não fosse publicado em mais lugares.
Unabomb seria a sigla para University and Airline Bomber (Bombardeiro de universidades e aéreas), e faz referência aos locais que eram majoritariamente mirados pelo terrorista. O envolvimento do FBI viria em 1978, depois que uma das bombas enviadas por ele foi implantada em um avião da American Airlines. O dispositivo falhou, mas fez muita fumaça e obrigou a aeronave a fazer um pouso de emergência.
Bombas foram enviadas para diversos professores de faculdades renomadas, como Yale, a da Califórnia, além de executivos de multinacionais, todos os seus alvos estavam envolvidos com tecnologia de alguma maneira. Essa foi a tônica das manifestações do Unabomber, contrariando o progressismo tecnológico.
Em 1996, agentes do FBI chegaram a Kaczynski em sua cabana onde foi encontrado de maneira desleixada. No esconderijo, diversas bombas caseiras foram encontradas, além de experimentos com explosivos e um manuscrito do seu notório manifesto. A busca por Theodore foi a mais cara na história do FBI.
Durante seu julgamento, os advogados de Kaczynski tentaram alegar uma defesa de insanidade para que não fosse condenado a morte. Entretanto, o próprio réu foi contra a tática, e contratou um advogado que pudesse basear sua defesa nas teses anti-tecnológicas do terrorista. Muitos psiquiatras forenses apontaram uma mentalidade esquizofrênica em Theodore.
Só não foi penalizado com pena de morte porque assumiu a culpa pelo detonamento das bombas, e aceitou cumprir prisão perpétua em 1998, sem liberdade condicional.
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