Há 66 anos, o casal de comunistas americanos era executado na cadeira elétrica por passarem segredos atômicos aos soviéticos. Mas eles eram peixes pequenos
Eram pouco mais de 20 horas daquele 19 de junho de 1953, quando o rabino entoou o salmo na prisão de Sing Sing, a 50 km de Nova York. Foi a última voz ouvida por Julius Rosenberg, de 35 anos, e sua mulher Ethel, de 37, presos nas cadeiras elétricas.
Eles tinham sido condenados, em 1951, por espionagem e por revelar à União Soviética os segredos da bomba atômica. Julius morreu na primeira estremecida de 57 segundos, mas Ethel resistiu. Precisou de outras duas descargas até que seu coração parasse de bater.
Nas décadas seguintes, a inocência dos Rosenbergs ganhou ares de verdade absoluta. Com a extinção da URSS, porém, os fatos começaram a vir à tona: arquivos da KGB foram abertos, ex-agentes russos publicaram autobiografias e, nos EUA, o público finalmente teve acesso a um segredo guardado a muitas chaves: o Projeto Venona, que decodificou mensagens enviadas a Moscou durante a guerra.
“Tudo isso prova que Julius trabalhou para a espionagem soviética, com a conivência passiva de Ethel”, diz o jornalista Assef Kfouri, autor do livro O Caso Rosenberg.
Proletários
Essa história começa nos anos 30, quando os EUA mergulharam na depressão econômica. Filho de judeus poloneses, Julius foi um dos tantos jovens americanos que cresceram durante a crise e vislumbraram no marxismo a ponte para o novo mundo. Aos 16, ele já era membro ativo da Juventude Comunista.
Conheceu Ethel numa atividade do grupo e casou-se com ela em 1939, quando se formou engenheiro. Enquanto o casal dividia o teto e os ideais em Nova York, cientistas corriam contra o tempo no Laboratório Nacional de Los Alamos, no Novo México. Faziam parte do ultra-secreto Projeto Manhattan - para criar a bomba atômica.
Após a vitória sobre o Eixo, em 1945, EUA e URSS romperam a aliança e deram a largada para uma corrida armamentista. O governo americano advertia que a ameaça comunista estava dentro do país. “Querem derrubar nosso governo”, dizia o presidente Harry Truman.
Em 1949, ele soube, por seus auxiliares, que a URSS testara sua própria bomba A. “O cogumelo radioativo da Sibéria indicava que o segredo havia sido roubado debaixo do nariz do FBI”, diz o jornalista americano Alvin Goldstein no documentário The Unquiet Death of Julius and Ethel Rosenberg (A incômoda morte de Julius and Ethel Rosenberg).
O serviço secreto americano iniciou uma caçada para desvendar como os soviéticos conseguiram detonar a bomba atômica. Os agentes concluíram que o segredo do armamento tinha sido revelado à URSS por espiões infiltrados no governo americano.
Rede de espiões
Em 6 de março de 1951, Julius, Ethel e Sobell sentaram no banco dos réus da Corte Federal de Nova York, acusados de conspiração para fazer espionagem. O júri era formado por 11 homens e 1 mulher – nenhum deles judeu.
Elitcher era amigo de Sobell, mas incriminou-o. Disse que estava presente no momento em que ele entregou um filme secreto a Julius. Harry Gold disse ter sido enviado por Julius a um encontro com Greenglass e passado informação deste ao agente russo Yakovlev.
Já Greenglass afirmou que Julius o induziu a ingressar no Partido Comunista e a roubar os segredos atômicos. Greenglass também disse que Ethel havia datilografado um documento com segredos que ele conseguira em Los Alamos.
Julius e Ethel foram as testemunhas de defesa e negaram tudo. Quando o juiz Irving Kaufman lhes perguntou se haviam pertencido a alguma organização comunista, eles mantiveram silêncio – um direito garantido pela Quinta Emenda da Constituição Americana.
Ficaram calados para proteger antigos colegas, mas desagradaram o júri. Todos sabiam de sua militância. Sobell preferiu não se declarar. O júri decidiu que os três réus eram culpados. Resultado: eles receberam a pena capital e Sobell, 30 anos de prisão.
Para saber mais
O Caso Rosenberg – 50 anos depois, Assef Kfouri, Ed, 2003
Filme: Herdeira de uma execução, Ed. Ivy Meeropol, EUA, 2004