A carreira política do senador alagoense e a sua virada ideológica são surpreendentes
Teotônio Vilela foi um importante político brasileiro. Por duas décadas participou ativamente da política, passando por cargos de deputado estadual, vice-governador e senador. Nascido em Viçosa, Alagoas, no dia 28 de maio de 1917, sua carreira ultrapassou governos marcantes da história do Brasil, como o de Getúlio Vargas e a ditadura militar.
Vilela era um autodidata, que não concluiu nenhuma das faculdades que se matriculou. Virou agropecuarista trabalhando junto de seu pai, e depois passou a trabalhar em usinas, antes de entrar para a política.
Sua família é formada pela esposa Helena Quintela Brandão Vilela, e seus sete filhos, sendo que um deles, Teotônio Vilela Filho, também iniciou carreira política.
A politicagem entrou em sua vida em 1948, quando decidiu se filiar à UDN, tendo fundado o partido em Alagoas alguns anos depois. Foi em 1954 que Teotônio se elege deputado estadual, pertencente à "bancada do açúcar".
Desde o começo ele foi dono de polêmicas em seus mandatos: Logo nos primeiros anos, foi o relator da comissão que pedia o impeachment do populista Muniz Falcão, na época governador, tendo então sucedido o cargo do mesmo.
Conhecido por suas ideias econômicas liberais, e costumes conservadores, ele se adequava bem ao estilo brasileiro de fazer política da época, quando o país se via ameaçado e sentia o golpe militar.
O governador de Alagoas, major Luiz Cavalcante, definiu o companheiro de chapa: "Os contrastes do Brasil, Teotônio, estão harmonizados em você." A frase foi publicada na biografia "Senhor República - A Vida Aventurosa de Teotônio Vilela, um Político Honesto", do jornalista Carlos Marchi.
Em outubro de 1965, após a implantação do AI-2 pelo governo militar, iniciaram-se no país o processo de cassação de mandatos e suspensão de direitos políticos, além da extinção dos partidos existentes - que resultou na formação de um bipartidarismo - e o estabelecimento das eleições indiretas para os governos estaduais.
No mesmo o ano, o congresso foi tomado pelo ARENA, partido de apoio ao regime militar, e o MDB, de oposição regulada e vigiada. Vilela entrou na ARENA como senador em 1966, sendo reeleito em 74, quando passou a ficar desencantado com a ditadura.
Com a posse de Ernesto Geisel em março do mesmo ano, uma porta para a redemocratização se abriu. O governo se encontrava cada vez mais enfraquecido após os anos de chumbo e a crise econômica que se alastrava junto com a insatisfação popular. O penúltimo presidente do regime militar inicia então um projeto de "abertura" política "lenta, gradual e segura".
A partir daí, nascia um movimento que iria mudar a história do Brasil: o Diretas Já, arquitetado principalmente por líderes sindicais, movimentos populares e o MDB.
Foi nesse momento que Teotônio decidiu mudar de lado. O seu desconforto com o governo vigente crescia, até que um convite de Ulysses Guimarães, presidente do MDB, o fez entrar na oposição.
Para Marchi, entender e repassar as razões dessa virada às avessas ideológica foi sua maior dificuldade durante a escrita de seu livro: "Concluí que dois aspectos influenciam a mudança. Um foi a sua imersão na causa da anistia e a revelação dos porões do regime militar, que até então ele desconhecia, induzindo-o a fazer mea-culpa do apoio que dera ao golpe de 1964", conta o autor, "outro foi a influência que a futura prefeita de Fortaleza Maria Luíza Fontenele passou a exercer sobre ele –ela, que, dentro do PT, militava na radicalíssima ala do Partido Revolucionário Comunista."
O homem acabou falecendo em 1983, não podendo participar do processo de redemocratização, mas, antes de partir, deixou uma história fascinante, que foi revelada em sua biografia.
Marchi se deu o trabalho de narrar a ação de Teotônio ao conseguir entrar no Dops (Departamento de Ordem Política e Social) de São Paulo, quando foi visitar o ex-presidente Lula, que na época era líder do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo. A visita tinha um propósito: o senador precisava do aval de Lula para poder, junto do MDB, dar a cartada a final para a greve de 1980.
O autor também relembra a criação da música "Menestrel das Alagoas", composta por Milton Nascimento e Fernando Brant, em homenagem a Teotônio. A música foi interpretada pela primeira vez por Fafá de Belém, amigo do senador alagoense.
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