Polêmica dominou as redes sociais após youtuber publicar vídeo mostrando tonel com símbolo que foi 'sequestrado' pelos nazistas na Segunda Guerra
Nos últimos dias repercutiu na internet o vídeo do youtuber conhecido como Gugu Gaiteiro mostrando um tonel que foi usado por seu bisavô. O que chama a atenção no vídeo, que conta com mais de 62 mil visualizações, é o fato do objeto possuir um símbolo que se assemelha com a suástica nazista.
O meu bisavô é descendente de alemães e muita gente pode tirar uma ideia errada sobre isso daqui", diz Gugu no vídeo. "Isso é um artefato de muito tempo. Esse tonel já tem mais de 100 anos".
No vídeo, o youtuber ainda explica que embora muitos podem associar o símbolo do tonel ao usado pelos nazistas durante a Segunda Guerra, na verdade a marca representava a empresa Shell. "Não tem nada a ver com o partido do bigodudo de 45", aponta.
"Embora se assemelhe a um latão de leite, isso é um tonel de combustível, e é provavelmente da empresa Shell Nex Argentina. Esse aqui era o símbolo da empresa na época", prossegue. Mas, afinal, a Shell realmente usou tal símbolo?
Apesar da possível polêmica remeter há quase um século, o assunto foi debatido recentemente quando um tonel parecido com o mostrado pelo youtuber, pertencente ao acervo do Museu Alcir Philippsen (do município de Santo Cristo, no noroeste do Rio Grande do Sul) foi estudado por especialistas.
Conforme repercutido pelo Zero Hora, em setembro deste ano, o professor do Programa de Pós-Graduação em História Edison Hüttner, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), garantiu que o tonel não era nazista. Mas reconhece que pode ter sido utilizado por eles.
Era da empresa Shell Mex Argentina, que, no começo, usava o símbolo de uma suástica budista. Depois, quando viram que o Partido Nazista de Adolf Hitler começou a fomentar a guerra, tiraram a suástica e colocaram uma concha no lugar", diz Hüttner ao Zero Hora.
O docente especulou que o tonel poderia ter sido usado para abastecer navios e submarinos, mas que não existem documentos que possam comprovar a teoria.
Outro ponto explicado por Hüttner é que o símbolo do tonel é virado para o lado esquerdo, enquanto a suástica nazista era apontada para a direita e também estava inclinada em 45 graus.
Acredita-se que o tonel pertencente ao Museu Alcir Philippsen tenha sido fabricado entre 1931 e 1933 — uma idade parecida com o latão mostrado por Gugu.
Por fim, a pesquisa concluiu que o tonel não foi fabricado pelos nazistas, mas que de alguma forma pode ter participado do contexto da Segunda Guerra, com o episódio do afundamento do Graf Spee, conhecido como o navio fantasma da marinha de Hitler — que foi afundado propositalmente pelo capitão Hans Langsdorff dias após ter sido alvo de ataque de três cruzadores britânicos.
Antes de ser 'apropriada' pelos nazistas, a suástica se tornou um símbolo de paz, prosperidade e boa sorte para os budistas e hinduístas, que a utilizam como emblema sagrado há cerca de 5 mil anos.
Segundo recorda matéria do El País, a cruz de dois ganchos entrelaçados recebeu o nome de suástica, que provém do sânscrito svastica — que significa algo como bem-estar ou boa sorte.
A suástica budista também pode ser encontrada esculpida aos pés de budas nas montanhas do norte da Índia, na famosa cidade de Troia (Turquia) ou até mesmo nas ruínas da Babilônia (Iraque).
A suástica se tornou tão popular nas décadas de 1920 e 1930, antes da ascensão hitlerista, que o símbolo servia como marca comercial nos Estados Unidos. Além da Shell, a Coca-Cola chegou a fabricar uma insígnia com o símbolo e a frase 'Beba Coca-Cola', diz o El País.