Os atenienses humilharam o exército de Dario no conflito, mas a vitória plantou as sementes de uma atroz revanche
Arquivo Aventuras na História Publicado em 01/03/2007, às 00h00 - Atualizado em 30/03/2021, às 13h12
Em julho de 490 a.C., o rei Dario mandou dois de seus melhores generais, Dátis e Artafernes, numa missão destinada a punir Atenas e Eretria por terem tido a petulância de ajudar as cidades rebeldes da Grécia asiática.
A jornada inicial foi um passeio: os persas aterrorizaram várias ilhas do mar Egeu e tomaram Eretria depois de um rápido cerco.
Na hora de avançar para Atenas, porém, a coisa não era tão simples. A cidade podia reunir até 10 mil hoplitas, os soldados de infantaria pesadamente armados que eram o coração de todo Exército helênico naquela época.
Os persas eram superiores em número – algo entre 20 mil e 30 mil homens. Mas nenhum dos generais do Grande Rei estava interessado em correr riscos.
Um possível atalho para a vitória era o ex-tirano ateniense Hípias, que tentava negociar uma rendição secreta – a qual, claro, recolocaria o poder em suas mãos. Mesmo os atenienses leais tinham dúvidas sobre como organizar a resistência.
Para a sorte desse segundo grupo, o general Milcíades estava do lado deles. Ele tinha sido tirano das colônias gregas no mar Negro e conhecia o jeito persa de guerrear.
Milcíades convenceu o governo de Atenas de que era preciso ir ao encontro do inimigo. Assim, ele e os outros nove generais de Atenas, à frente de seus guerreiros, desceram o caminho íngreme rumo à planície de Maratona, entre as montanhas e o mar.
Ali, eles receberam o reforço inesperado (e muito bem-vindo) de 600 soldados de Plataia, uma pequena cidade aliada de Atenas. E teve início uma longa espera – atenienses que temiam atacar por não terem cavalaria ou arqueiros consigo, persas que esperavam a ajuda dos amigos de Hípias para tomar Atenas de vez.
Tudo indica que Dátis e Artafernes resolveram agir primeiro – eles embarcaram a maior parte de seus cavaleiros, à espera de um sinal dos traidores, os quais abririam os portões de Atenas para eles sem luta. Mas os persas cometeram o erro fatal de usar gregos da Ásia em seu exército.
Alguns deles se esgueiraram até o acampamento ateniense de madrugada, avisando os compatriotas do que tinha acontecido. Era agora ou nunca: Milcíades e companhia tinham de atacar.
Quando o dia raiou, a ponta sul da planície estava tomada pelos atenienses. Com suas couraças, grandes escudos e capacetes de bronze, as lanças de freixo nas mãos, eles avançaram.
No último estágio, mesmo com esse peso de 30 quilos nas costas, as fileiras gregas puseram-se a correr, deixando os persas com a impressão de que tinham enlouquecido.
Milcíades, porém, não era doido. Essa corrida impediu que os arqueiros persas causassem muito estrago e, no combate corpo a corpo, os homens de Dario, usando escudos de vime, lanças curtas e nenhuma armadura, não eram páreo para os gregos.
Até a vantagem numérica tinha sido neutralizada: Milcíades tinha distribuído seus guerreiros de tal modo que, mesmo com menos homens, eles tinham uma linha de frente com a mesma largura da dos persas, que não tinham como contorná-los.
Funcionou, e um bocado bem. Mais de 6 mil persas morreram, e o restante foi perseguido até os navios. Nesse momento, no alto de uma montanha, um escudo polido refletiu a luz solar: era o sinal dos traidores em Atenas. A cavalaria de Artafernes, enfim, zarpou para a cidade. Não havia tempo a perder.
Os hoplitas atenienses correram de volta para casa, com tamanha gana que, quando Artafernes ancorou, deu de cara com os mesmos guerreiros vitoriosos em Maratona. Os traidores, na última hora, tinham desistido: as portas de Atenas continuavam trancadas. Dátis e Artafernes não tiveram remédio senão levantar âncora e retornar, já antecipando a fúria de Dario.