Responsável por evitar uma batalha sanguinária entre Israel e Egito, o homem foi considerado o maior espião do século 20 pelo The Guardian
Descrito como o anjo egípcio que salvou Israel pelo jornalista Uri Bar-Joseph, Ashraf Marwan nasceu no Cairo, Egito, porém fez sua carreira em Israel. Após se formar em engenharia química na universidade de sua cidade-natal, engajou-se com Mona Nasser, filha do presidente Gamal Abdel Nasser. O genro não apenas tratava-se de um rapaz educado e com uma boa origem familiar, mas alguém que, em pouco tempo, conquistou a confiança do político.
A aliança entre o chefe de estado e o ovem rapaz rendeu uma vaga no Gabinete Presidencial em 1968, no qual passaria por diversos cargos até 1976, representando o governo durante oito anos. Mesmo em uma posição sem destaque, suas habilidades de comunicação e o pensamento alinhado com o sogro davam a oportunidade de ser escalado para missões delicadas.
Com a morte de Gamal, em 1970, passou a ser o principal assessor do sucessor Anwar Sadat, chegando a ser um importante informante de uma tentativa de golpe dos partidários de Nasser, incluindo Sami Sharaf, contra o governo de Sadat. Com a confiança do novo presidente conquistada, passou a ser o encarregado pela relação do Egito com as lideranças da Arábia Saudita, da Líbia e, principalmente Israel.
Agente duplo
Em uma proposta financeiramente irrecusável e a garantia de amparo familiar, Ashraf foi convidado a ser um espião egípcio para a agência de inteligência israelense, a Mossad. O planejamento do grupo para chamar o homem-forte do governo egípcio era simples; prevendo uma guerra para retomar a Península do Sinai — conquistada por Israel em 1967 — Marwan seria essencial para fornecer informações na primeira classe do governo.
A previsão israelita foi concretizada em 1973, quando o exército egípcio declarou ordem de batalha, mas sem a eficiência do combate anterior, visto que Ashraf fornecia diretamente a primeira-ministra israelense, Golda Meir, e ao ministro da Defesa, Moshe Dayan, os planos de guerra egípcios completos, relatos detalhados de exercícios militares e documentações de reuniões e conversas de Sadat com outras diplomacias.
Com isso, Marwan não apenas evitou a surpresa completa, mas fez Israel ter uma vantagem bem maior, de maneira que os planos fossem elaborados com meticulosidade e menor violência. Ao retornar ao Egito, o assessor não apenas passou sem desconfiança, como foi promovido no ano seguinte ao cargo de Secretário do Presidente da República para as Relações Exteriores. Teve uma saída conturbada pela amizade com Sadat, que foi pressionado com a justificativa de que Marwan enriqueceu de maneira incompatível no governo.
Fim desconfiante
Sadat acabou assassinado em outubro de 1981, motivando Ashraf a sair do Egito. Se mudou para Londres, onde acumulou uma fortuna especulada em bilhões de euros, chegando a ser o principal acionista do clube de futebol Chelsea em 1995. Passou a atuar como conselheiro da Mossad em paralelo a suas ações como empresário até 1998, mas não teve a identidade revelada até 2002, quando o historiador israelense Ahron Bregman tornou pública sua atuação na Inteligência Militar de Israel.
Em 27 de junho de 2007, no entanto, foi encontrado morto no jardim de seu apartamento em Carlton House Terrace, em Londres, já sem vida após a ruptura de uma artéria. Com o falecimento inicialmente atribuído a uma queda acidental em sua varanda, a Polícia Metropolitana passou a investigar curiosos fatos relacionados ao seu falecimento.
Uma testemunha, no terceiro andar de um prédio próximo, afirmou ter visualizado uma movimentação em seu apartamento logo após a queda, com dois homens vestindo ternos e “de aparência mediterrânea”. A pista-chave para um possível assassinato seria o sumiço dos sapatos de Ashraf durante as investigações, visto que poderiam apontar se a queda foi acidental ou induzida.
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