Entenda por que o pequeno animal não conseguiu excretar a massa de cocô compacta
A história de um lagarto que bateu o recorde de proporção de corpo para cocô surpreendeu cientistas em 2020. O pequeno animal estava em uma situação tão precária que seus órgãos estavam comprimidos e foram atrofiados devido à quantidade de massa fecal.
Tudo começou quando a pesquisadora Natalie Claunch, então doutoranda na Escola de Recursos Naturais e Meio Ambiente da Universidade da Flórida, encontrou o lagarto perto de uma pizzaria em Cocoa Beach, na Flórida, nos Estados Unidos.
A localização da descoberta do animal, que estava em formato quase de uma pêra, é extremamente importante. Enquanto ele se alimentava nas proximidades em sua dieta natural, que incluía insetos e pequenos répteis, acabou engolindo algo que não deveria.
Ao longo do tempo, o bicho ingeria, junto aos alimentos, partículas de areia encharcadas de gordura — provavelmente vestígios de pizza, ou de ingredientes usados em sua preparação, visto que ele foi encontrado perto de uma pizzaria.
O resultado disso foi um caroço muito denso, formado por uma massa arenosa muito pesada, que se tornou incapaz de excretar. Quanto mais ele comia, maior ficava a bola de cocô, causando a pior constipação já registrada no mundo animal.
As conclusões dos pesquisadores sobre o pequeno lagarto de cauda encaracolada do norte, da espécie Leiocephalus carinatus, foram publicadas na revista científica Herpetological Review em março do ano passado.
Quando Claunch descobriu o lagarto, chegou a suspeitar que o animal estivesse esperando filhotes, por se tratar de uma fêmea. No entanto, logo reconheceu que a barriga distendida não era causada pelo aglomerado de ovos, mas sim pelo enorme bolo fecal.
"Quando o capturamos, assumimos que o animal [uma fêmea] estava pronto para pôr ovos", escreveu a pesquisadora em uma nota publicada pelo site do Museu da Flórida. "Mas quando fomos procurá-los, parecia que ele estava cheio de massinha."
"Os ovos parecem grandes jujubas e você pode senti-los individualmente", explicou ao portal Live Science. "[Mas] era uma massa semissólida semelhante a uma massa de vidraceiro."
A situação deixou os cientistas apreensivos. "Eu estava preocupado que, a menos que fosse cuidadoso, poderia estourá-lo", contou Edward Stanley, cientista associado do Departamento de Herpetologia do Museu de História Natural da Flórida.
O especialista foi responsável pelos exames de tomografia computadorizada de raios-X (TC) no animal, em que foi possível até mesmo observar a massa fecal, de tão densa que ela era. Stanley disse que estava "um pouco nervoso porque [o corpo] estava muito cheio".
No entanto, nem todo cuidado do mundo poderia salvar o pequeno lagarto. Os pesquisadores foram incapazes de excretar a massa arenosa compacta de dentro do corpo e ele foi humanamente sacrificado, como relatou o estudo.
Não havia mais espaço para que o animal comesse qualquer coisa e ele estava lentamente passando fome. Além disso, seus órgãos internos, como ovários e fígados, foram atrofiados porque foram totalmente comprimidos pelo enorme bolo fecal.
Com um peso de 28 gramas, somente a massa de fezes dentro do lagarto pesava 22 gramas. Isso significa que só o bolo fecal era 78,5% do peso total do pequeno animal, o que foi um número recorde, segundo os cientistas.
Eles escreveram que esta foi "a maior proporção entre fezes e massa corporal registrada em um animal vivo".
A fins de comparação, uma píton birmanesa, da espécie Python bivittatus, por exemplo, foi capaz de produzir uma massa fecal que representa 13% do seu peso corporal, sendo esta uma cobra conhecida por digerir refeições gigantes e excretar grandes massas fecais.