Missivas datadas de 1777 detalhavam a Espanha no final do século 18 e podem ter sido deixadas em 'cápsula do tempo'
Publicado em 17/04/2024, às 19h00 - Atualizado em 18/04/2024, às 18h50
Situada no município de Burgos, no norte da Espanha, a Igreja de Santa Águeda foi construída em meados do século 11, mas passou por modificações ao longo dos séculos seguintes.
Vale ressaltar que a Igreja que existe lá não é a mesma da época, embora nada apague sua história e também sua importância para a região. Tanto é que, em 2017, pesquisadores descobriram uma espécie 'cápsula do tempo' que ficou escondida por centenas de anos numa parte inusitada de uma estátua do local. Relembre!
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Conforme repercutido pela National Geographic em 2017, a Igreja de Santa Águeda possui uma estátua de Jesus Cristo durante a crucificação. No entanto, a imagem começou a apresentar rachaduras e começou a se soltar da cruz.
Ao restaurar a estátua do século 18, em 2017, historiadores espanhóis encontraram o que aparentava ser uma cápsula do tempo. O que chamou a atenção foi a parte improvável em que ela estava escondida: nas nádegas da peça.
Então preservacionista do grupo Da Vinci Restauro, com sede em Madrid, Gemma Ramírez foi uma das profissionais que trabalhou para manter a estátua em boas condições.
Ramírez explicou que, ao levantar a estátua sobre uma mesa de trabalho, logo a equipe percebeu, pela primeira vez, que havia algo dentro.
Quando removeram uma parte da figura, a preservacionista e sua equipe descobriram que possuía um fundo oco, assim preservando documentos que detalhavam a vida na Espanha no final do século 18.
As duas cartas manuscritas, já amareladas com o tempo, são datadas de 1777. As missivas foram assinadas por Joaquín Mínguez — então capelão da catedral do Burgo. Nelas, traçava um retrato da atividade econômica e cultural cotidiana da região.
De acordo com o capelão, a estátua foi criada por um homem chamado Manuel Bal, responsável por criar outras imagens semelhantes, de madeira, que estavam espalhadas por outras igrejas da região.
Nas cartas, Joaquín Mínguez descreve as colheitas bem-sucedidas de diversos tipos de grãos, como trigo, centeio, aveia e cevada, e também das reservas de vinho. Mas nem tudo era promissor, visto que também citava que doenças como a febre tifoide assolavam a aldeia — que tinha atividades com carteados e bolas como entretenimento.
Além da vida na região, Mínguez também fez um panorama do clima político da Espanha governada pelo rei Carlos III, cuja corte estava estabelecida em Madrid. A missiva também cita a Inquisição Espanhola, que durou de 1478 a 1834.
Para o historiador Efren Arroyo, em entrevista para o espanhol El Mundo, a natureza geral e abrangente dos documentos mostram que ele, muito provavelmente, pretendia que as cartas servissem como uma espécie de 'cápsula do tempo' para as gerações futuras. Arroyo também acrescentou que é incomum que artefatos sejam encontrados dentro de estátuas em igrejas.
Por fim, as cartas foram restauradas e enviadas para o Arcebispo de Burgos; que arquivou os documentos. Além disso, uma cópia das missivas foi feita e colocada de volta nas nádegas da estátua, para preservar a vontade de Joaquín Mínguez.