No centro de São Paulo, o endereço marcante chega a ser citado em lendária composição de Caetano Veloso
Arquivo Aventuras na História (2015) Publicado em 14/05/2022, às 08h00 - Atualizado em 24/01/2023, às 08h00
Entre as décadas de 1940 e 1950, a Avenida São João, no centro de São Paulo, foi um dos cartões-postais da metrópole; sua imagem refletia o que a cidade tinha de melhor: prosperidade, modernidade e efervescência cultural, em um cenário elegante e organizado.
Para coroar a comparação que se costumava fazer com a Quinta Avenida de Nova York, em 1947 foi inaugurado o Edifício Altino Arantes, inspirado no Empire State Building. Com 40 andares, o Altino Arantes (mais conhecido como prédio do Banespa) foi o mais alto da cidade na época.
O grande boom da avenida aconteceu no início do século 20. Até então, tratava-se de uma rua estreita, conhecida como Ladeira do Açu, que tinha início no Largo do Rosário, com coqueiros, bambuzais, botequins, velhas quitandas e, agrupados em torno do Teatro Polytheama, fogareiros de lata de querosene nos quais assavam-se castanhas.
Havia também o Mercado do Açu, estrutura pré-moldada de aço, importada da Bélgica, sob a qual reuniam-se comerciantes vindos de todas as partes do Brasil. Derrubado em 1914, o centro comercial deu lugar às praças do Correio e Pedro Lessa.
Os negociantes foram transferidos ao Viaduto Santa Efigênia. Tanto movimento, e o descuido das autoridades, tornava a Ladeira do Açu um lugar insalubre e perigoso. E isso, curiosamente, provocaria uma mudança importante na história do lugar.
As pessoas que atravessavam o Vale do Anhangabaú para chegar até ali carregavam uma imagem de São João Batista para se proteger. Daí para a via passar a ser chamada de Rua São João Batista foi um pulo.
O loteamento da chácara do comendador Antônio de Sousa Barros deu início à urbanização. A via foi alargada e só então começaram a surgir os prédios. Em 1920, o Palácio dos Correios, a primeira obra imponente do local; em 1929, o Edifício Martinelli, inicialmente com 12 andares, depois esticados para 30 pavimentos.
Os bondes elétricos, que chegaram à cidade em 1900, estimularam a vida noturna na Avenida São João. Ao lado do Polytheama – que recebeu a atriz francesa Sarah Bernhardt –, o Cassino Paulista, não dedicado exclusivamente ao jogo, abrigava um café-concerto com exposições, música e números de dança.
Como os franceses estavam em alta, o cancã atraía principalmente homens de todas as partes do país. Com o incêndio do cassino e do Teatro Bijou em 1914, o clima Moulin Rouge foi incorporado pelo Salão e Confeitaria Marabá, que em 1948 virou Bar Brahma, frequentado por artistas como Adoniran Barbosa.