Em Munique, a família de Alice Frank Stock dividiu paredes com o líder nazista, em uma convivência de constante medo e tensão
No número 16 da avenida Prinzregentplatz, em Munique, na Alemanha, estava um edifício de apartamentos. Ele poderia ser o mais comum possível, no entanto, quem habitava o aposento 13 ou 15 era Adolf Hitler. Do lado dele, vivia uma família judia. Por mais que essa mistura não pudesse funcionar, eles nunca chegaram a conversar.
Tudo isso foi contado por Alice Frank Stock, que hoje tem 101 anos e que, durante as décadas de 1920 e 1930 viveu a poucos metros da figura histórica que causaria um sofrimento terrível para seu povo. Judia, a mulher passou anos morando ao lado do nazista, acompanhando sua rotina.
Nascida em Augsburg, ela se mudou para a capital da Bavária com apenas três meses de idade, em 1918. No edifício que dividia com Hitler, viveu até seus 17 anos, quando foi enviada para estudar na cidade de Lausanne, Suíça. Naquela época, o perigo para judeus aumentava cada vez mais na Alemanha.
Convivência com o inimigo
Em entrevista ao jornal britânico Daily Mail, Stock afirma que não chegou a ter contato direto com Hitler. Eles poderiam até se ver, mas não tinham nenhum contato pessoal. “Morávamos em uma casa — uma casa grande — e havia duas entradas. Um era nosso apartamento, o número 14 — o outro era o número 13 ou 15. Era onde Hitler morava”, disse.
“Eu nunca falei com ele. Eu o vi uma ou duas vezes voltando para casa. Seu carro iria parar, dois homens da SS pulariam de cada lado e ele correria para a casa — obviamente aterrorizado com alguém que tentasse matá-lo”, explicou a aposentada.
Hitler havia se mudado para o apartamento em 1929 e, inclusive, a poucos metros da família judia, estava também o local de nascimento do Partido Nazista. O líder chegou até mesmo a deixar o edifício antes deles: em 1934, o Führer se mudou do prédio para se tornar Chanceler; três anos depois, os Stock fugiram para Londres pouco antes do início da Segunda Guerra Mundial.
Durante o período que eles viveram, de fato, no mesmo quarteirão, inúmeros rumores corriam pelos corredores do bloco. Alice disse que chegou a ver um caixão saindo da casa do nazista em algum momento, mas que era muito difícil conseguir qualquer informação sobre o que se passava ali perto.
“Ouvimos muitos [boatos], da cozinheira e de outros. Vimos um caixão sendo carregado para fora da entrada. Acho que uma sobrinha de Hitler estava morando lá e depois morreu. Especulou-se como e quando ela morreu” afirmou.
Mas ela também explica: “Acho que era verdade que o caixão foi carregado e nele havia uma mulher. Mas nunca houve confirmação — e você não podia falar abertamente”. O caso em questão foi o possível relacionamento de Hitler com sua sobrinha, Geli Raubal, que, de fato, cometeu suicídio dentro do apartamento.
Medo constante
Com isso, é possível perceber que, por mais que a convivência fosse “pacífica”, havia ainda algum clima de tensão no ar. Mesmo que Hitler não soubesse que na parede ao lado estava uma família judia, seus membros ainda tinham que ter o maior cuidado possível e não expor-se demais.
A aposentada de 101 anos disse que eles viviam constantemente com medo das represálias, embora o líder ainda estivesse no começo de sua carreira e não os visse, de fato. Ela contou que uma vez, sua cozinheira quase colocou tudo à perder apenas ao falar mais alto que o normal.
“Tínhamos uma cozinheira maravilhosa que era idosa e muito católica — e muito anti-Hitler. Uma vez ela saiu e viu uma foto de Hitler pendurada na parede e disse: ‘Sim, ele deveria ser enforcado, o canalha — mas não assim!'. Eu disse: ‘Você vai colocar todos nós em um campo de concentração!’”, explicou.
Felizmente, a família não sofreu com nenhuma retaliação vinda do líder nazista. A convivência era cheia de nervosismo — apenas para os Stock, e provavelmente foi um alívio ver o homem deixar o local em 1934. Ainda que tivesse o apartamento, o nazista preferia passar seu tempo em outras cidades, visitando o prédio em questão com pouca frequência.
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