A primeira mulher matemática da história teve um triste fim, ao ser morta por fundamentalistas cristãos
Hipátia de Alexandria é considerada a primeira mulher matemática, da qual a humanidade tem registros. Filha de Theon, que era matemático, filósofo e astrônomo, a garota defendeu o racionalismo científico grego e despertou a fúria de fundamentalistas cristãos. Como resultado, teve sua vida ceifada em um assassinato brutal.
Acontece que Hipátia foi acusada de ser anti-cristã e cometer blasfêmia. Isso pois o racionalismo científico não era visto com bons olhos no século 4. A matemática, no entanto, nunca declarou ter aversão ao cristianismo. Hipátia dava aulas, inclusive, para pessoas de diversas crenças religiosas.
Paganismo x Cristianismo
Embora a causa direta da morte de Hipátia ainda esteja envolvida em muito mistério, uma das hipóteses principais para explicá-la é que a mulher ficou no meio de um conflito entre pagãos e cristãos.
No século 4, houve uma enorme transição que mudou o funcionamento do Império Romano. O Estado deixou de ser totalmente pagão, e passou a ser um misto entre pagão e cristão.
Conflitos e disputas surgiram, inevitavelmente. E Alexandria, no Egito, foi palco para essa confusão. Isso pois era lá que pagãos, judeus e cristãos compartilhavam o mesmo espaço. Uma enorme batalha por Alexandria assim começou, envolvendo o prefeito da região e o bispo da Igreja.
De um lado, estava o prefeito imperial de Alexandria, Orestes, um cristão tolerante com os demais grupos não-cristãos; de outro, havia o bispo da igreja de Alexandria, chamado Cirilo. O religioso não era nada tolerante, tanto que, logo após assumir seu cargo, fechou à força um grupo cristão considerado herege.
Os dois, o prefeito e o bispo, acabaram travando uma grandiosa batalha. Como Hipátia era amiga de Orestes, ela acabou se prejudicando fatalmente por isso.
Mal entendidos
Hipátia era considerada uma mulher pagã. Rumores começaram a circular que ela seria uma má influência para Orestes, que era cristão tolerante. Segundo muito se falava, a relação dele com Hipátia seria o que o estaria impedindo de se converter em um "verdadeiro cristão".
Os conhecimentos astronômicos da mulher pioraram ainda mais a situação. Isso pois a astronomia era decisiva para calcular a data da Semana Santa. Como os cálculos de Hipátia não foram de encontro com uma data anunciada pelo bispo Cirilo, aquilo foi considerado uma afronta à igreja.
A emboscada
Há inúmeras versões para como Hipátia faleceu. A mais aceita é a apresentada pelo historiador inglês Edward Gibbon, na coletânea O Declínio e a Queda do Império Romano, publicada em 1776 e 1778.
Segundo os livros, a morte ocorreu entre 415 e 416, em Alexandria. Era manhã de quaresma, quando Hipátia foi atacada na rua. Ela estava voltando para casa em uma carruagem.
A mulher foi retirada a força do veículo, arrastada até uma igreja e despida. Não se sabe se ela foi espancada até a morte ou se foi esfolada viva. A segunda versão é considerada a mais provável: as pessoas não só arrancaram as roupas dela, como também seus cabelos, braços e pernas. Em seguida, o que sobrou do cadáver foi queimado.
A fogueira com os restos mortais de Hipátia ardeu em uma simulação perturbadora de um sacrifício animal para um deus pagão. Seria uma espécie de vingança de seus perseguidores.
Mas, mal sabiam eles que, anos mais tarde, Hipátia seria considerada memorável. A mulher é reconhecida por seu trabalho importante na ciência, que inclui a criação de um método eficiente para fazer grandes divisões e a criação do astrolábio, uma espécie de calculadora astronômica usada até o século 19.
Além disso, Hipátia criou o hidroscópio, um objeto para medir líquidos, que ela foi consultada para projetar. Atuando na matemática, ela ainda desenvolveu estudos sobre a aritmética de Diofanto de Alexandria, matemático grego considerado o pai da álgebra. Foi uma verdadeira mártir da ciência.
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