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Matérias / Personagem

Perdido no Alasca: a tragédia documentada de Carl McCunn

Em seu diário, o fotógrafo alemão narrou cada dia da experiência angustiante que viveu no meio do nada, sozinho e com frio

Pamela Malva Publicado em 27/07/2020, às 12h30

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Fotografia do explorador Carl McCunn - Divulgação
Fotografia do explorador Carl McCunn - Divulgação

Se a falta de comunicação pode ser um problema em algumas situações, para Carl McCunn ela foi terrivelmente fatal. Explorador e aventureiro, ele vivia sua vida ao extremo e sequer percebeu quando cometeu alguns erros decisivos.

“Eu realmente me sinto um idiota!”, escreveu em seu diário, quando reparou a sequência de equívocos que culminaram em sua morte. Isolado no Alasca, ele esperava encontrar uma aventura, mas se deparou com algo muito pior.

Apaixonado por fotografia, Carl planejava fotografar a vida selvagem quando se isolou do mundo. Por meses, no entanto, ele teve muito mais contato com a natureza do que desejava e, em pouco tempo, ficou à mercê do clima frio e da neve cortante.

Do mundo para o isolamento

Nascido na Alemanha, Carl seguiu os passos do pai quando se alistou na Marinha dos Estados Unidos. Ele serviu por quatro anos e voltou para casa, a fim de planejar a viagem de sua vida, em 1969. Saindo de Seattle, o aventureiro rumou até o Alasca.

Em 1970, Carl já estava estabelecido em Anchorage, mas ansiava por experiências ainda mais extremas e excitantes. Assim, em 1981, contratou um piloto de avião e viajou até um lago sem nome, a 360 km da cidade mais próxima.

Com o sol sobre sua cabeça, a neve sob seus pés e grandes casacos térmicos, ele pensava ter encontrado sua vocação. Em teoria, o plano era simples: fotografar a vida selvagem do lugar remoto por cerca de 5 meses. Mas tudo logo saiu do controle.

Imagem meramente ilustrativa de Anchorage, onde Carl morou por anos / Crédito: Wikimedia Commons

Passagem de volta

Ao desembarcar do pequeno avião, Carl lembrava de ter pedido que o piloto retornasse em agosto. Confiante e bastante ansioso, ele colocou os pés na beirada do lago e conferiu seus pertences: 500 rolos de filme, 640 kg de alimentos provisões, dois rifles e uma espingarda. Cinco caixas de cartuchos da arma foram descartadas ali mesmo.

O tempo passou, Carl vivia seus dias fotografando, explorando, se divertindo. Agosto, no entanto, chegou como um piscar de olhos e, na data marcada, o piloto contratado não apareceu. "Acho que deveria ter usado mais perspicácia para organizar minha partida”, o aventureiro escreveu em seu diário. “Logo descobrirei.”

Ficou claro, mais tarde, que o acordo do retorno nunca realmente foi combinado com o piloto. Muito pelo contrário, o aviador afirmou, durante as negociações, que Carl não poderia contar com ele para voltar, já que outro trabalho estava marcado.

Imagem meramente ilustrativa de Anchorage, no Alasca / Crédito: Wikimedia Commons

Tempo perdido

Na metade de agosto, Carl finalmente compreendeu seu erro e percebeu que ficaria naquela área por bastante tempo — bem mais que o esperado. Em seu diário, ele demonstrava esperança: seus amigos e familiares procurariam por ele em poucos dias.

Em suas casas quentes, com cobertores e uma rotina corrida, nenhum deles, contudo, estranhou o sumiço de Carl. Apesar dos mapas enviados para seu pai e alguns amigos, todos sabiam que ele era um grande aventureiro e que deveria estar se embrenhando em alguma mata misteriosa naquele exato momento, sorrindo para os pássaros.

Eventualmente, sozinho no meio do nada, Carl viu um avião da polícia estadual sobrevoando seu acampamento. Ele acenou para os oficiais e acompanhou a pequena aeronave voando para longe. “Acontece que aquele era o sinal para 'tudo ok. Não espere!’ Certamente é minha culpa que eu estou aqui agora”, escreveu o fotógrafo.

Imagem meramente ilustrativa de montanhas no Alasca / Crédito: Wikimedia Commons

Perdendo as esperanças

Após semanas sozinho, isolado do resto do mundo, ele começou a caçar pequenos animais que poderia comer. No meio do mato, no entanto, Carl não era o único indivíduo buscando comida: ele dividia o espaço com raposas ferozes e lobos famintos.

Já em novembro, Carl ficou sem um grão de comida. No dia 26 daquele mês, relatou tonturas e calafrios constantes. As condições estavam ficando piores conforme o tempo passava e ele já não tinha mais tantas esperanças.

"Eles dizem que não dói", o homem escreveu, antes de atirar em si mesmo com o rifle. Uma nota foi deixada para os familiares, junto de sua carteira de motorista. O corpo de Carl foi encontrado apenas em fevereiro de 1982. Ao lado do cadáver congelado, o diário de 100 páginas narrava cada minuto da experiência traumática e angustiante.


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