Uma pesquisa recente identificou o mais antigo exemplar de parasita fúngico em formigas, que apoderou-se do animal de uma maneira muito peculiar
No começo do mês, um estudo impressionante foi publicado na revista científica internacional Fungal Biology. Cientistas foram responsáveis por identificar um antigo fungo parasita saindo do reto de uma formiga fossilizada.
Como repercutiu o portal Livescience, a pesquisa foi feita no âmbar que conservou as duas diferentes espécies por pelo menos 50 milhões de anos. Com a morte causada pela infecção fúngica, a formiga foi preservada pela resina de uma árvore e está visível até os dias de hoje, sendo objeto desse novo estudo.
Os pesquisadores George Poinar e Yves-Marie Maltier foram os autores da pesquisa que divulgou à comunidade científica as considerações feitas ao longo da investigação. Trata-se do mais antigo exemplar de um parasita fúngico descoberto em formigas.
George Poinar é um entomologista da Universidade Estadual de Oregon conhecido por suas pesquisas relacionadas à extração de DNA de insetos de seres preservados em âmbar. Ele foi um dos responsáveis pelo recente estudo.
Para o portal Sci-News, o pesquisador explicou o motivo pelo qual tal fungo foi encontrado no fóssil da formiga. Segundo ele, as formigas “são hospedeiras de uma série de parasitas intrigantes, alguns dos quais modificam o comportamento dos insetos para beneficiar o desenvolvimento e a dispersão dos parasitas”.
“As formigas carpinteiras parecem especialmente suscetíveis a fungos patógenos do gênero Ophiocordycep s , incluindo uma espécie que obriga as formigas infectadas a morder várias partes eretas das plantas antes de morrerem”, elucidou Poinar.
Embora as formigas tenham sido frequentemente hospedeiras de tais fungos, isso não quer dizer que cientistas já encontraram muitos espécimes infectados. O pesquisador apontou que "esses tipos de descobertas são extremamente raros" especialmente devido aos seus curtos ciclos de vida.
"A resina âmbar contém produtos químicos que fixam células e tecidos e também destrói micróbios associados que normalmente decomporiam as amostra”, afirmou o especialista, que ressaltou que “todos nós temos crescimento de fungos em nossos corpos”, o que possibilita tais descobertas.
Os fungos encontrados no reto da formiga foram classificados como novas espécies, nunca antes identificadas. Eles foram batizados de Allocordyceps baltica; sendo ‘Allocordyceps’, ‘novo gênero’ e ‘baltica’ em referência à região onde o âmbar foi encontrado, no Báltico. A infecção fúngica aconteceu há mais ou menos 50 milhões de anos.
Além de ser extremamente antigo, o fungo que já está extinto também se apoderou da formiga de uma maneira peculiar: por sua parte de trás. Poinar explicou que isso pode ter acontecido porque o fungo poderia manter o hospedeiro vivo por mais tempo, aumentando seus esporos distribuídos.
"O reto já está aberto, enquanto o fungo teria que penetrar na cápsula da cabeça para emergir através da cabeça. Isso teria permitido que a formiga sobrevivesse mais alguns dias, já que assim que o fungo entra na cabeça da formiga, ela morre”, explicou o pesquisador.
O cogumelo bulboso saía exatamente do reto da formiga, mas provavelmente se espalhou por todo seu corpo, o que “quase certamente” a levou à morte de uma maneira lenta e dolorosa, conforme o especialista.
"À medida que as hifas [os filamentos ramificados do micélio] se espalhavam pelo corpo, seria como um câncer, mas convertendo os tecidos em estágios fúngicos em vez de células cancerosas”, concluiu Poinar.