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Matérias / Suástica

Palácio da Redenção: Sede do governo paraibano teve ladrilhos com suástica por 60 anos

Em 1937, durante ascensão do nazismo, ladrilhos com suástica foram instalados no Palácio da Redenção por arquiteto com ligações com o fascismo italiano

Fabio Previdelli
por Fabio Previdelli
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Publicado em 11/08/2024, às 12h00

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Piso com suástica instalado no Palácio da Redenção - Divulgação/Arquivo/Jornal A União
Piso com suástica instalado no Palácio da Redenção - Divulgação/Arquivo/Jornal A União

O Palácio da Redenção, sede oficial do governo da Paraíba, foi construído em 1586. Em primeiro momento, o local foi usado para eventos especiais do governo, como receber chefes de outros estados brasileiros.

Ao longo, dos anos, porém, o palácio passou por uma série de reformas. A mais polêmica entre elas aconteceu na década de 1930: quando ladrilhos com suásticas foram instalados no local

A decoração remete, justamente, ao período da ascensão nazista. Mas apesar do significado dos ladrilhos, o piso só foi retirado após quase 60 anos, durante o governo de Antônio Mariz, em 1995. Entenda!

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Suástica em pisos

Ao longo dos seus mais de 400 anos de existência, o Palácio da Redenção passou por uma série de reformas. Em 1937, por exemplo, durante a gestão de Argemiro de Figueiredo, ladrilhos com a suástica foram instalados no local. 

Conforme aponta matéria publicada pelo g1, historiadores apontam que Figueiredo governou sob influência da ideologia nazifascista. Além disso, o arquiteto responsável pela instalação tinha relações com o fascismo italiano. 

Em 'Os Italianos na Paraíba', o historiador José Octávio de Arruda Melo aponta que a instalação do piso foi solicitada pelo governador e que o arquiteto Márcio de Lascio presenciou a reforma em questão. Na primeira versão da obra, Melo apontou que os símbolos seriam suásticas gregas, mas na nova edição do livro, o autor reconhece que os fatos não permitem essa vertente. 

Um exemplo seria o arquiteto que instalou o piso, Giovanni Gioia, quem o pesquisador destaca como participante da ala militante do fascismo italiano na Paraíba. Gioia participava de grupos que transmitia as ideias de Benito Mussolini

Fato curioso sobre os pisos, e que pode ter gerado a confusão inicial em Melo, é que as suásticas não foram instaladas em um ângulo de 45º — como o símbolo nazista, usurpado de civilizações antigas, costumava ser retratado. 

+ Relembre o período em que a suástica nazista esteve 'na moda' entre os punks

Porque ela não está em um ângulo de 45° eu não tenho ideia, pode ter sido algum problema arquitetônico, talvez os azulejos não se encaixassem", disse a historiadora Loyvia Almeida ao g1. 

Almeida defendeu que o símbolo era uma referência ao nazismo porque o símbolo estava em ascensão no mundo durante esse período, incluindo o Brasil. 

Por outro lado, a pesquisadora destacou que não é possível afirmar que Argemiro de Figueiredo tinha ligações diretas com os nazistas, mas aponta que ele possuía "certa simpatia" pela doutrina de Adolf Hitler. "A influência era inegável, afinal o nazi-fascismo estava 'na moda'", afirma. 

Em sua dissertação de mestrado, apresentada para a Universidade Federal da Paraíba, em 2017, Loyvia aponta que a gestão de Argemiro de Figueiredo sofreu influências nazifascistas em seus discursos e também em características administrativas — como a fomentação pelo cultivo de algodão, visto que os alemães eram grandes compradores da safra paraibana. 

Essa parceria comercial, inclusive, teria ocasionado a visita de representantes do Terceiro Reich ao estado brasileiro, conforme divulgado pelo Jornal A Voz da Borborema, em 27 de novembro de 1937, que repercute a visita dos alemães para tratar de questões comerciais.

A retirada dos ladrilhos

Apesar de seu significado, os ladrilhos ficaram instalados no Palácio da Redenção por cerca de seis décadas. Só sendo retirados pelo governador Antônio Mariz em fevereiro de 1995. O jornal da Paraíba explicou que a retirada foi liberada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado da Paraíba (Iphaep) e realizada pela Superintendência de Obras do Plano de Desenvolvimento do Estado (Suplan).

O processo ocorreu na tarde de 13 de fevereiro, sendo registrado pelo jornal no dia seguinte. O veículo informou que o piso decorativo foi retirado, pois o governador aponta que ele não pertence à composição original do Palácio. 

Já no dia 17, em entrevista ao programa de rádio 'A Voz da Cidadania', Mariz falou sobre a retirada dos cerca de 90 metros de mosaicos com suásticas, apontando que "o Palácio da Redenção não pode ser vitrine de nenhum pensamento ideológico".

O então governador, ainda na entrevista, classificou o governo de Adolf Hitler como um período "nefasto" da história da humanidade, ressaltando que não daria vazão a manifestações nazistas. 

Por fim, Antônio Mariz também acrescentou que a decisão de retirada dos ladrilhos foi uma escolha pessoal, visto que não se sentia confortável ao entrar no Palácio da Redenção e ver o símbolo nazista espalhado pelo piso que dá acesso ao seu gabinete. 

Em fevereiro daquele ano, o Jornal da Paraíba relatou que o piso seria levado para exposição no Museu do Estado, que nunca foi criado. Desde então, eles estão guardados na sede da Suplan.