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Matérias / Futebol

Os 40 anos do roubo da taça Jules Rimet, símbolo da Copa do Mundo

Na noite de 19 de dezembro de 1983, a taça Jules Rimet foi roubada da sede da CBD, no Rio de Janeiro. Mesmo após 40 anos, troféu jamais foi encontrado

Fabio Previdelli
por Fabio Previdelli
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Publicado em 19/12/2020, às 00h00 - Atualizado às 10h11

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Gilmar, Vicente Feola e Belini com a taça da Copa do Mundo (1958) - Arquivo Nacional
Gilmar, Vicente Feola e Belini com a taça da Copa do Mundo (1958) - Arquivo Nacional

Em 1928, dois anos antes da primeira Copa do Mundo de Futebol, vencida pelo Uruguai, o Congresso da Fifa decidiu que a seleção campeã ganharia uma taça que representaria o título.

Na época, Jules Rimet, então presidente da entidade máxima do futebol, decidiu que o troféu seria feito em ouro e que sua posse definitiva ficaria com quem conquistasse primeiro três edições do torneio — algo que, até então, parecia surreal demais para acontecer.  

+ Copa do Mundo: Quem tem autorização para tocar no troféu?

No entanto, esse feito, considerado praticamente impossível pelo dirigente, foi realizado pelo Brasil em apenas 40 anos. Após os títulos seguidos de 1958 e 1962, a seleção canarinha superou a derrota em 1966 e se tornou tri mundial com um show de Pelé e companhia no México, em 1970.  

Pelé durante a Copa do Mundo de 1970 / Crédito: Divulgação/ Fifa

Sendo assim, a Jules Rimet, como a taça ficou conhecida, passou a ser exposta na sede da Confederação Brasileira de Desportos (CBD), na Rua Alfândega, 70, no centro do Rio de Janeiro. Por lá, o troféu ficou até a noite de 19 de dezembro de 1983, quando foi roubada há exatos 40 anos.  

A Jules Rimet, com uma base de pedras semipreciosas, pesava cerca de 3,8 quilos e media 35 centímetros de altura. Além de seu valor simbólico, não só futebolisticamente falando, ela representava uma grande honra e era motivo de orgulho para nação, além de ser avaliada em 18 milhões de cruzeiros. Relembre os dois roubos da taça!

Primeiro roubo

Apesar do roubo de 1983 ser o seu último e definitivo, afinal, a taça jamais foi recuperada, a Jules Rimet já havia passado por um episódio semelhante anos antes, em 1966, quando estava em exposição em Londres — quatro meses antes do mundial que seria realizado na própria Inglaterra.  

Sob a tutela do Brasil, a CBD (que mais tarde viria a ser a CBF) concordou em exibir o troféu em uma exposição de selos. Apesar do grande esquema de segurança, o troféu foi furtado. No momento do episódio, ao menos dois vigilantes faziam ronda na área da exposição, mesmo assim, pela manhã, eles não se depararam com nada suspeito e acabaram sendo rendidos pelos bandidos.  

O desaparecimento levou investigadores da Scotland Yard a uma incessante caçada. Na época, um homem, identificado apenas como Jackson, chegou a fazer um pedido de resgate pela taça: ele queria 15 mil euros em notas de 1 e 5, ameaçando derreter o troféu caso o dinheiro não lhe fosse pago. 

Concordando em recompensá-lo, a polícia encheu uma mala com jornais, que foram cobertos com uma camada de notas de 5 euros. Tudo não passava de uma isca para prendê-lo; o que funcionou.

Pickles, o cachorro que encontrou a Jules Rimet / Crédito: Divulgação

Jackson, que era, na verdade, Edwar Betchley, ex-soldado de 46 anos, ainda estava sendo interrogado pela polícia quando a Jules Rimet foi encontrada — sete dias após o roubo —, por um cachorro mestiço chamado Pickles, que a encontrou embrulhada num jornal em um jardim de um bairro no subúrbio de Londres.  

O cão virou estrela mundial, participando de programas de televisão e filmes, chegando a ter seu próprio agente. Já Edwar disse que era apenas um intermediário de um ladrão chamado "The Pole". Porém, o suposto criminoso jamais foi encontrado. Betchley morreu em 1969, dois anos depois de ser preso por extorsão.  

Um fato curioso do primeiro roubo é que, segundo o livro 'Day of the Match', um assessor da CBD disse que este era um sacrilégio que jamais seria cometido no Brasil, onde até mesmo os ladrões eram apaixonados por futebol. Ele não poderia ter se equivocado mais.  

Roubo definitivo

Com o tri de 70, o Brasil passou a ter direito em ficar em definitivo com a Jules Rimet. Porém, em 1983, ela desapareceria novamente. Desta vez, para sempre. Na sede da CBD, o troféu ficava exposto em um caixa de vidro à prova de bala, que era pendurada na parede por uma moldura de madeira.  

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Mas isso não foi o suficiente, já que a caixa foi arrombada pelos ladrões. Ironicamente, enquanto a taça original estava em exposição, uma réplica sua era mantida protegida dentro de um cofre. Quem a roubou, tinha conhecimento não só disso, como de todo o funcionamento do prédio.  

O mandante do crime fora Sérgio Peralta, representante do Atlético Mineiro na CBD. Para o grande roubo, ele teve ajuda de dois comparsas: Chico Barbudo, experiente na compra e venda de ouro; e Luiz Bigode, amigo de Chico. Além deles, o ourives Juan Carlos Hernandez foi apontado como o responsável por derreter os troféus — além da Jules Rimet, outras três taças foram levadas.  

No dia seguinte ao roubo, em 20 de dezembro, começaram as investigações para recuperar um dos maiores símbolos do "orgulho nacional". Porém, apesar da força-tarefa, encontrar os responsáveis pelo crime parecia uma missão impossível, afinal, nenhuma das suspeitas se concretizava.  

Réplica da Jules Rimet / Crédito: Getty Images

Porém, tudo mudou quando Antônio Setta, conhecido como Broa, delatou Sérgio Peralta, que o havia convidado para o roubo — oferta essa que foi recusada por Setta. Apesar de, em um primeiro momento, a polícia não levar a sério a acusação, os agentes passaram a investigar Peralta depois de mais uma busca frustrada.  

Com isso, em 25 de janeiro de 1984, Sérgio acabou sendo preso. Porém, ele afirma que só confessou o crime por ter sido torturado pelos polícias, que também teriam agredido Luiz Bigode. Chico Barbudo não apanhou, mas alegou que os investigadores levaram cerca de 2,5 quilos de joias de ouro de sua casa.  

Em março de 1988, o trio foi julgado e condenado a 9 anos de prisão cada. Já Carlos Hernandez, pegou uma pena de três anos. No entanto, acabou fugindo para a França, em 1988, onde cumpriu sete anos de prisão por tráfico de drogas. Desde então, jamais foi visto novamente. 

Chico Barbudo, por sua vez, ganhou apelação de pena e estava em liberdade quando foi assassinado por cinco homens em 28 de setembro de 1989. Já Sérgio Peralta foi preso em 13 de julho de 1994, ganhando liberdade condicional em setembro de 1998. Ele morreu, de infarto, em agosto de 2003.

Luiz Bigode também foi encarcerado, ficando detido em Bangu até 1998. Por fim, Antônio 'Broa' Setta morreu no dia 3 de dezembro de 1985, em um acidente de carro perto da Lagoa Rodrigo de Freitas. Fato curioso é que o acidente ocorreu justo no dia que ele iria depor em uma audiência, o que fez com que muitos suspeitem que sua morte foi queima de arquivo.