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Matérias / Sudão

Operação Moisés: conheça o falso hotel usado para resgatar judeus no Sudão

O paradisíaco resort fazia parte do plano da agência de inteligência de Israel, que tinha o objetivo de salvar judeus em risco

Caio Tortamano Publicado em 06/09/2020, às 09h00

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Hotel do filme Missão no Mar Vermelho, baseado na Operação Moisés - Divulgação - Netflix
Hotel do filme Missão no Mar Vermelho, baseado na Operação Moisés - Divulgação - Netflix

O complexo turístico Arous, localizado no Sudão, era um dos mais bem localizados e luxuosos de seu tempo, às margens do Mar Vermelho, bem no meio de um deserto. O hotel prometia paisagens espetaculares à noite e de dia, já que a beleza do céu poderia ser contemplada quando escurecia e os recifes de coral do mar eram grandes atrativos.

O Arous Village era administrado por estrangeiros, especificamente europeus, que começaram um projeto turístico no país. Então era um empreendimento muito bem visto pelo governo sudanês. No entanto, não imaginavam que era uma farsa.

A aprovação do governo ajudava a executar o plano por trás do funcionamento do hotel, criado pela agência de inteligência de Israel, Mossad. A missão não era nada simples: deveriam esconder judeus da Etiópia que, anteriormente, estavam em campos de refugiados sudaneses. Eles seriam levados para Israel, onde poderiam recomeçar.

Sigilo e perseguição

No entanto, o plano poderia fracassar. Pensando nisso, apenas um número limitados de pessoas poderia saber dos bastidores. A história toda começou em 1977, quando um líder religioso da Etiópia, Ferede Aklum, fugiu para o Sudão depois de ter sido indicado como um agente antigovernamental.

Na época da acusasão, ele teria incentivado judeus seguidores de sua sinagoga a se mudarem para Israel. Após entrar em contato com o primeiro-ministro israelense, Menachem Begin, um movimento de imigração judaico começou a se proliferar. Com o objetivo de passarem despercebidos até Israel, deveriam atravessar o Sudão, que também era de maioria muçulmana. Uma missão quase impossível.

As primeiras imigrações foram realizadas com a ajuda de um avião, numa ponte entre a Etiópia, Europa e, finalmente, Israel. No entanto, no momento em que pessoas eram resgatadas com sucesso, muitos imploravam para também ter a chance de mudar de vida.

Visando o momento relativamente 'tranquilo' na política interna, sem guerras civis, encontraram no Mar Vermelho uma maneira eficiente de realizar os resgates. 

O hotel

Na procura de uma praia onde o embarque pudesse ser realizado, um agente do Mossad chamado Dani, que nunca teve o sobrenome revelado, foi responsável por elaborar um plano de fuga para esses judeus. Curiosamente, ele encontrou um antigo estabelecimento abandonado que um dia havia sido usado como hotel.

Sem nem pensar duas vezes, decidiram que usariam o estabelecimento de fachada, uma vez abandonado depois que os antigos proprietários tiveram problemas com autoridades do Sudão. Dani se apresentou, então, como um investidor da Europa, com uma sede inexistente na Suíça, afirmando que poderia reativar o comércio, chamando turistas e movimentando dinheiro.

O governo logo aceitou. O primeiro passo foi reformar o resort para sustentar a fachada, contratando até funcionários do Sudão — que não sabiam da verdadeira função do hotel. Na sala onde eram guardados equipamentos de mergulho ficavam equipamentos de rádio para que Dani se comunicasse com o governo de Israel e a Mossad.

A discrição era essencial para o resgate dos refugiados. Durante o dia, as atividades do hotel eram normais, mas à noite equipes específicas iam sem avisar até o campo onde os judeus se encontravam para serem levados numa viagem de três dias até Israel.

Grandes obstáculos

Na terceira operação, os judeus fugitivos foram avistados na praia por soldados do Sudão, que logo começaram a abrir fogo acreditando se tratar de contrabandistas. Por sorte, o bote que levaria os refugiados até um barco israelense não foi atingido. Da embarcação puderam seguir para Israel.

Todavia, o episódio deixou claro que seriam cada vez mais difíceis as missões aquáticas.  Dani elaborou um plano para levar os refugiados através de aviões. Assim, encontrou um aeroporto desativado construído na Segunda Guerra que não ficava longe do hotel. Uma oportunide única: em 1982, começou a realizar os voos. Mesmo com os obstáculos, realizaram 17 levas de estrangeiros judeus.

Avião chegando para levar refugiados da Etiópia / Crédito: Divulgação - Youtube

Quando a situação apertou, o governo dos Estados Unidos se intrometeu na missão chamada Operação Moisés, pagando para o presidente do Sudão, Jaafar Nimieri, permitir que os voos saíssem da capital Cartum para a Europa em total sigilo, agilizando todo o processo. 

Com isso, mais de 6.300 judeus foram para Israel com escala na Bélgica. O plano acabou sendo descoberto, e o governo de Nimieri foi deposto. Os agentes israelenses — ainda presos ao disfarce — corriam maior perigo. Com medo da existência de espiões, o resort foi esvaziado pelos funcionários israelenses numa missão realizada rapidamente.


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