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Matérias / Curiosidades

O que é um gasômetro?

O gás de carvão iluminou as cidades e moveu as fábricas da Era Industrial, e só terminou aposentado na segunda metade do século 20

Maria Carolina Cristianini Publicado em 25/07/2018, às 07h01 - Atualizado às 15h30

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Gasômetro Schöneberg construído em 1910, em Berlim - Reprodução
Gasômetro Schöneberg construído em 1910, em Berlim - Reprodução

Bem antes de Thomas Edison distribuir energia elétrica para parte de Nova York em 1882, o gás de carvão era sinônimo de iluminação. E iluminação era sinônimo da modernidade da Era Industrial – e suas novas agruras, a poluição, o cheiro, o barulho e as condições horrendas de trabalho.

Em 1792, o engenheiro da britânica Boulton and Watt William Murdock usou o próprio quintal para testes com carvão. Canalizou o gás até sua casa e a iluminou. A primeira exibição pública veio em 1802, em Soho, Londres, numa celebração da Boulton and Watt pela assinatura do Tratado de Amiens, encerrando as hostilidades entre a França revolucionária e o Reino Unido.

Complexo do Gasômetro, inaugurado em 1890, em São Paulo Wikimedia Commons

Vieram melhorias. Como a ideia de John Southern, colega de trabalho de Murdock, de armazenar o gás em um dispositivo (o gasômetro em si, que deu o nome popular para a usina inteira), o que possibilitou produção contínua. Nos Estados Unidos, a primeira usina de gás foi aberta em 1816. Na década de 1870, uma nova tecnologia surgiu, permitindo a produção de gás a partir de óleo e água. Com potencial melhor para iluminar, aquecer e cozinhar, a novidade fez alguns gasômetros se adaptarem entre 1880 e 1890.

Antigo Gasômetro de Londres foi transformado em um parque circular Reprodução

A iluminação elétrica não aposentou o gasômetro. Este continuou a servir casas e indústrias. Na década de 1930, a Grande Depressão levou muitos estabelecimentos a fechar as portas, começando a decadência. O fim veio com o crescimento do uso do gás natural, econômico e menos poluente. Na década de 1970, os gasômetros já estavam praticamente extintos.

O processo

Das minas, o carvão era transportado para fornos grandes e fechados, impedindo a entrada de ar – eram os fornos de retorta (1). Sem ar, o carvão aquecido não queimava, mas perdia a umidade.

Ainda nas retortas, o processo de aquecimento já fazia com que moléculas orgânicas do carvão fossem quebradas em compostos menores, como o alcatrão. Durante o aquecimento do carvão, surgia um gás composto de metano, hidrogênio e dióxido de carbono – um inferno fedido para quem trabalhava ou morava perto.

O gás seguia para o condensador (2), onde era resfriado por um sistema de água. O processo gerava alcatrão e subprodutos, que fluíam para armazenamento.

Do condensador, o gás seguia para um depurador, onde a amônia era removida e drenada. Na sequência vinha o purificador (3), para que outras substâncias, como enxofre e cianeto, fossem retiradas.

O volume de gás era calculado na estação de medição antes da chegada ao gasômetro (4). Ali ficava um recipiente cilíndrico sobre um tanque cheio de água – para evitar vazamentos e manter a pressão do gás. Conforme o gás entrava pela parte inferior, a câmara cilíndrica se erguia e ia aumentando. Isso obrigava o gás a seguir para a distribuição.

Gasômetros brasileiros

A primeira cidade do nosso país a usar gás de carvão foi o Rio de Janeiro. A construção de uma fábrica começou em 1852 na atual Avenida Presidente Vargas. Com carvão importado da Inglaterra, a iluminação a gás foi inaugurada em 1854 pelo Barão de Mauá, com rede de 20 quilômetros de dutos de ferro. Há registros, entre 1894 e 1895, de ao menos outros 14 gasômetros em locais como Pernambuco, Pará, São Paulo e Rio Grande do Sul – operados por companhias britânicas. No Rio de Janeiro, a substituição pela energia elétrica começou na virada entre os séculos 19 e 20.