Durante muito tempo, o esqueleto permaneceu controverso: enquanto alguns afirmavam que ele era caucasiano, outros atestavam sua ancestralidade indígena
Quando um crânio foi percebido por dois jovens universitários em um terreno próximo do rio Columbia em Kennewick, Washington, nos EUA, a primeira reação foi chamar a polícia. O legista Floyd Johnson foi convocado e levado até o local, onde ficou intrigado com o que os estudantes haviam encontrado.
Não era possível dizer do que se tratava. Assim, logo em seguida, o arqueólogo James Chatters foi convidado pelo especialista para que ele pudesse dar mais uma olhada no local. Não foi ao acaso que ele foi chamado: Johnson imaginou que talvez aquilo pudesse ser mais antigo que parecia. Tudo isso aconteceu no dia 28 de julho de 1996.
O que eles não esperavam, porém, é que aquele crânio daria abertura para que eles desenterrassem mais 350 ossos e fragmentos do mesmo indivíduo, formando um esqueleto quase completo. A descoberta mostrou-se ainda mais importante após as análises de datação de carbono realizadas no corpo: ele tinha pelo menos 9 mil anos.
Homem de Kennewick
Chatters então começou a fazer exames nos ossos para conseguir entender mais sobre o indivíduo. Ele concluiu que aquele provavelmente era um homem que morreu entre os seus 40 a 55 anos, com 1,7m à 1,76 m de altura e “bastante musculoso com uma construção esguia”.
O pesquisador também investigou a possível etnia do homem, dizendo que ele tinha “presença de traços caucasianos [e uma] falta de características nativas americanas definitivas". Ele assumiu, portanto, que se tratava de um homem com características “caucasóides”, o que não necessariamente quer dizer branco ou europeu.
Conhecido posteriormente como o Homem de Kennewick, o esqueleto se tornou um dos mais importantes e controversos de todo os Estados Unidos. Muitos cientistas e até mesmo curiosos começaram a tecer argumentos sobre a raça do antigo indivíduo.
O que aflorou o debate ao seu nível quase máximo foram os pedidos de inúmeros grupos nativo-americanos de repatriação do corpo. Membros das nações afirmavam que aquele era um ancestral indígena e deveria ser enterrado a partir de um ritual característico de sua origem.
A controvérsia da raça
Conforme analisado por Chatters, o primeiro a investigar o esqueleto, faltavam "características definitivas da raça mongolóide clássica à qual pertencem os nativos americanos modernos". Para ele, muitos traços vistos no crânio "são definitivas dos povos caucasóides dos dias modernos”.
Durante muito tempo, a narrativa dos cientistas foi a de o homem não poderia estar ligado a nativos-americanos vivos, por ser um esqueleto muito antigo. Mas, em 2015, um laboratório dinamarquês chegou a uma conclusão mais definitiva que as anteriores. Eles afirmavam: "o Homem Kennewick está mais próximo dos nativos americanos modernos do que de qualquer outra população do mundo".
Os testes, portanto, apontavam que o indivíduo muito provavelmente possuía uma ancestralidade indígena. Ainda assim, percebia-se que o crânio do homem era diferente especialmente em relação ao formato de outros nativos americanos vivos.
Para resolver esse enigma, os pesquisadores Christoph Zollikofer e Marcia S. Ponce de Leon, da Universidade de Zurique, na Suíça, realizaram a continuação da pesquisa, comparando cabeças de inúmeros nativo-americanos. A conclusão foi a seguinte: a gama de formatos é muito grande, e o Homem Kennewick não está fora dela.
Durante o estudo, eles os cientistas perceberam ainda que o indivíduo tinha uma proximidade genética maior com o agrupamento nativo de Colville, mas, como não existem mais crânios do mesmo período para completar a análise, isso ainda permanece em aberto.
Como estava confirmado que o DNA do Homem Kennewick era nativo-americano, a Câmara e o Senado dos EUA cederam em setembro de 2016 aos pedidos das nações indígenas para que o esqueleto fosse enterrado conforme eles desejassem.
Os restos mortais do importante homem foram retirados do Museu Burke, em Seattle, nos EUA, em 17 de fevereiro de 2017 e já no dia seguinte foram enterrados com a presença de mais de 200 membros de grupos nativos-americanos do Platô de Columbia.
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