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Matérias / Crimes

Enigma de 90 anos: o desaparecimento de Joseph Force Crater

Após retornar forçadamente de suas férias, Crater chegou a Nova York para resolver alguns problemas. Entretanto, o caminho traçado pelo juiz é permeado de mistérios

Fabio Previdelli Publicado em 08/11/2020, às 11h00

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Manchete de jornal anunciando o desaparecimento de Joseph Force Crater - Arquivo Público
Manchete de jornal anunciando o desaparecimento de Joseph Force Crater - Arquivo Público

Nos Estados Unidos, quando se fala de desaparecimento de uma pessoa com poder político, logo o nome do juiz da Suprema Corte de Nova York, Joseph Force Crater, vem à cabeça. Em 1930, os americanos ficaram paralisados com o sumiço do sujeito sem deixar nenhum vestígio. O mistério é tanto que o caso se tornou um dos mais famosos do século passado. 

Seu desaparecimento tem todas as marcas de um clássico romance policial de sucesso. Em agosto daquele ano, ele estava no meio de férias de verão no Maine com sua esposa Stella, que conheceu quando fora contratado para representá-la durante um divórcio.  

Crater tinha acabado de ser nomeado juiz da Suprema Corte pelo então governador Franklin Roosevelt e corria aos ventos alguns rumores que sua indicação foi feita através do pagamento de uma quantia gorda de dólares. 

Joseph Force Crater / Crédito: Divulgação

O fato é que, no meio de sua viagem de descanso, Joseph recebeu uma ligação e disse abruptamente à sua esposa que precisaria voltar para Nova York para tratar de alguns negócios, mas que voltaria em breve. Sair de repente para trabalho não era uma prática incomum para um novo juiz ocupado.

Assim, ela não desconfiou de nada de diferente. Porém, aquela seria uma das últimas vezes que os dois se veriam. O caso permanece um mistério até hoje, com uma nova e intrigante pista desse quebra-cabeça aparecendo em 2005. 

Quem era Joseph Force Carter? 

O mais velho de quatro filhos dos imigrantes irlandeses Frank Ellsworth Crater e Leila Virginia Montague, Joseph Crater nasceu em Easton, Pensilvânia, em 5 de janeiro de 1889. Forcer foi educado no Lafayette College e na Columbia University. E também era membro da fraternidade Sigma Chi. 

Ao passar de um modesto escriturário a um advogado de sucesso, cultivou inúmeras conexões políticas em toda a cidade de Nova York. Em abril de 1930, o governador Franklin D. Roosevelt o nomeou para a bancada estadual, ignorando o candidato oficial apresentado pela poderosa e corrupta máquina política de Tammany Hall. 

Pouco depois de sair de férias, Crater recebeu um telefonema. Ele não ofereceu nenhuma informação à esposa sobre o conteúdo da ligação, a não ser dizer que precisava voltar a Nova York "para endireitar aqueles companheiros". 

No dia seguinte, chegou ao seu apartamento na Quinta Avenida, mas em vez de lidar com os negócios, ele seguiu para Atlantic City, em Nova Jersey, com sua amante, a showgirl Sally Lou Ritzi — que usava o nome artístico de Ritz

Joseph voltou ao Maine em 1º de agosto e viajou de volta a Nova York no dia 3. Antes de fazer esta viagem final, entretanto, ele prometeu à esposa que voltaria no próximo dia 9. Stella afirmou que o marido estava de bom humor e se comportando normalmente quando partiu para a cidade. 

Seu escrivão relatou, posteriormente, que na manhã de 6 de agosto, Crater destruiu vários documentos, transferiu várias pastas de papéis para seu apartamento na Quinta Avenida e providenciou o saque de 5.000 dólares de sua conta bancária (equivalente a cerca de $ 78.820 em dólares de 2019, mais de 430 mil reais). 

Naquela noite, ele saiu do escritório, comprou um ingresso para a comédia da Broadway “Dancing Partner” e foi jantar com Sally e seu amigo, o advogado William Klein, em um restaurante em Manhattan.  

Os dois deram diferentes relatos sobre a saída de Crater do restaurante. Klein inicialmente testemunhou que "o juiz entrou em um táxi em frente ao restaurante por volta das 21h30, que saiu para oeste na rua Quarenta e cinco". O relato foi inicialmente confirmado por Ritzi. Porém, mais tarde, eles mudaram sua história e disseram que entraram em um táxi do lado de fora do restaurante enquanto Crater caminhava pela rua. 

A repercussão do caso 

Não houve reação imediata ao desaparecimento de Crater. Quando ele não voltou ao Maine depois de dez dias, sua esposa começou a ligar para seus amigos em Nova York, perguntando se alguém o tinha visto. Somente quando Joseph não compareceu à abertura dos tribunais, em 25 de agosto, seus colegas juízes ficaram alarmados. Eles começaram uma busca particular, mas não encontraram nenhum vestígio dele. A polícia só foi finalmente notificada em 3 de setembro e, depois disso, o juiz desaparecido virou notícia de primeira página em diversos jornais. 

Jornal sobre o caso do desaparecimento / Crédito: Divulgação

Em outubro, um grande júri começou a examinar o caso, convocando 95 testemunhas, o que gerou um relatório de 975 páginas de inquérito. A conclusão foi que "as evidências eram insuficientes para justificar qualquer expressão de opinião sobre se Crater está vivo ou morto, ou se ele se ausentou voluntariamente, ou sofre de uma doença da natureza amnésica, ou até mesmo se era vítima de um crime”.  

Na época, surgiram algumas teorias de que Crater havia deixado a cidade com outra mulher ou fugido para evitar revelações de corrupção, mas a extensa publicidade do caso teria tornado impossível dele começar uma nova vida em outro lugar. 

Em 20 de janeiro de 1931, seis meses após seu desaparecimento, sua esposa encontrou envelopes contendo cheques, ações, títulos e uma nota do juiz em uma gaveta da cômoda que estava vazia quando revistada anteriormente pela polícia. A descoberta levou a uma série de pistas novas, mas definitivamente inconclusivas, e nenhum traço adicional foi encontrado. O caso foi oficialmente encerrado em 1979, quando, a pedido de sua esposa, Joseph Force Crater foi declarado legalmente morto. 

Pistas recentes 

Em 2005, a polícia de Nova York revelou que novas evidências surgiram no caso do desaparecimento. Uma mulher que morreu no início daquele ano deixou um bilhete manuscrito no qual afirmava que seu marido e vários outros homens, incluindo um policial, haviam assassinado Crater e enterrado seu corpo embaixo de um trecho do calçadão de Coney Island.  

Esse local foi escavado durante a construção do Aquário de Nova York na década de 1950, muito antes de existir tecnologia para detectar e identificar restos humanos. Como resultado, a questão de saber se o juiz Crater dorme junto aos peixes permanece um mistério.


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