Estudo do corpo feito por cientista tcheco teria sido distorcido
Um esqueleto de um guerreiro do século 10, encontrado dentro do Castelo de Praga, na capital da Tchéquia, fez com que cientistas soviéticos e nazistas passassem décadas bolando e testando novas teorias sobre suas possíveis origens, já que não havia sido identificado com fins ideológicos em mente.
Tendo sido encontrado deitado, o homem carregava uma espada feita de ferro e estava com a cabeça inclinada para a esquerda. Perto de uma de suas mãos havia um par de facas, que quase tocava seus dedos, e nos seus pés foram achados a cabeça de um machado de ferro e restos de um balde de madeira, visto como semelhante a vasos cerimoniais de vikings, segundo a BBC em reportagem de 2019.
A espada foi o item que mais chamou a atenção dos escavadores da época, mesmo após dez séculos, e segundo Jan Frolik, arqueólogo medievalista da Academia Tcheca de Ciências, há uma grande possibilidade que tenha sido fabricada na Europa Ocidental, o que daria suporte para possíveis teorias de que o sujeito havia sido um viking em vida, já que eram eles, presentes no Norte do continente europeu, que usavam instrumentos parecidos.
Jan especificou a relação dos objetos com os guerreiros nórdicos, mas também destacou que um martelo ainda não foi batido quanto a origem do esqueleto do guerreiro, durante seu depoimento à BBC:
A maioria de seus equipamentos é viking ou, pelo menos, semelhante aos usados pelos vikings. Mas sua nacionalidade ainda é uma questão aberta", disse.
Os restos mortais foram desenterrados em 1928, pelo arqueólogo ucraniano Ivan Borkovsky, que na época era um exilado da guerra civil na Rússia. Impedido de liderar os estudos e criar conclusões próprias, por ser apenas um assistente do chefe de arqueologia do Museu Nacional de Praga, não se ouviu o que pensava do achado.
Após a ocupação nazista do país em 1939, o esqueleto viraria ferramenta da narrativa alemã da pureza racial, alimentando propaganda da época.
Rapidamente foi assumido que o esqueleto do guerreiro pertencia a um viking nórdico, e portanto o corpo teria sido de um germânico, o que, por sua vez, sustentaria a tese de que os alemães estavam apenas ocupando terras que eram suas antigamente.
E Borkovsky, que havia sido impedido de liderar os estudos do corpo, teve seu trabalho editado por nazistas, que o publicaram após inserir conteúdos eugenistas e que justificavam demandas históricas dos alemães. Caso não aceitasse, o cientista possuía riscos de ser enviado para um campo de concentração.
Após o fim da Segunda Guerra Mundial, o trabalho de Ivan teria sofrido mais alterações, dessa vez pedidas pelas autoridades soviéticas, destacando que o esqueleto foi visto como de um viking apenas depois da edição feita pelos nazistas, e adotando a teoria de seu antigo chefe, que dizia que pertencia a um membro da dinastia Slav Premyslid, que governou a Boêmia por mais de 400 anos.
Hoje os estudos são conduzidos por Jan Frolik, que buscou se afastar das opiniões soviéticas e nazistas, indo atrás da verdade por meio da ciência.
O pesquisador soube que o corpo não pertence a um indivíduo nascido na Boêmia após conduzir uma análise de isótopos radioativos de estrôncio nos dentes do sujeito, que revelaram que suas origens estão no Norte da Europa, em um lugar como o Mar Báltico ou como a Dinamarca, mas isso não significa que ele era um viking.
Sua teoria é que o guerreiro, vindo do norte, morreu de causas desconhecidas aos 50 anos, após ir até Praga para servir Borivoj I, o primeiro duque da Boêmia e o progenitor da dinastia Premyslid, ou seu primogênito e sucessor, Spytihnev I.