Em 1º de setembro de 2004, uma escola foi alvo de um ataque terrorista em Beslan, resultando na morte de centenas de civis, em sua maioria crianças
Em 1º de setembro de 2004, um ataque em uma escola localizada na Ossétia do Norte, uma república da Federação Russa, traumatizou a Rússia e chocou o mundo inteiro ao fazer 1.200 pessoas como reféns, em sua maioria crianças.
O massacre de Beslan, como ficou conhecido, foi perpetrado por cerca de 30 rebeldes armados ligados à insurgência separatista na região vizinha, a Chechênia, e resultou na morte de mais de 330 civis, sendo 186 deles crianças.
Ao longo de três dias, a escola teve seu ginásio preenchido por explosivos e pessoas foram feitas como reféns pelos militantes do então grupo autônomo pró-Chechênia Riyad-us Saliheen, em condições em que eram recusados água e comida.
O governo russo tentou chegar a algum acordo com os rebeldes, mas as negociações foram infrutíferas. Foi quando as autoridades decidiram invadir o local, liderando um assalto ao colégio, que acabou resultando em mais mortes.
A situação no complexo escolar ficou ainda mais difícil. No dia 3 de setembro, reféns tentaram escapar do local depois de duas explosões no ginásio, o que fez com que os invasores disparassem contra eles.
Havia um grande tiroteio acontecendo a partir do momento que as forças de segurança decidiram começar a atirar também. Quase todos os militantes foram mortos, exceto por Nur-Pashi Kulayev, que sobreviveu aos ataques e foi condenado à prisão perpétua em 2006 por terrorismo, tomada de reféns e assassinato.
O resultado do massacre foi a morte de mais de 330 civis e 12 soldados, 700 pessoas feridas e um trauma que não pode ser curado. A violência extrema praticada por um grupo terrorista dentro de uma escola não foi esquecida pelos russos.
Embora tivessem se passado 12 anos do ataque em Beslan, o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos julgou o comportamento do governo russo para lidar com a situação e considerou que o massacre poderia ter sido evitado.
Como noticiou a agência de notícias AFP em 2017, o Tribunal, parte da Convenção Europeia dos Direitos Humanos (CEDH), instância do Conselho da Europa sediada em Estrasburgo, na França, entendeu que a Rússia apresentou graves deficiências durante a gestão da crise dos reféns.
Foi considerado que o país contava, "pelo menos alguns dias antes do incidente", com suficientemente "informações precisas sobre um plano de ataque terrorista na região, que estaria vinculado ao início do ano letivo".
No entanto, o órgão observou que, "de maneira geral, as medidas preventivas que tomaram" foram insuficientes para lidar com o conflito daquela escala que estava acontecendo dentro do complexo escolar.
"Nem a administração da escola nem o público presente na cerimônia de reinício das aulas foram avisados da ameaça. As autoridades não conseguiram adotar medidas para prevenir ou reduzir o risco conhecido", destacaram os juízes.
Quanto ao assalto realizado após as pessoas estarem sendo mantidas como reféns por três dias, o CEDH considerou que a operação não foi planejada para minimizar os riscos para esses indivíduos e que houve falha de estrutura de comando e falta de cordenação.
Isso teria contribuído, “até certo ponto”, para “o desfecho trágico” observado naquele dia. Não foi possível provar, por meio de investigação, que o uso de força letal usada na ação foi “justificado” pelas autoridades.
"Um uso massivo de explosivos e armas atingido sem discernimento não pode ser considerado absolutamente necessário", explicou o Tribunal.
"Os mortos, os feridos e traumatizados permaneceram no ginásio. As chamas se propagaram, o teto desabou por volta das 15h30. À custa de intensos combates, as forças especiais conseguiram resgatar os reféns sobreviventes", alegou a Corte.
As acusações foram apoiadas nas testemunhas que relatavam que os soldados teriam agido de forma cega durante a operação contra a escola. Na situação, tanto rebeldes quanto reféns se misturavam na multidão.
O julgamento, feito 12 anos após o massacre, foi considerado “inaceitável” pela Rússia, condenada a pagar 3 milhões de euros, cerca de R$ 17 milhões aos envolvidos na ação. Na época do ataque, a justiça do país não considerou que houve relação entre os “resultados negativos” do assalto e a força usada pelas autoridades.