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Matérias / Personagem

O Estado brasileiro reconhece que Marighella foi alvo de perseguição durante a ditadura?

Morto após uma emboscada organizada por Sérgio Fleury, em 1969, o guerrilheiro baiano era tido como “inimigo número um” da ditadura

Fabio Previdelli Publicado em 09/10/2021, às 10h00

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Carteira de filiação de Marighella ao Partido Comunista do Brasil - Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro
Carteira de filiação de Marighella ao Partido Comunista do Brasil - Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro

Nesta semana, conforme noticiado pela equipe do site do Aventuras na História, a O2 filmes anunciou em suas redes sociais a nova data de estreia do filme Marighella no Brasil: 4 de novembro.  

Apesar de exibido pela primeira vez no Festival de Berlim, em 2019, o longa que conta os anos finais da vida do guerrilheiro comunista Carlos Marighella, tido como "inimigo número 1" da ditadura militar brasileira, sofreu diversos percalços antes de chegar às telonas por aqui.

Mas, afinal, por que a figura de Marighella é tão controversa assim? O Estado brasileiro o reconhece como vítima da ditadura? 

Militância e a sua morte 

Militante do PCB desde 1934, o baiano Carlos Marighella acabou rompendo com a legenda partidária poucos anos depois do Golpe de 64, optando por seguir o caminho guerrilheiro da luta armada contra a ditadura, o que o fez ficar da clandestinidade. 

Em fevereiro de 1968, Marighella fundou o grupo Ação Libertadora Nacional (ALN) que, segundo relata Frei Betto em Batismo de Sangue: Guerrilha e Morte de Carlos Marighella, participou do sequestro do embaixador norte-americano Charles Elbrick — ato que teve a colaboração do Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8). 

A ditadura começou a fechar o cerco contra o grupo, concentrando esforços na captura de seus membros, principalmente de Marighella, tido como “inimigo número um” dos militares.  

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Capa da Veja sobre as buscar por Marighella/ Crédito: Divulgação/Veja

No dia 4 de novembro de 1969, Marighella teria um encontro com frades dominicanos.

A informação foi descoberta pelo delegado Sérgio Fleury dias antes, quando a Operação Bandeirantes (Oban) prendeu e torturou os frades Ivo e Fernando de Brito, como conta Elio Gaspari em ‘A ditadura escancarada’. 

No dia do encontro, Fleury invadiu o convento dos dominicanos e preparou uma emboscada contra Carlos.

A reunião do guerrilheiro com o grupo foi marcada na Alameda Casa Branca, próxima à Avenida Paulista.

Mas chegando lá, o baiano percebeu a armação e tentou fugir do tiroteio iniciado por Fleury

Como relata matéria da Folha de S. Paulo, o corpo de Marighella foi encontrado pouco depois dentro de um Volkswagen azul. Um relatório da Oban aponta que Carlos, ao receber ordem de prisão, correu em direção a um carro, “momento em que fez menção de sacar, de dentro de uma pasta, dois revólveres que estavam nela”.  

Porém, ates de revidar, o baiano foi alvejado por uma rajada de uma metralhadora, “caindo morto dentro do carro”. No entanto, em 1996, um dossiê feito pela Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos, do Ministério da Justiça, contrariou essa versão.  

De acordo com um laudo cadavérico, feito à época pelo legista Harry Shibata, o guerrilheiro foi morto com um tiro na região do peito — a bala teria sido disparada à queima-roupa.  

“A distribuição dos tiros não corresponde a uma rajada de metralhadora”, explicou o médico legista Nelson Massini, que fez a análise do laudo, à Folha. “Não há perfuração no carro que justifique os ferimentos. O ferimento no tórax, além de ter sido à queima-roupa, foi disparado de cima para baixo”.  

Além do mais, a posição em que estavam os pés de Marighella, para fora do veículo, indicam que ele não poderia ter caído na posição que estava após tomar um tiro no peito, o que pode indicar que foi arrastado para o local.  

Reparação à família 

No dia 9 de novembro de 2012, o Diário Oficial publicou a decisão do ministro José Eduardo Cardozo, que reconheceu que Carlos Marighella sofreu perseguição do Estado no auge da repressão política no período da Ditadura. O reconhecimento de tal perseguição, existe como uma anistia “post mortem”.


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