Publicado em 1968, 'Meu Pé de Laranja Lima', de José Mauro de Vasconcelos, superou as fronteiras e emociona leitores até do outro lado do mundo
Publicado em 08/12/2024, às 13h00 - Atualizado em 14/12/2024, às 15h00
"Zezé é um garoto pobre, de seis anos, inteligente e sensível. Carente de um afeto que não encontra na família, ele sai pelas ruas fazendo mil travessuras. Aprende tudo sozinho e inventa para si um mundo de fantasia em que seu grande confidente é Minguinho, seu pé de laranja-lima". Essa é a sinopse do livro 'O Meu Pé de Laranja Lima', um clássico da literatura brasileira, escrito por José Mauro de Vasconcelos.
Por mais que o livro não seja tão conhecido ou comentado pelo grande público quanto obras de outros autores brasileiros — como 'Memórias Póstumas de Brás Cubas' ou 'Dom Casmurro', de Machado de Assis —, certamente aqueles que tiveram a oportunidade de o ler se emocionaram com a história de Zezé, Minguinho e o amigo do menino, Portuga.
Isso porque, na obra, Zezé é um menino bastante travesso e que, por isso, apanha muito em casa, principalmente de seu pai, um homem desempregado. Por isso, ele busca sempre quando sai de casa as fantasias comuns a qualquer criança, inclusive conversando com a pequena laranjeira em seu quintal e interagindo com um senhor rico local, Portuga.
Porém, esse contexto não é o único fator que pode arrancar lágrimas da trama. No subtexto, isso revela muito sobre o Brasil e seu passado, no que se refere à forma rigorosa como muitos pais criam seus filhos.
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Mas uma curiosidade sobre o livro em si é que, além do Brasil, ele também conquistou bastante popularidade e emocionou muita gente em outro lugar cuja cultura é bastante diferente da nossa: a China.
Segundo a Folha de S. Paulo, 'O Meu Pé de Laranja Lima' já vendeu mais de 400 mil exemplares no país desde a primeira publicação, em 2010, conquistando diversos prêmios e até mesmo entrando em listas de leituras obrigatórias na escola.
"Cada vez mais as pessoas, especialmente os pais, valorizam a educação dos filhos", comenta em entrevista à Nelson de Sá, da Folha de S. Paulo, a tradutora Wei Ling, sobre o que pode explicar tamanha recepção da obra na China.
"Há um ditado chinês: os pais desejam que seus filhos se tornem dragões, ou seja, talentos ou pessoas eminentes. Mas como? Não sabem", continua. "Por isso, muitos recorrem a castigos, a mandá-los a cursos extras para que estudem mais fora das aulas. Por sua parte, os filhos sentem-se infelizes, alguns até faltam às aulas ou saem de casa".
Dessa forma, o livro também se popularizou entre os pais, pois, ele os leva a questionar como educam seus filhos, e se eles realmente devem crescer como os adultos desejam.
Também à Nelson de Sá, da Folha, o editor Wang Yongnian explicou como conheceu a história e como surgiu a ideia de publicá-la na China. Tudo começou quando ouviu de um professor universitário de Pequim sobre uma tese de mestrado de um aluno coreano sobre o livro; interessado, ele procurou conhecer a história — mas não a encontrou em nenhum lugar.
Pelo menos até 2010, quando 'O Meu Pé de Laranja Lima' foi publicado na China, o país consumia mais obras de origem europeia ou americana, além de suas próprias. "Muita gente só conhece futebol brasileiro, como essa obra poderia ser reconhecida pelos leitores chineses?", se questionou Wang Yongnian, na época.
Porém, chegou um dia em que alguém lhe recomendou uma série coreana em que uma jovem cai em lágrimas ao ler o livro brasileiro.
'O Meu Pé de Laranja Lima' já foi reimpresso mais de 30 vezes na China, e já conta com mais de 30 mil avaliações de "excelente" no Dangdang, uma plataforma de comércio eletrônico chinesa. Ele também já conquistou vários prêmios literários por lá, e está em listas como um dos 100 livros que mais influenciam professores no país.
Vale mencionar que a famosa obra de José Mauro de Vasconcellos já recebeu duas adaptações para o cinema, uma de 1970, dirigida por Aurélio Teixeira, e outra de 2012, por Marcos Bernstein — que inclusive está disponível, até a data desta publicação, na Netflix.