Filme ‘A Viagem de Pedro’ mostra outras facetas do imperador brasileiro, longe do heroísmo patriótico
Isabelly de Lima, sob supervisão de Wallacy Ferrari Publicado em 31/08/2022, às 19h25 - Atualizado em 06/09/2022, às 12h32
Chegou aos cinemas em 1° de setembro o mais novo trabalho da diretora Laís Bodanzky, ‘A Viagem de Pedro’, que retrata o período em que o imperador sai do Brasil e vai até Portugal para lutar com seu irmão pelo trono de Portugal, em 1831.
O monarca é vivido por Cauã Reymond, que entrega um personagem forte e complexo, cheio de sentimentos e angústias. Neste período, Pedro era considerado um traidor tanto no Brasil quanto em Portugal, fato que mexeu com seu psicológico seriamente.
Na trama, é revelado ao público lados diferentes do imperador, que é conhecido por sua personalidade heroica em retratações, mas totalmente diferente na produção, afinal, ele era humano. O filme mistura ficção e realidade ao relembrar a saga de Pedro.
É inegável que Dom Pedro I foi um “super-pai” para seus filhos — filme exibe esse lado dele com muito carinho; o personagem é mostrado sempre muito dedicado a passar tempo com seus herdeiros, brincando com os pequenos e fazendo deles sua principal prioridade.
Um bom exemplo disso é o grande esforço que ele faz para colocar sua filha mais velha no trono de Portugal. Colocar Maria da Glória (Luiza Gattai) no poder, não era somente um movimento político, mas era o modo que Pedro encontrou de deixar sua família com regalias e chances de um bom futuro.
Algo que chama atenção no longa é como a agressividade de Pedro é representada. Em uma das cenas, quando Leopoldina (Luise Heyer) se recusa a aparecer em público na presença de Domitila (Rita Wainer) — que todos sabem que é amante do imperador — , o monarca se irrita e a agride de forma física, o que, supostamente, pode ter acontecido outras vezes.
Além disso, não somente a agressividade física é visível, mas também a psicológica, já que ele brinca com a cabeça da esposa e das outras mulheres com quem se relaciona. Mas o sofrimento de Leopoldina é ainda maior, já que, além dos dilemas da realeza, ela precisa lidar com o relacionamento problemático.
O imperador a deixou sozinha diversas vezes, enquanto ela passava por várias gestações. No filme, ainda é possível identificar sinais de depressão na personagem de uma das mulheres mais importantes da história do país.
O longa exibe o que por muito tempo foi a “fama” do monarca brasileiro; seu charme com as mulheres, que rendeu-lhe o título de mulherengo. Dom Pedro I nunca ficou sem mulheres ao seu redor. Além da esposa Leopoldina, ele tinha uma amante “fixa”, Domitila. Quando a primeira esposa veio a falecer, se casou com D. Amélia (Vitória Guerra).
Porém, os desejos sexuais do imperador sempre falaram mais alto. Em viagem, no navio, ele encara a sífilis, o que lhe leva à loucura, principalmente porque perde sua capacidade sexual, e, após sua virilidade ser questionada por si mesmo, começa uma busca para satisfazer seus desejos sexuais.
No decorrer da trama, acompanhamos Dom Pedro I lidando com alucinações da infância até sua vida adulta, relembrando principalmente seus momentos com Leopoldina, totalmente arrependido do modo que a tratou.
Devido à sífilis, sinais de esquizofrenia vão atacando o imperador, sendo eles danos colaterais da doença, que, na época, não tinha tratamento adequado. O medo e a incerteza sobre seu futuro em Portugal eram outro quesito que o tirava do sério, piorando sua situação.
O filme é distribuído pela Vitrine Filmes e até mesmo foi um dos longas brasileiros que disputaram a vaga brasileira de melhor filme estrangeiro no Oscar de 2023.