Citada como exemplo negativo para a juventude, a Rainha dos Baixinhos fez uma de suas raras declarações sobre política
Publicado em 01/04/2023, às 19h00 - Atualizado em 18/05/2023, às 18h06
Em 1998, a apresentadora Xuxa Meneghel figurava a programação da TV Globo com uma das atrações maior audiência, o ‘Planeta Xuxa’, que naquele ano havia sido transferido para as tardes de domingo. Além disso, lançava naquele ano o álbum 'Só Faltava Você', certificado como disco de ouro pela ABPD, além de se aventurar em outros negócios, como a tentativa de lançar seu próprio parque aquático.
Contudo, o fato que mais impactou aquele ano para a loira foi a fase final de sua gravidez. Na época, namorando o ator e modelo Luciano Szafir, ela anunciou que teria uma filha, com o Brasil acompanhando não apenas o crescimento do barrigão, mas também a escolha do nome. Sasha Meneghel nasceu nacionalmente conhecida.
Se engana, no entanto, quem acredita que todos manifestaram felicidades para a primeira gravidez da Rainha dos Baixinhos; no ano seguinte, uma pessoa pública foi responsável por fazer um comentário a respeito da gestação, justificando que era inapropriada devido a forma como a apresentadora se portou na carreira, focando no público infanto-juvenil.
Após participar de um evento pautando a gravidez na adolescência, o então ministro da Saúde,José Serra, criticou o fato de Xuxa estar grávida sem se casar: "Ela estimula crianças, meninas pequenas de 12, 13 anos, a terem filhos. Eu fico imaginando essa experiência de produção independente da Xuxa com a Sasha. Quantas mães adolescentes precoces, prematuras, serão estimuladas no Brasil".
A citação de Serra não apenas ocupou páginas de jornais na época, mas abriu o ‘Jornal Nacional’ daquela noite, datada de 10 de agosto de 1999. O noticiário da TV Globo repercutiu a fala na íntegra, mas por telefone, deu o direito de Xuxa responder à declaração polêmica.
Eu acho sua declaração, ministro José Serra, injusta e demagógica. Mau exemplo é o que eu vejo todos os dias no noticiário: aumento de preços de remédios, plano de saúde que não respeita o cidadão e hospitais sem médicos”, retrucou prontamente.
A apresentadora continuou, afirmando que, mesmo sem se casar, trabalhou para tal segurança financeira: "Eu tenho condições de criar e educar minha filha, o que não acontece com a maioria do nosso povo. Sabe o por quê? Porque eles são vítimas de políticos que preferem dar entrevistas de impacto ao invés de tomar decisões que melhorem a vida das pessoas", desabafou.
De acordo com a Folha de S. Paulo, a discussão virou pauta no dia seguinte em Brasília, gerando comentários de outros políticos. O então ministro da Educação, Paulo Renato Souza, viu um fundo de verdade na fala de Serra, referenciando a massiva repercussão da gestação: "Toda pessoa maior de 18 anos tem direito de fazer suas opções pessoais. Acho que a divulgação excessiva de casos como esse realmente estimula (a gravidez precoce), trazendo prejuízos para a educação e para a saúde".
Já o presidente do Senado, Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), riu da situação e aproveitou para provocar: "Só faltava o Serra brigar com a Xuxa! Agora, já não tem mais ninguém. Ele já brigou com todo mundo!".
Após a polêmica, José Serra disse em entrevista à Rádio CBN, não ser contra mulheres solteiras, com filhos e que telefonou para Xuxa. Ele também disse que o comentário quanto a "produção independente” de Xuxa se tratava de uma análise maior a respeito de adolescentes que engravidam. Também declarou que se tratou de uma ‘interpretação equivocada’.
“Em nenhum momento pretendi contestar o direito de uma pessoa como a Xuxa e de outras mulheres que não estão casadas de ter um filho e de dar uma educação para seus filhos. A minha preocupação é que às vezes a exaltação que a mídia faz disso (da maternidade de Xuxa) termine influenciando o agravamento de um problema que já é grave. Serra conclamou a mídia e os comunicadores em geral a conscientizarem a população sobre o alarmante número de 650 mil adolescentes que engravidam todos os anos. - Não tenho nada contra uma mulher formada, adulta, decidir ter um filho. Acho que ficou aí uma interpretação equivocada”, disse ele, conforme registrado pelo site do Senado. “Meu problema é outro, é a influência que a exaltação de uma decisão desse tipo tem sobre as crianças. O jeito com que os meios de comunicação trataram o assunto representa um estímulo a isso”.