Além das previsões do futuro e das polêmicas críticas sociais, Os Simpsons também chamam a atenção por outro detalhe curioso: sua residência
Publicado em 26/02/2023, às 07h00 - Atualizado em 01/03/2023, às 11h26
São mais de 740 episódios distribuídos em 34 temporadas. Ao longo de quase três décadas e meia, Os Simpsons já receberam inúmeras celebridades em seu show, foram responsáveis pelas mais curiosas previsões do futuro e ainda são centro de diversas críticas sociais e polêmicas.
Mas deixando tudo isso de lado, há um ‘personagem’ dentro da comédia que sempre está presente nos episódios, mas que pouco chama a atenção, apesar de seu ‘poder de mutação’. Estamos falando do endereço Evergreen Terrace, 742. A casa da família Simpsons. Mas o que existe de especial por lá?
“Temos um cômodo que aparece e desaparece; nossa casa é muito estranha para esse tipo de coisa”, disse Marge Simpson em certo episódio sobre a vida da família amarelada de Springfield.
Pode só parecer mais uma fala desconexa em meio infinidade de ideias malucas de Matt Groening. Mas o mais simples detalhe pode revelar algo muito maior quando se trata de Os Simpsons.
Designer de interiores, Iñaki Aliste Lizarralde dedica parte de seu tempo em recriar no papel a planta de icônicos cenários do cinema e da televisão. Foi assim com ‘Friends’, ‘Psicose’, ‘O Pecado Mora ao Lado’ e até mesmo ‘Os Simpsons’.
Para recriar o endereço de Evergreen Terrace, Lizarralde analisou minuciosamente mais de 630 episódios da série. Neste meio tempo, também fez inúmeros esboços e tomou notas de detalhes sobre o imóvel até que um dia chegou em uma planta final.
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“Vou preenchendo a planta com outra quantidade de notas e capturas de tela, para ter as peças localizadas de mobiliário, objetos de cena e demais”, revelou em entrevista ao El País. “Trabalhei muitos anos como designer de interiores e digamos que desenvolvi minha capacidade de visualizar espaços e plasmá-los em forma de planta.”
Porém, o trabalho de recriação de planta não é nada fácil quando se trata de um desenho, visto que o espaço costuma se adaptado pelos desenhistas conforme as exigências de cada episódio. “Nas séries de animação, os fundos mudam continuamente. Às vezes, uma parede parece medir dois metros, e outras vezes, quatro”.
Para chegar em seu resultado, o designer tentou se manter o mais fiel possível ao que foi mostrado na série, mas “levando em conta que eles mesmos são infiéis no desenho”.
Um exemplo disso, aponta, é de um episódio quando a família vai até o porão através de cozinha, levando a crer que existe uma escada na lateral da casa, junto à garagem. “Mas, em um capítulo em que Homer e Bart fabricam cerveja caseira e a enviam ao bar do Moe metida em bolas de boliches, os vemos entrar na garagem pela porta do hall”.
Mas a confusão não para por aí. Iñaki Aliste também aponta que a própria porta do hall, em outro episódio, já foi um armário onde as crianças se esconderam. Num posterior, se tornou uma estante onde são guardados brinquedos. “Digamos que são eles os que se tomam as licenças. Eu me limito a registrar, dentro do possível, o que vejo”.
Quem corrobora com a explicação é o doutor em Comunicação Alejandro Tovar, autor de tese sobre a família amarelada e a sociedade contemporânea. O pesquisador explica que os responsáveis pela série foram moldando o interior da casa com o passar do tempo.
Nas primeiras temporadas, nem sequer se respeita uma estrutura lógica. Como nos Flintstones, uma porta dava em outra, e depois em outra, e outra, e assim quase até o infinito”, afirma.
Tudo começou a mudar a partir de 1999, quando o espanhol Javier Pineda assumiu o cargo de diretor de background. Com isso, passou-se a explorar áreas que são pouco mostradas ao longo desses mais de 30 anos.
“A salinha que há no térreo, ao fundo à direita, apareceu pouquíssimas vezes”, aponta Tovar sobre um cômodo quase que secreto. “É essa terceira sala de estar atrás da garagem e que só apareceu rapidamente em dois ou três episódios”.
O espaço, por sua vez, reporta o El País, aparenta ter quase o mesmo tamanho da sala principal. Nela se encontra um televisor e um puf.
Mas há outro cômodo ainda mais escondido. Esse só mostrado, de fato, uma única na série. Ele fica localizado no térreo, ao lado da cozinha, como se fosse uma espécie de lavabo pequeno. “Esse lavabo na série não aparece nunca”, diz Tovar.
Tal banheirinho só foi referenciado no episódio 173, ‘Motim Canino’, presente na oitava temporada — quando Os Simpsons adotam um cão da raça border-collie tão educado e bem treinado que ele urina na privada.
[Neste episódio] o vemos sair dessa porta, grudada à cozinha. Ouvimos o barulho da descarga, mas não vemos o cômodo, então tive que inventar como era”, apontou o designer de interiores.
“Mas em um dos últimos episódios eles resolveram escrever uma cena em que Homer e Marge têm um arrebatamento e transam nesse lavabo do térreo, que é mostrado pela primeira vez”, completa.