Após seu amigo e ex-companheiro de futebol Piermario Morosini ter falecido de parada cardíaca durante uma partida de futebol, o atacante tomou uma atitude emocionante
Com o futebol cada vez mais sendo tratado como um negócio e deixando a paixão de lado, ao longo dos anos, a identificação de jogadores com suas agremiações parece ter se tornado algo utópico.
Hoje em dia, se torna cada vez mais difícil ver atletas permanecerem por um longo período em suas equipes, fazendo com que o 'nascimento' de verdadeiros ídolos seja cada vez mais difícil.
Quando casos de romantismo aparecem, entretanto, fica praticamente impossível não admirá-los. Há poucos anos, na Itália, podemos testemunhar um desses verdadeiros casos. Ao final da temporada 2015/2016, o centroavante Antonio Di Natale se aposentou após 12 anos defendendo as cores da Udinese.
Aos 37 anos, Totò, como era conhecido, havia disputado 444 jogos e marcando 227 gols pelo time bianconero. Apesar de não ter passado sua carreira toda na equipe do norte da Itália — Di Natale começou sua carreira no Empoli —, foi por lá que ele se tornou inesquecível não só por sua qualidade, mas, principalmente, por suas atitudes fora das quatro linhas. “Foram 12 anos vividos intensamente e a minha carreira na Udinese é digna de um filme, só que agora não sou mais o protagonista”, disse em sua última partida.
Logo quando chegou na Udinese, em 2004, Antonio se tornou amigo do meio-campista Piermario Morosini que, apesar de não ter sido genial com a bola nos pés, cativava a todos com seu carisma e bom-humor. Ele era aquele tipo de pessoa que é impossível não gostar e admirar.
Entretanto, apesar de sua figura sociável, Morosini não conseguiu se firmar por muito tempo na Udinese e passou a ser 'emprestado' a equipes menores nos anos que se seguiram.
Mesmo assim, sua amizade com Di Natale se fortalecia apesar dos caminhos distintos. Em 2012, ele chega ao Livorno. É justamente nessa nova equipe que sua carreira tem um trágico fim.
No dia 14 de abril, durante uma partida da segunda divisão contra o Pescara, Piermario sofre uma parada cardíaca aos 31 minutos de jogo. Ele havia tropeçado no chão e tentava se levantar, no entanto, acabou perdendo a consciência e recebeu atendimento médico de imediato.
Foi necessário que um desfibrilador fosse usado no jogador, que estava consciente quando foi levado até a ambulância.
Morosini foi levado às pressas ao hospital Santo Spirito, porém, todo o esforço foi em vão, já que ele faleceu antes de chegar ao centro médico. Todas as partidas do Campeonato Italiano — independente da divisão — foram suspensas naquele final de semana.
A trágica situação era só mais uma das várias que Piermario havia passado em vida. Aos 15 anos, ele havia perdido o pai e dois anos depois ficara órfão com a morte da mãe. Como se já não bastasse, o atleta tinha dois irmãos deficientes, que dependiam de seu cuidado e atenção.
Pouco depois, um deles acabou cometendo suicídio e Morosini passou a ter um cuidado ainda maior com sua irmã gêmea, Carla Maria. Mas com a morte do jogador, ela tinha tudo para ser abandonada e ficar desamparada, mas Di Natale fez questão que isso não acontecesse.
"[Morosini] foi um excelente companheiro. Apesar de todos os problemas que tinha, estava sempre à disposição da equipe e sempre deu todas suas forças", afirmou o artilheiro da Udinese. "Nós conhecemos a situação da irmã dele, e nós como um time, o clube, e a fundação Udinese for Life, decidimos ajudá-la, por que ela realmente precisa".
E foi justamente isso que ele fez. Após a perda do amigo, o centroavante entrou com uma ação na Justiça para assumir a custódia legal da irmã de Morosini. “Perdi meu pai há quatro anos e sei como é passar por isso. Ele foi um companheiro excepcional, cheio de vida. Apesar de todos os problemas que tinha, sempre estava à disposição da equipe. Ver pela tv o que aconteceu com ele foi um choque”, disse Di Natale.
Com o apoio popular e de diversos jogadores, Di Natale conseguiu a guarda de Carla Maria e passou a cuidar dela com todo o apoio necessário. Além disso, a Udinese e a Atalanta, clube que Morosini defendeu em sua formação como profissional, declararam que ajudariam financeiramente de forma vitalícia toda e qualquer necessidade que ela precisasse em seu tratamento médico.