Analisada em 2019, câmara funerária encontrada entre pub e supermercado no Reino Unido tinha grande importância
Éric Moreira, sob supervisão de Thiago Lincolins Publicado em 25/03/2023, às 14h00 - Atualizado em 26/04/2023, às 17h56
Em 2003, operários de uma obra rodoviária realizada em Prittlewell, perto de Southend, na costa a leste de Londres encontraram e desenterraram uma antiga sepultura, que continha dezenas de artefatos raros em seu interior.
No entanto, na época, ninguém se atentou para a questão de a quem pertenceria aquele túmulo, mas, somente em 2019, a informação foi descoberta por uma equipe de pesquisadores do Museu de Arqueologia de Londres ('MOLA', na sigla em inglês).
De acordo com texto de 2019 da BBC, os restos da antiga estrutura de madeira, que media aproximadamente 4 metros quadrados, com 5 de profundidade, abrigavam cerca de 40 antigos, raros e nobres artefatos.
Entre eles, uma lira — espécie de harpa antiga —, uma caixa de 1.400 anos, moedas de ouro, o gargalo de prata dourado de um vaso de madeira, copos de vidro decorativos e um jarro aparentemente de origem Síria, sem contar artefatos que já apontavam a religiosidade cristã.
Conforme informado pelos pesquisadores, cada um daqueles itens foi colocado "como parte de um ritual de sepultamento cuidadosamente coreografado", o que indicava que aquele poderia ser, na verdade, o local de sepultamento de um homem de uma linhagem de príncipes do passado do Reino Unido, hipótese essa, até então, jamais imaginada — a por isso as pesquisas no túmulo não foram feitas ainda na época em que fora descoberto.
Depois que essa informação foi descoberta, alguns moradores locais começaram a apelidar aquele homem de Príncipe de Prittlewell. Além do mais, chegou-se inclusive a cogitar que aqueles restos mortais encontrados pertencessem a Saebert, rei saxão de Essex entre 604 e 616 d.C.
Porém, uma datação por carbono indicou que o local foi construído entre 575 e 605 d.C, ao menos 11 anos antes de sua morte. Então, finalmente, depois de 15 anos de pesquisas, os arqueólogos do Museu de Arqueologia de Londres disseram que o "melhor palpite" sobre a pessoa que habitaria aquela tumba era de que fosse Seaxa, irmão de Saebert.
Com isso, a descoberta — que a princípio nem mesmo havia chamado tanta atenção das autoridades — passou a ser considerada, surpreendentemente, o exemplo mais antigo de um enterro de membro da realeza anglo-saxã cristã.
Os demais objetos encontrados dentro do caixão ajudam, também, a traçar algumas das características do antigo ocupante. Segundo informações do Museu de Arqueologia de Londres, cruzes de folha dourada encontradas na cabeceira foram colocadas sobre seus olhos, representando que ele era, sim, cristão.
Porém, o que chama atenção — e possivelmente também foi a razão para a tumba ter sido ignorada na época que fora descoberta — é que algumas características do local, como a mamoa (pequenos montes feitos sobre monumentos fúnebres), refletem também crenças e tradições pré-cristãs.
Além disso, outros traços do perfil do homem ali enterrado foram descobertos: uma fivela de cinto de ouro, muito possivelmente feita especialmente para o evento do enterro, indica que ele possuía um elevado status social. Já o tamanho do caixão de madeira, de freixo "excepcionalmente grande", pesando aproximadamente 160 kg, sugeria que seu ocupante tinha aproximadamente 1,68m de altura.
Entre outros itens achados, estava também um banquinho dobrável de ferro — que um lorde poderia usar para distribuir as recompensas e julgamentos a seus seguidores e guerreiros —, e uma "espada habilmente trabalhada", com detalhes em ouro e uma lâmina de padrões complexos, que reforçariam a origem real ou aristocrática do homem.
Sophie Jackson, diretora de pesquisa do Museu de Arqueologia de Londres, contou em entrevista à BBC que ninguém esperava que aquele "local pouco promissor" descoberto em meio a obras em 2003 contivesse "o equivalente ao túmulo de Tutancâmon". "O local fica entre uma linha de trem e uma estrada, basicamente um limite. Não é onde você esperaria encontrá-lo", acrescenta.
Além do mais, ela aponta como o túmulo retrata, também, uma "época realmente interessante", quando o Cristianismo ainda estava "apenas começando" nas ilhas britânicas. "Era uma fase de transição entre ter enterros pagãos com todos os seus objetos, mas também ter essas cruzes", disse, e ainda encerra afirmando que "o melhor palpite" definitivamente era de que o túmulo abrigava Seaxa.