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Matérias / Personagem

A emocionante saga de Marsha P. Johnson, pioneira na luta pelos direitos LGBTs

Marsha foi cravada na história como um dos mais importantes nomes da revolução de Stonewall

Isabela Barreiros Publicado em 28/06/2020, às 08h00 - Atualizado em 23/06/2022, às 16h38

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Marsha P. Johnson, ativista LGBT - Divulgação/Netflix
Marsha P. Johnson, ativista LGBT - Divulgação/Netflix

No mês de junho, é comemorado o dia do Orgulho LGBT, após 51 anos da Revolta de Stonewall. Na madrugada do dia 28 de junho de 1969, o bar LGBT Stonewall Inn, no bairro nova-iorquino de Greenwich Village, foi invadido por um grupo de policiais, que começou a reprimir e hostilizar as pessoas que estavam no local. Não era uma exceção: institucionalmente homofóbica e transfóbica, a polícia teve o papel de oprimir indivíduos e comunidades LGBT no geral.

Mas naquele dia, as coisas foram diferentes. Gays, lésbicas, trans, drag queens e pessoas marginalizadas por romperem com a conformidade de gênero, em um total de 200 indivíduos, reagiram à violência policial.

O clima de confronto foi acompanhado pela insubmissão às ordens dos agentes do Estado, que tentavam levar todos para a delegacia. Jogando copos e reagindo a prisão, a Revolta estava apenas começando.

Quem foi Marsha P. Johnson?

Mais do que um movimento, a história de Stonewall é composta por figuras que foram essenciais para o crescimento da revolta. Marsha P. Johnson estava na linha de frente dos protestos que saíram do bar fechado e tomaram as ruas dos Estados Unidos e, depois, do mundo. Mulher negra transgênero, trabalhadora sexual e drag queen, ela foi pioneira no movimento dos direitos LGBTs e seu ativismo ajudou e inspirou milhares de jovens.

Após completar o colegial em Nova Jersey, chegou a Nova York carregando consigo uma sacola de roupas e apenas 15 dólares, em 1963. Seis anos depois, se tornaria figura-chave de Stonewall, com apenas 23 anos, iniciando uma série de motins que inspiram o dia do Orgulho LGBT comemorado ainda nos dias de hoje.

Além de sua participação na revolta na rua Christopher, criou o STAR (Street Travestite Action Revolutionaries) junto de sua amiga, Sylvia Rivera, que também era uma transexual drag queen que passou a atuar em prol dos direitos trans.

A organização tinha como intuito apoiar jovens transexuais e também homossexuais que haviam sido expulsos de casa. Eles chegaram a coordenar um abrigo na East Second Street.

Ilustração de Marsha P. Johnson, Joseph Ratanski e Sylvia Rivera / Crédito: Dramamonster (Gary LeGault)/ Wikimedia Commons

Em 1972, Johnson disse em uma entrevista que seu objetivo era "ver gays liberados e livres e ter direitos iguais aos de outras pessoas na América", com seus "irmãos e irmãs gays fora da cadeia e nas ruas novamente”.

Como qualquer sexualidade que rompesse com a conformidade de gênero ainda era proibida institucionalmente, a luta contra a violência policial foi muito importante para a construção desse movimento.

A ativista dedicou muito tempo de sua vida ajudando outras pessoas. Era conhecida por sua generosidade e força para batalhar pelo que acreditava. Mas, ainda que ela e Rivera fossem importantes lideranças no movimento transexual, eram, muitas vezes, excluídas por ativistas gays. Hoje em dia, ainda é possível perceber esse afastamento por parte da comunidade LGBT.

No entanto, ao longo dos anos, a marginalização e a constante luta por reconhecimento de sua existência passaram a gerar cicatrizes que eram difíceis de serem curadas. A militante sofria constantemente com problemas de saúde mental, fazendo com que a entrada e saída de hospitais psiquiátricos se tornassem parte da sua rotina.

Cena do documentário A Morte e a Vida de Marsha P. Johnson (2017) / Crédito: Divulgação/Netflix

Legado

No dia 6 de julho de 1992, o corpo de Johnson foi encontrado no rio Hudson, em Nova York. A morte foi definida como suicídio, mas pessoas próximas da ativista não acreditavam na versão oficial da polícia, relembrando que casos de ataque a pessoas trans eram comuns. Segundo a BBC, em 2012, vinte anos depois da morte, o departamento de polícia de Nova York reabriu o caso, depois de esforços da ativista Mariah Lopez.

O final trágico representa ainda hoje grande parte da vida e morte de pessoas transexuais, que, só em 2019, foram assassinadas 331 vezes no mundo, segundo o relatório Trans Murder Monitoring (TMM). Foi apenas no ano passado que a Organização Mundial da Saúde retirou a transexualidade da lista de doenças mentais.

Marsha sempre será lembrada por suas roupas cintilantes e extravagantes, por sua esperança, desejo de mudança e por sua generosidade. O pioneirismo da ativista na luta pelos direitos LGBTs é considerado inspiração para pessoas da comunidade, que continuam lutando pelos seus direitos até os dias de hoje.