Nosso vizinho latino-americano passa por uma crise sanitária e política - e a população reagiu indo para as ruas
Entre o fim da semana passada e início desta os paraguaios foram para as ruas durante quatro dias seguidos, pedindo, entre outras coisas, o impeachment do presidente do país, Mario Abdo Benítez.
A crescente - e barulhenta - insatisfação da população ainda teve como reação movimentações dentro do governo do Paraguai. Três ministros foram trocados, e um quarto, o da Saúde, chamado Julio Mazzoleni, renunciou.
Ainda vale dizer que os políticos opositores organizaram-se para apresentar um pedido de afastamento do presidente. A raiz de tudo isso é um problema de nível global: a pandemia do coronavírus.
Para a população, seu chefe de Estado não geriu a crise sanitária tão eficientemente quanto poderia, e isso ainda é agravado pelo fato do país possuir um sistema de saúde público precário. Segundo divulgado pelo G1, por exemplo, 70% dos paraguaios dependem dos hospitais públicos.
"No Paraguai, faltam hospitais, postos de saúde, insumos, e, inclusive, médicos. A situação do sistema de saúde já era assim antes da pandemia”, explicou o analista econômico Fernando Masi em uma entrevista à BBC News, acrescentando que a nação latino-americana direciona apenas 3% de seu PIB à saúde, quando o recomendado pela ONU é 6%.
No início de 2020, quando o surto de Sars-Cov-2 chegou ao continente sul-americano, o Paraguai declarou a quarentena e buscou colocar em prática as medidas de contenção do vírus (inclusive fechando sua fronteira com o Brasil).
Recentemente, todavia, o governo mudou sua atitude, relaxando a quarentena e terminando por gerar um colapso de seu sistema de saúde. Atualmente, o país tem 1,5 mil novos casos de coronavírus por dia, resultado de uma alta vertiginosa de infecções - um cenário diferente do de 2020, quando havia menos de 100 por dia.
Para piorar, vieram a público escândalos de corrupção, fazendo com que os paraguaios ficassem ainda mais frustrados com o governo federal. As críticas à “corrupção” também se fizeram presentes nos protestos.
Em resposta às repercussões negativas de suas ações, o presidente Mario Abdo Benítez manifestou-se publicamente no último sábado, 6.
"Sou uma pessoa de diálogo e não de confrontação, e meu compromisso é ouvir a todos, prestando atenção em todas as críticas. Sou consciente que as pessoas esperam mudanças e vou fazê-las", explicou o político. O discurso não foi capaz de impedir o prosseguimento dos protestos, contudo.
Vale dizer ainda que as manifestações na capital do Paraguai, a cidade de Assunção, contaram ainda com uma repressão violenta das autoridades locais.