A grande cidade de pedra está listada como Patrimônio Mundial da Humanidade pela Unesco
Uma grande cidade de pedra encravada nas montanhas dos Andes, combinada com uma vegetação tropical e a ocasional presença de neblina, criando uma atmosfera quase mística. O visual que se desdobra no lugar tão especial é de tirar o fôlego – e não é por causa da altitude, que aqui chega a 2.430 metros.
Machu Picchu é um daquelesdestinosque todos deveriam ir ao menos uma vez na vida. Uma das atrações mais visitadas do continente, a Cidade Perdida dos incas está listada como Patrimônio Mundial da Humanidade pela Unesco e é uma das Sete Maravilhas do Mundo Moderno.
Considerada também um dos maiores legados da civilização inca, Machu Picchu impressiona com seus muros gigantes, terraços cavados nas escarpas rochosas e canais de irrigação a uma grande altitude, sendo uma área de difícil acesso, com uma topografia complicada. É uma obra-prima da arquitetura, do urbanismo e da engenharia incas.
O cenário mais famoso é o da Cidadela, aquele que geralmente aparece nas fotos de sites, revistas e cartões-postais. Porém, Machu Picchu cobre mais de 30 mil hectares entre as montanhas. São aproximadamente 200 estruturas diferentes que formam o complexo arqueológico, entre praças, templos, fontes de água, monumentos e residências, sempre em perfeita harmonia com a natureza ao redor.
Acredita-se que o local era utilizado pelos incas como um importante centro religioso, astronômico e agrícola – apesar de que enigmas sobre seu real propósito ainda persistem, despertando a curiosidade de visitantes e historiadores. Machu Picchu foi construída no século XV e abandonada cerca de 100 anos depois, quando o Império Inca foi invadido pelos espanhóis. Por muito tempo, sua exata localização permaneceu um mistério, até que foi redescoberta em 1911.
Em Machu Picchu, há dois setores bem demarcados. A área agrícola tem terraços que eram usados para o cultivo de alimentos. Do outro lado, está a parte mais urbana, onde estão a Rocha Sagrada, o Templo do Sol, o Templo do Condor e o grande relógio solar, entre outros pontos relevantes.
Machu Picchu guarda ainda uma grande biodiversidade, por estar em uma região em que os Andes encontram a Amazônia peruana. É o habitat natural de espécies como a raposa andina, o puma, o condor andino e muitos outros animais, além de 370 tipos de orquídeas, sendo a maior coleção de orquídeas nativas do mundo.
Nas típicas fotos panorâmicas de Machu Picchu, aparece uma montanha atrás da Cidadela. Chamada Huayna Picchu, seu pico atinge mais de 2.700 metros de altitude. É possível seguir em uma trilha até lá, o que leva cerca de 3 horas para o trajeto completo. Para isso, é necessário comprar um ingresso específico, e as entradas por dia são limitadas. A trilha demanda um esforço grande, mas as vistas são deslumbrantes.
Vale destacar que, para conhecer Machu Picchu, é preciso caminhar bastante, em um terreno cheio de descidas e subidas. O ideal é ir com calma, por causa da altitude. Algo em torno de quatro horas é tempo suficiente para conhecer todo o complexo. Prefira ir logo cedo, use calçados confortáveis e compre os ingressos com antecedência.
Também é necessário planejar bem todo o itinerário até Machu Picchu. O caminho mais comum tem duas etapas. Partindo de Cusco, pegue um trem até a pequena Aguas Calientes, também conhecida como Machu Picchu pueblo. Localizado em um vale abaixo do sítio arqueológico, é o vilarejo mais próximo. Bem compacto, é repleto de restaurantes e hotéis de todas as categorias, dos luxuosos aos hostels para mochileiros.
A vantagem de pernoitar em Aguas Calientes é poder seguir para Machu Picchu bem cedo no dia seguinte. O trem entre Cusco e o vilarejo é operado pela PeruRail – as passagens devem ser adquiridas com antecedência, principalmente se você for viajar na alta temporada. Depois, de Aguas Calientes a Machu Picchu, são apenas 8 km montanha acima, trajeto que é feito de ônibus (carros não são permitidos).
Já os mais aventureiros podem optar por outro roteiro até Machu Picchu: a Trilha Inca, uma das mais famosas do mundo e também uma pequena parte da antiga rede de estradas do Império Inca, Qhapaq Ñan. O caminho clássico tem 42 km, percorridos em quatro dias. Para atravessá-lo, é preciso contratar uma agência certificada, e as vagas costumam esgotar meses antes. Além de guardar muitas ruínas incas pelo caminho, a trilha termina diretamente em Machu Picchu.
Nas áridas planícies da costa peruana, as Linhas de Nasca são mais um mistério arqueológico das civilizações pré-colombianas. São linhas escavadas no solo formando centenas de figuras gigantescas de animais, plantas, padrões geométricos e até alguns seres imaginários, sempre com traços contínuos.
A cerca de 400 km ao sul de Lima, os chamados geóglifos ocupam uma área de 450 km² próxima à cidade de Nasca e foram feitos entre 500 a.C. e 500 d.C. As linhas surpreendem não só por terem resistido ao teste do tempo, já que muitas permaneceram em um ótimo estado de conservação, como também pelo tamanho.
São desenhos de até 300 metros de comprimento, tanto que só é possível admirá-los devidamente a partir de grandes alturas. As Linhas de Nasca só foram redescobertas em 1927, quando começaram os voos sobre a região. Então, vem a questão: qual é o real motivo de essa antiga civilização local ter feito esses incríveis desenhos há dois mil anos? O enigma dá margem às mais variadas especulações.
Muitos afirmam que o lugar tenha significado religioso. Outros dizem que os desenhos tinham a função de um calendário astronômico relacionado às colheitas. Há, ainda, aqueles que falam até mesmo sobre seres de outros planetas, envolvendo as Linhas de Nasca em uma atmosfera quase mística. As figuras são bem variadas, como um beija-flor, uma aranha, um macaco, um condor, espirais e outros, com precisões geométricas impressionantes.
Há, ainda, um desenho muito curioso, que lembra um homem de capacete – por isso, passou a ser chamado astronauta. Seja qual for a resposta para esse mistério, as Linhas de Nasca foram declaradas Patrimônio Mundial da Humanidade pela Unesco e atraem visitantes de todo o mundo para esse cantinho do Peru.
Nenhum outro conjunto de geóglifos no mundo se compara às Linhas de Nasca. Para avistar os desenhos, a melhor opção é em um sobrevoo, feito em um avião do tipo teco-teco. Muitas agências locais oferecem o passeio a preços variados. O trajeto dura cerca de meia hora e dá para avistar os geóglifos mais famosos.
Outra opção é subir na torre de observação (mirador), localizada a aproximadamente 20 km da cidade de Nasca. A torre tem 13 metros – é uma atração mais barata, mas não dá para ver tantos desenhos. Para chegar a Nasca, a forma mais indicada é de ônibus a partir de Lima, passando por Ica. A maior parte das hospedagens em Nasca fica no centro, onde também se encontram restaurantes e comércio.
Na costa, o clima é temperado, com temperaturas mais altas no verão. Em Lima, há poucas chuvas. Em Cusco e Machu Picchu, há basicamente duas estações: a mais seca, entre abril e outubro (melhor época para visitar os destinos), e a mais chuvosa, de novembro a março. Por causa da altitude, faz pelo menos um pouco de frio em todas as épocas do ano. O período de chuvas não é indicado para conhecer os sítios arqueológicos. Já Nasca está em um deserto árido.
Texto originalmente publicado na revista Qual Viagem (Edição 96).
Por Cláudio Lacerda Oliva e Patrícia Chemin