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Matérias / Racismo

Censored Eleven: O lado racista dos Looney Tunes

Em 1968, a Warner decidiu que 11 desenhos dos anos 30 e 40 nunca mais deviam passar na TV. Veja os vídeos!

Thiago Lincolins Publicado em 02/08/2019, às 22h00

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Reprodução / Youtube
Reprodução / Youtube

Os anos 30 e 40 foram a Era de Ouro do desenho animado. Praticamente todos os seres humanos hoje vivos foram expostos na infância a Pernalonga, Gaguinho, Patolino e aos personagens da Disney.

Mas nem só de bichos falantes vivia a Warner Bros. Cartoons. E seus retratos de humanos não envelheceram bem, para dizer o mínimo.

Os Censored Eleven são 11 desenhos retirados para sempre de circulação em 1968. Era a era dos Direitos Civis, Martin Luther King e Rosa Parks haviam marchado, e o retrato dos negros das gerações passadas se tornara absolutamente inaceitável.

Quando questionados sobre isso, os animadores da época não reconheciam qualquer problema. Bob Clampett afirmou, quando confrontado pela imprensa: "Não há nada de racista ou desrespeitoso com os negros nesse filme. Todos, incluindo os negros, se divertiram muito quando o desenho saiu".

Clampett e outros nesta lista eram grandes fãs de jazz e spirituals (o que fica claro na trilha sonora). Por isso, eles se consideravam amigos dos negros.

Aos cartunistas brancos da época, a forma estereotipada parecia o único jeito de retratá-los. Se o personagem era negro, automaticamente isso clamava pelo que era reconhecido, os lábios gigantes, acompanhados de lacinhos, enorme gosto por melancias e temperamento indolente, propenso a preguiça, bebedeira, jogatina, lascividade, dança e festa. Falando o ebonics, um real modo de falar dos negros, caricaturado por intérpretes brancos.

Os lábios são uma das partes mais centrais da controvérsia. Nenhum negro tem uma mancha rosada ocupando a metade de baixo do rosto. É assim porque o estereótipo não veio realmente dos negros, mas dos espetáculos de vaudeville, nos quais atores brancos se pintavam de negros para ridicularizá-los.

Deixavam de lado o entorno da boca, para simular lábios gigantes. A infame blackface. Mesmo artistas negros do vaudeville tinham que usá-la, se quisessem ser vistos por brancos.

Os cartoons do Censored Eleven só voltaram à vida em abril de 2010, quando oito deles foram exibidos no glamuroso Grauman's Egyptian Theatre. A intenção da Warner Bros era verificar se valeria a pena lançar uma compilação dos desenhos em DVD. A ideia ficou só no papel.

Os desenhos

Não sem relutância — levando-se em consideração a longa explicação acima, e mais comentários que se seguem — decidimos incorporar alguns desenhos neste artigo. Confira abaixo:

Hittin 'the Trail for Hallelujah Land (1931)

Um porquinho negro claramente plagiado de Mickey Mouse tenta salvar a sua namorada e o seu amigo Uncle Tom, um cachorro negro, de perigos e vilões. Uncle Tom, do livro Uncle Tom's Cabin (A Cabana do Pai Tomás), é um negro absolutamente dócil e submisso. Entre os negros, é sinônimo para traidor.


Sunday Go to Meetin' Time (1936)

Negro festeiro vai parar no inferno e aprende a lição, voltando para a igreja.


Clean Pastures (1937

Uma paródia de The Green Pastures, filme religioso. Em um céu negro chamado Pair-O-Dice, alusão a palavra Paradise — Paraíso, em inglês — mas mencionando os dados, lembrando o vício em jogo então associado aos negros, que aparece em outros desenhos aqui. Anjos negros se esforçam para conseguir as almas no Harlem, mas só conseguem isso ao adicionar ritmo às canções.

Foi bastante controverso em seu tempo. Por razões opostas, porém: brancos acharam intolerável o céu ser comandado por negros.


Jungle Jitters (1938)

O cartoon se passa em uma selva africana. E nada mais precisa ser dito.


All This and Rabbit Stew (1941)

Pernalonga tentando escapar do que é basicamente uma versão negra do Hortelino, muito mais preguiçosa, usando de um estereótipo já mencionado para vencê-lo.


Coal Black and de Sebben Dwarfs (1943)

Paródia negra da história Branca de Neve e os Sete Anões. Ao invés de contos de fada, a história da animação se passa durante a Segunda Guerra Mundial, com anões soldados e uma madrasta malvada que acumula itens racionados. A mocinha é mostrada em traços não estereotipados e atraentes, mas é tão hipersexualizada (outro estereótipo) que fica implícito ter subornado seus inimigos com sexo.


Goldilocks and Jivin' Bears (1944)

Versão negra de Cachinhos Dourados, com os três ursos formando um trio de jazz.


Bônus: Dumbo

O problema do racismo não é exclusivo da Warner Bros. A Disney errou feio em um de seus filmes mais famosos.

Os corvos presentes no filme Dumbo, de 1941, representam estereótipos negros, um racismo escancarado no meio de um filme infantil, o qual promove a aceitação e celebração das diferenças.

O maior problema identificado está no líder do grupo de corvos, que é chamado de Jim Crow (Jim, o corvo). Este nome se tornou um sinônimo para negros usado por americanos brancos, e uma característica de como negros eram inferiores e menos desenvolvidos intelectualmente. Eles comparavam os escravos afro-americanos a corvos, em detrimento de uma canção, sem origem conhecida, na qual se cantava sobre o lendário Jim Crow.

O homem branco então começou a incorporar esse personagem para realizar shows. Os brancos pintavam seus corpos de preto e cantavam sua adaptação da música dos escravos. Nas tais apresentações, era representado o que se acreditava ser o “negro”: um homem burro, vestindo trapos como roupas e fazendo bagunça pelos lugares.

A nomenclatura foi utilizada durante anos, e pode-se afirmar que foi extremamente racista nomear um animal de animação infantil com uma referência problemática como esta.