No centro de São Paulo, um bar foi palco da resistência lésbica na Ditadura Militar
O Levante de Stonewall foi um marco na afirmação de direitos pela comunidade LGBT norte-americana. No dia 29 de junho de 1969, o bar gay localizado em Nova York foi palco para um grande levante contra as batidas policiais e prisões que restringiam a pouca liberdade que os grupos tinham na cidade.
Após os motins, organizações ativistas gays se formaram e jornais foram criados para promover os direitos de homossexuais por todo o mundo. Marchas pelo orgulho LGBT+ são realizadas no final de junho para relembrar as revoltas de Stonewall.
Mas o que poucos sabem é que, no dia 19 de agosto de 1983, uma revolta semelhante ocorreu em São Paulo, Brasil: o levante ao Ferro’s Bar, protagonizado por lésbicas e apoiado por grupos feministas.
O Levante
O Ferro’s Bar, localizado próximo à Avenida 9 de Julho, no centro da cidade, foi um ponto de encontro de mulheres lésbicas da década de 60 à 90. Anteriormente, era frequentado por militantes comunistas, no entanto, após o golpe, passou a ser um importante local para os encontros LGBTs na cidade.
No ano de 1981 surgia o Grupo Ação Lésbica Feminista (GALF, 1981-1990), no contexto dos primeiros grupos de organização política homossexual do Brasil. Para divulgar o movimento, as ativistas produziam o panfleto Chana com Chana, vendendo-o no bar já frequentado por mulheres. Entretanto, a venda foi proibida pelo dono do bar – que ao mesmo tempo fechava os olhos para produtos como drogas ilícitas vendidas no estabelecimento.
Resistindo às expulsões violentas e ocupando o local, no dia 19 de agosto de 1983 as militantes resolveram dar um basta na discriminação: com a presença de outros grupos LGBT, feministas e figuras políticas como o então deputado Eduardo Suplicy, elas leram o manifesto contra a repressão e pelos direitos das mulheres lésbicas. O levante resultou em pedido de desculpas e liberação da venda dos panfletos.
O levante de Ferro’s Bar foi um marco histórico da primeira manifestação lésbica brasileira, incentivando outros grupos LGBTQI+ e organizações feministas a reafirmar sua existência e dignidade.