Apesar de não possuir formação acadêmica, June desempenhou um papel fundamental na medicina, se tornando pioneira na área e virando referência para muitos profissionais de saúde
O ano de 2020 foi marcado pela devastadora pandemia do novo coronavírus. Apesar de ser um dos maiores causadores de mortes no último ano, o vírus atual não é desconhecido na área científica, muito pelo contrário, ele não é, inclusive, nem o primeiro desse tipo já registrado na história.
Na verdade, ele é apenas um de inúmeros outros que circulam pela natureza. Destes, apenas sete foram capazes de evoluir e infectar seres humanos. O primeiro deles foi registrado em 1966, pela virologista June Almeida, que apesar da façanha, nunca teve uma formação acadêmica.
Porém, isso não impediu que sua história fosse repleta de descobertas, fazendo com que desempenhasse um papel fundamental para a medicina moderna, sendo referência na área.
O início
Oriunda de uma família pobre, June Almeida nasceu em Glasgow, na Escócia em 1930. Aos 16 anos de idade, teve que abandonar os estudos para trabalhar e ajudar a família em casa. Foi justamente nesse período que ela conseguiu um emprego num hospital local, atuando como técnica de laboratório.
Apesar de seu salário irrisório, essa sua função foi muito importante em sua vida, afinal, foi lá que aprendeu a analisar tecidos humanos com a ajuda de microscópios eletrônicos. Por lá, June permaneceu até o dia em que decidiu mudar para o Canadá.
Em sua nova casa, também se deparou com novas oportunidades de emprego na área, o que permitiu Almeida aperfeiçoar seus conhecimentos e técnicas observando seres minúsculos.
Com isso, escreveu diversos artigos científicos, mesmo sem formação acadêmica. Este, entretanto, seria apenas o início de sua trajetória pioneira em microscopia eletrônica, o que a tornou uma referência na identificação de diversos vírus.
A descoberta
Como já citado, o primeiro coronavírus humano foi identificado em 1966, sendo June responsável pela descoberta. Nessa época, ela já havia voltado para o Reino Unido, atuando em um dos hospitais mais tradicionais de Londres: o St. Thomas.
Sua capacidade e habilidade adquirida no Canadá chamou atenção de um professor britânico, o que fez com que ela fosse convidada para trabalhar na instituição.
Por lá, uma equipe liderada pelo médico David Tyrrell pediu para June analisar amostras humanas infectadas com um vírus desconhecido, que causava sintomas parecidos com o da gripe.
Apesar de, naquela época, as técnicas de microscopia não terem a tecnologia e eficácia dos tempos atuais, Almeida superou a falta de esperança de Tyrrell, que confessou isso anos mais tarde, e conseguiu visualizar com detalhes o B814 — nome dado ao vírus misterioso.
Além do mais, ela também conseguiu imagens de outros dois vírus: o da gripe e o da herpes, o que a permitiu analisar e comparar suas estruturas. Assim, a jovem foi capaz de constatar que, de fato, o B814 era um vírus inédito, mas que se parecia muito com o que causava bronquite infecciosa em galinhas. Naquele momento, June identificou o primeiro coronavírus humano que se tem notícia da história.
Apesar da descoberta única, ela não era tão relevante assim para a época, já que o vírus causava apenas resfriados em seus infectados, não sendo um agente causador de caos na saúde pública, como atualmente.
Porém, engana-se quem pensa que essa foi a única contribuição feita pela virologista para a medicina moderna. June também foi responsável por capturar a primeira imagem do vírus causador da rubéola. Ela também identificou a estrutura do vírus causador da hepatite B.
Fora isso, Almeida também foi instrutora de vários outros cientistas que fizeram descobertas importantes, como o caso de Albert Kapikian, que descobriu o norovírus, muito infeccioso que causa diarreia em seus portadores.
Além do mais, muitos livros modernos sobre vírus contêm fotos tiradas pela própria June ou que, sem sua contribuição, seriam muito improváveis de existirem.
Apesar de ter se aposentado na década de 1990, Almeida ainda voltou a trabalhar no St. Thomas como orientadora, contribuindo na publicação das primeiras imagens de alta definição do vírus do HIV.
A virologista June Almeida faleceu em 2007, aos 77 anos, vítima de um ataque cardíaco.
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