Em plena Segunda Guerra, Streicher fundou o jornal Der Stürmer e ganhou fama por ilustrar caricaturas obscenas
Rodrigo Trespach, historiador e escritor; autor de Personagens do Terceiro Reich Publicado em 14/02/2021, às 12h30
Longe de ser o super-homem ariano da crença nazista, Julius Streicher (1885-1946) era baixinho e atarracado. Professor primário como seu pai, ele nasceu na Baviera. Às vésperas da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), casou-se com a filha de um padeiro de Nuremberg.
Quando a Grande Guerra teve início, o bruto Streicher se destacou, foi condecorado e mesmo não pertencendo à aristocracia alcançou o posto de tenente. Desmobilizado com o fim do conflito, passou a integrar grupos antissemitas e anticomunistas, entrando para o Partido Nazista em 1921.
Dois anos depois, Streicher fundou o jornal Der Stürmer (O Agressor). O periódico ilustrado ganhou fama e popularidade pelas caricaturas obscenas de judeus seduzindo ou estuprando donzelas alemãs e cristãs, ou de rituais assassinos e macabros perpetrados por judeus. Streicher se gabava de que seu jornal era o único que Hitler lia da primeira à última página.
Além da tradicional manchete “Os judeus são nossa desgraça”, o jornal publicava constantemente listas de profissionais judeus usando slogans como “evite médicos e advogados judeus”. Com a chegada de Hitler ao poder, pregou abertamente a expulsão dos judeus de escolas, banhos e praças públicas, além de incitar violência e assassinato sem meias-palavras.
Quando as Leis de Nuremberg foram promulgadas em 1935, boa parte delas atendia às exigências que Streicher fazia no Der Stürmer. Em 1937, o jornal alcançou uma tiragem semanal de mais de meio milhão de exemplares. Nesse meio-tempo, Streicher alcançara uma patente equivalente ao posto de tenente-general do Exército, se elegera para o parlamento e fora nomeado governador da Franconia.
Sua reputação, porém, era péssima até mesmo para os padrões da camarilha de Hitler. Streicher era corrupto, sádico, adúltero e obsceno a tal ponto que ele passou a ser evitado pelo alto escalão do Partido Nazista. Acusado de estupro, de chicotear presos políticos e manter propriedades judaicas confiscadas, ele chegou a ridicularizar a masculinidade de Hermann Göring (1893-1946) nas páginas de seu jornal, afirmando que o marechal era impotente e que sua filha fora fruto de inseminação artificial.
Como vingança, o líder da Luftwaffe levantou farto material sobre os negócios escusos e o comportamento imoral de Streicher. Em 1940, ele foi expulso do partido, mas Hitler permitiu que se mantivesse como governador e continuasse a frente do Der Stürmer. Em 1943, sua esposa morreu e antes do fim da Segunda Guerra ele casou-se com a secretária.
Preso pelos Aliados, foi levado a julgamento em Nuremberg. Ele protestou contra os juízes afirmando que eram todos judeus. Condenado à morte por enforcamento por crimes contra a humanidade, Streicher afirmou que a sentença era uma vitória do “judaísmo internacional”. Caminhou para o cadafalso alegando que os Aliados celebravam a “festa do Purim”, evento no calendário judaico em que se comemora a vitória sobre Hamã – que tramara um plano para exterminar os hebreus, no antigo Império Persa. Antes que o alçapão se abrisse, gritou a saudação nazista: “Heil Hitler!”.
Personagens do Terceiro Reich
Rodrigo Trespach é autor de Personagens do Terceiro Reich ― A história dos principais nomes do nazismo e da Alemanha na Segunda Guerra Mundial.
Em uma nova abordagem, o autor revela detalhes de um dos tempos mais sombrios da História, a partir da biografia de diversas pessoas cujas trajetórias se cruzaram neste período.
Da ascensão do regime nazista até a vitória dos Aliados, Trespach revela os principais nomes que possuíam relação ― direta ou indiretamente ― com o Terceiro Reich.
Dentre os personagens citados é possível encontrar: Goebbels, a cabeça da propaganda nazista; Himmler, o líder da SS; Mengele, o sádico médico; Keitel, o conselheiro; Bonhoeffer, o teólogo da resistência; e Stauffenberg, o oficial antinazista.
Trespach explica, ainda, fatos poucos mencionados nos livros de História, como o uso de trabalho escravo por parte de empresas alemãs, durante o regime nazista na Alemanha.
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