A eleição do boêmio animal foi um dos maiores atos de protesto político no Brasil; e ele se tornou uma figura mais que folclórica na capital cearense
Protestos de cunho político são realizados das mais diferentes formas. Manifestações nas ruas, abaixo-assinados, organizações de militância, entre outras ferramentas, são utilizadas pelo povo para demonstrar seu descontentamento com posições tomadas por políticos eleitos. No entanto, algumas delas podem demonstrar-se, no mínimo, cômicas.
Em Fortaleza, no Ceará, a população resolveu fazer uma crítica aos políticos da época de uma maneira peculiar. Eles elegeram um bode, que levava o nome de Ioiô, para ser vereador da capital cearense. Mesmo que não tivesse tomado posse, a eleição da popular figura firmou-se como um dos maiores atos de protesto no Brasil.
Acredita-se que o tão famoso animal chegou na cidade em 1915, juntamente com retirantes da seca, que vinham do sertão nordestino que vieram para as cidades no intuito de tentar uma vida com melhores condições. O bode veio junto, mas, ainda sem ter como cuidar dele, acabou vendendo-o para uma empresa britânica que havia se instalado na capital.
José de Magalhães Porto, correspondente no nordeste da empresa britânica Rossbach Brazil Company, tornou-se o dono do bicho. A corporação estava localizada na Praia de Iracema, em Fortaleza, e Ioiô acabou virando uma espécie de mascote do local.
Inquieto, o bode quase não ficava com seu dito proprietário. Fugia e ia para a Praça do Ferreira, que fica no centro da cidade, e lá perambulava tanto que foi nomeado Ioiô por quem o via. Escritores, atores, músicos e todos os tipos de artistas cearenses também frequentavam a praça e se divertiam junto ao animal.
“Pelas ruas de uma Fortaleza que se desejava chique que o bode, símbolo de uma cultura sertaneja que se queria suplantar, ganhou fama em suas idas e vindas diárias. Daí que se acredita vir seu famoso nome, Bode Ioiô. O caprino tinha livre trânsito pela cidade, sem ser incomodado pelos fiscais da Intendência, adentrando vários estabelecimentos comerciais, sobremaneira os cafés, onde desfrutava do carisma de muitos e de vários tipos de regalias. Era um bode boêmio”, explica o Museu do Ceará, que mantém hoje o bode empalhado em sua exposição.
Muitas são as histórias que tornaram o animal uma figura quase mitológica do Ceará. Virou tema de livros, de mostras de arte, documentários, histórias de cordel e até mesmo de escola de samba. Em 2019, a Paraíso do Tuiuti do Rio de Janeiro teve como enredo o popular bode de Fortaleza, abordando a necessidade do voto consciente da população durante as eleições.
Das várias histórias que tornaram o bode um ícone folclórico da região, muitas delas são cômicas. Ele teria comido a faixa de inauguração de um cinema da cidade, levantava a saia das moças cearenses, andava sempre com os boêmios e ainda bebia cachaça — ou a bebida apenas lhe era dada, mas sua autonomia era tanta que a lenda permanece.
Sua eleição, porém, foi orgânica — ele não se candidatou ao cargo de vereador, nem seu dono José de Magalhães havia feito tal decisão. O povo apenas decidiu que elegeria o bode para a posição política, em clara manifestação de descontentamento. Na época, o voto era feito via cédulas de papel, onde os eleitores escreviam o nome de seus candidatos. Sem combinar, muitos votaram em Ioiô nas eleições municipais de 1922 e ele foi um dos mais votados para vereador de Fortaleza.
O bode claramente nunca tomou posse. Depois disso, passou a ser conhecido como Bode Celebridade — e ficou ainda mais famoso na cidade. Faleceu em 1931 e, logo após sua morte, foi empalhado e imortalizado no acervo do Museu do Ceará, onde permanece até os dias de hoje.
Além dele, outro caso muito peculiar aconteceu no Rio de Janeiro. No ano de 1988, o Macaco Tião quase foi eleito para governar a prefeitura da capital fluminense. “Tudo pela evolução. Para presidente, macaco Tião!”, foi o slogan do famoso chimpanzé.
O caso foi uma grande brincadeira de protesto promovida pela revista humorística Casseta Popular. Com apoio do deputado Fernando Gabeira (PV), eles lançaram o personagem mais ilustre do Zoológico do Rio para mostrar como estavam difíceis as opções políticas. Caso sua candidatura fosse validada, o símio que recebeu 400 mil votos teria ficado em terceiro lugar — uma ótima colocação.
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