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Matérias / Personagem

Honestino Guimarães: o desaparecimento do estudante que desafiou a ditadura militar

O rapaz, aluno de Gilberto Freyre, foi um dos líderes estudantis que bateu de frente com os militares

Caio Tortamano Publicado em 31/03/2020, às 11h02

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Estudante Honsetino Guimarães, preso cinco vezes na ditadura - Divulgação
Estudante Honsetino Guimarães, preso cinco vezes na ditadura - Divulgação

Nascido na pequena cidade de Itaberaí, em Goiás, Honestino Monteiro Guimarães era mais um dos brasileiros que rumaram à Brasília na década de 60 para ajudar na construção e, depois, iniciar uma vida no que seria a capital do país.

No Distrito Federal, cursou o ensino médio na escola Elefante Branco e no Centro Integrado de Ensino Médio. Nas duas instituições públicas, os professores do local tinham a fama de serem engajados politicamente. Como consequência, o local passou a ser chamado, jocosamente, de Elefante Vermelho — alusão ao clássico tom que representa a ideologia comunista.

Antes do golpe militar de 1964, o Elefante Branco estimulava e promovia diversas manifestações de caráter estudantil que reivindicavam ajustes no sistema de ensino, como melhorias nas escolas públicas, além de se posicionarem contra o aumento do preço das passagens dos transportes públicos.

Nesse contexto, Honestino começou a frequentar protestos dos secundaristas depois que uma delas foi violentamente reprimida pela polícia, em 1963. Além dela, um dos estudantes presentes na fatídica manifestação foi ferido com um disparo.

A experiência fez com que o jovem, até então com 16 anos, se filiasse ao Ação Popular, um grupo político clandestino que tinha origens dos movimentos sociais católicos apoiados pelas igrejas locais.

Aos 17 anos, Guimarães se formou no Ensino Médio, e conseguiu o primeiro lugar em Geologia na Universidade de Brasília, dividindo seus estudos com a militância estudantil — da qual ainda não era protagonista. Talvez tenha escolhido o momento mais arriscado para começar no mundo político, uma vez que coincidiu com o Golpe Militar de 1964.

Na Universidade, como era de se esperar, sua atuação política cresceu, ainda mais por fazer parte do Diretório Acadêmico de Geologia, e em 1967 foi preso pela primeira vez. A acusação foi por ter, supostamente, feito parte de um grupo que pichou palavras de ordem que hostilizavam o governo do general Costa e Silva, o segundo do período militar.

Pouco tempo depois de ter sido liberado pelos policiais, ainda em 1967, foi detido novamente. Dessa vez, a acusação era mais grave: ele foi apontado como um dos membros de um suposto grupo guerrilheiro que tinha base em Itauçu, também em Goiás.

No entanto, o episódio não serviu de obstáculo para a Federação dos Estudantes Universitários de Brasília, que o elegeu presidente mesmo estando preso. Aos 21 anos, casou-se com Isaura Botelho, que já era companheira de militância.

Em 1968, forças do exército invadiram a Universidade de Brasília com mandados de prisão para Honestino e outros sete militantes do grupo. Resistindo a mais uma prisão, ficou detido até novembro e, dois meses antes, foi descartado da universidade - havia liderado a expulsão de um suposto falso professor.

A militância continuou ao longo dos anos, especialmente depois da aprovação do Ato Institucional Número Cinco, o AI-5, responsável pela radicalização da ditadura. A rigidez com que os opositores começaram a ser tratados obrigou Honestino e sua mulher a se mudarem em segredo para São Paulo, onde tiveram um bebê juntos no ano de 1970.

O presidente da União Nacional dos Estudantes foi preso nesse mesmo ano, e Guimarães foi indicado como o presidente interino da instituição enquanto novas eleições não eram realizadas. No ano seguinte, as pessoas mantiveram a presidência nas mãos do goiano, e ele foi oficializado como presidente de fato da UNE.

Sua quinta, e última, prisão viria em 1973. Já separado de sua antiga mulher, se mudou para o Rio de Janeiro clandestinamente com a nova namorada, coordenando as ações estudantis que se opunham ao governo militar. Em outubro, o Centro de Informações da Marinha, o CENIMAR, prendeu o homem sob acusação de dar apoio a um grupo armado de resistência que havia surgido no Pará.

A prisão foi muito repercutida pelos setores de esquerda, justamente pela incerteza de qualquer informação acerca de seu paradeiro. O filho de Maria Rosa, que havia sido liberada a encontrar o filho no Natal, não constava nos registros da prisão que ele teria sido detido. Desde então, nunca mais soube do paradeiro do filho.

Somente após anos do fim da ditadura que a família de Honestino teria uma resposta. Em 1996, ao receberem o atestado de óbito do rapaz, perceberam que não continha nenhuma referência ao motivo de sua morte.

Essa resposta só seria apresentada em 2013, depois que a Comissão da Verdade  constatou que Honestino faleceu em decorrência das torturas praticadas contra ele.


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