No clássico do cinema, a história do britânico que lutou pela independência árabe
Lawrence da Arábia é claramente um filme feito em outra época. Primeiro porque tem mais de três horas e meia de duração, com direito a intervalo. Além disso, quando você vê na tela centenas de camelos correndo é porque, de fato, centenas de camelos foram filmados. Hoje, eles seriam feitos no computador – para parecerem mais reais que os bichos de verdade.
À parte o estranhamento que possa causar no espectador atual, o filme que o inglês David Lean dirigiu em 1962 é uma obra-prima. Baseado em Os Sete Pilares da Sabedoria, livro de memórias do arqueólogo britânico Thomas Edward Lawrence (1888-1935), reconstitui a saga de um dos mais brilhantes estrategistas da Primeira Guerra.
Antes do conflito, Lawrence passara anos explorando o Oriente Médio. E sua familiaridade com a cultura árabe virou arma estratégica quando o Império Otomano, aliado da Alemanha, entrou na guerra contra a Inglaterra. Após fazer trabalhos de inteligência militar no Egito como tenente, em 1916 Lawrence foi escalado para uma missão na Arábia.
Lá, o príncipe Faisal comandava um exército rebelde contra o domínio otomano. Ao acompanhá-lo por algum tempo, Lawrence notou que a luta árabe poderia ser usada a favor da Inglaterra, que vinha se dando mal nas batalhas no Oriente Médio.
Prometendo – mais do que conseguindo – ajuda militar e financeira dos britânicos para a revolta árabe, Lawrence unificou uma força de diferentes grupos beduínos que, montada em camelos e armada com espingardas e sabres, atacava com rapidez impressionante. O britânico liderou ações de sabotagem a linhas de trem e pontes, numa guerrilha que desestabilizou os otomanos. Em outubro de 1918, o Império Otomano rendeu-se aos ingleses.
Em meio ao tom grandioso, Lawrence da Arábia encontra espaço para explorar a ambigüidade de um homem que se veste de beduíno para lutar ao lado dos árabes mas, no fundo, está apenas ajudando grandes potências a estabelecer seu domínio no Oriente Médio – depois da guerra, os árabes que viviam sob jugo otomano acabaram subordinados a ingleses e franceses.