A bomba artesanal foi apropriada e difundida pelos finlandeses durante a guerra contra a URSS e seu nome carrega uma piada
Atualmente, o coquetel Molotov é uma das mais famosas armas incendiárias utilizadas em protestos e revoltas populares e tem sua origem associada à Guerra de Inverno (início em novembro de 1939) -- importante conflito travado entre Finlândia e União Soviética durante a Segunda Guerra Mundial.
O coquetel é uma mistura de praticamente três elementos básicos: um (ou mais) líquido altamente inflamável como gasolina, ácido sulfúrico, álcool, entre outros, um líquido não solúvel nesta mistura e que tenha alta adesão e grude no objeto atingido (esse item não é obrigatório, mas aumenta a eficiência da arma) – ambos dentro de uma garrafa de vidro - e um pano ou corda embebido no primeiro líquido que serve como pavio ao ser acesso.
A ideia do coquetel é que, ao atingir o objeto mirado, a garrafa quebre, espalhe o líquido inflamável do interior que entra em contato com o fogo do pavio e incendeie o alvo.
É muito difícil delinear a origem exata dessa arma. É possível ver o uso de objetos com a mesma estrutura pelas guerrilhas antifascistas durante a Guerra Civil espanhola, alguns anos antes do conflito na Finlândia. Ao mesmo tempo, também existem relatos de bombas incendiárias parecidas usadas nas primeiras guerras coloniais. Porém, foi na Finlândia que a arma foi definida.
No início da Segunda Guerra Mundial, após a assinatura do pacto de não agressão entre URSS e Alemanha e a ocupação da Polônia, o exército soviético iniciou um empreendimento de ocupação do território finlandês e expansão do território imperial.
O Exército Vermelho, após anos do projeto stalinista de industrialização e desenvolvimento tecnológico, era incomparável ao frágil exército dos finlandeses. O uso de fortíssimos tanques blindados e armas automáticas de alto poder de impacto facilitou inicialmente a ocupação soviética e fez com que o exército finlandês procurasse formas de conter o avanço soviético e de produção de armamento antitanque.
Inspirados no protótipo desenvolvido pela resistência antifranquista de Toledo (Espanha), os finlandeses começaram a testar o uso de armas incendiárias contra os tanques do Exército Vermelho e o resultado foi um sucesso: a contenção da ocupação era possível. Em pouco tempo, o Exército da Finlândia começou a produzir o explosivo em massa e cada soldado passou a receber um exemplar - deveriam resistir aos soviéticos.
No mesmo período, a resistência dos poloneses contra os soviéticos e os nazistas, inspirados no sucesso da arma na Finlândia, fizeram com que armas parecidas fossem criadas, entretanto, eram compostas com líquidos como éter e clorato de potássio, que não precisam do fogo para funcionar, mas sim do impacto contra o alvo.
E foi na Finlândia que essa arma recebeu o nome que resistiu até os dias atuais. A alcunha é uma referência ao Comissário do Povo para Relações Exteriores (como era denominado o ministério do Politburo) da URSS, Vyacheslav Mikhailovich Molotov.
Como a Guerra de Inverno não teve grande repercussão na época, a maioria das informações relativas à situação da Escandinávia durante a Segunda Guerra vinha dos pronunciamentos oficiais via rádio do Kremlin, declarando que a URSS não utilizava bombas contra o povo finlandês, mas enviava ajuda humanitária e alimento para a Finlândia.
Essas declarações de Molotov resultaram em inúmeras revoltas entre os finlandeses que, a partir de então, começaram a apelidar os bombardeios soviéticos como “cesta de pães do camarada Molotov” ("toverin Molotovin leivän kori", no original).
Ao mesmo tempo, começaram a usar o sobrenome do comissário, em forma de ironia, para apelidar as bombas lançadas contra os tanques soviéticos. Desde então, a arma carrega o nome-piada em referência a V. Molotov.