Durante as pesquisas, o escritor Mario Danneels descobriu que o soberano teve um caso secreto com uma belga
Há mais de 20 anos, o biógrafo Mario Danneels, até então com 16 anos, decidiu escrever uma biografia sobre a rainha Paola da Bélgica. Todavia, para o espanto do rapaz, as pesquisas levaram a um escândalo real: o nascimento de uma criança fora do casamento.
Segundo a revista americana Vanity Fair, o escritor encontrou vestígios que comprovavam que o rei Albert II teria traído sua esposa. Do caso extraconjugal nasceu uma menina, que durante anos foi mantida em segredo.
“Sempre fui muito claro. Eu estava dizendo às pessoas que era muito simples, mas poucos acreditaram em mim. Eles pensaram que isso resultaria em algo para a escola, mas eu tinha um editor e disse isso a todo mundo ”, disse o especialista em entrevista ao Vanity Fair, em 2020.
Em 1958, a jovem da nobreza italiana, Paola, conheceu Albert II — até então Príncipe de Liège — quando tinha 21 anos, durante uma recepção para a coroação do Papa João XXIII. Pouco tempo depois, o casal selou a união.
“Ela era muito famosa na Europa nos anos 60 e 70 porque era linda de morrer — tão bonita quanto Grace Kelly — e era seguida pelos paparazzi em todos os lugares”, disse Danneels à Vanity Fair.
Danneels revelou à Vanity Fair que a rainha não era muito popular, dada a sua timidez. Além disso, ele suspeitava que pudesse existir algum mistério por trás do casamento real.
Determinado a escrever uma biografia não autorizada sobre a vida da rainha Paola da Bélgica, ele decidiu investigar a fundo a relação do casal. Para isso ele fez uma série de entrevistas, mas sem obter muito sucesso, em primeiro momento.
“Fiquei perguntando às pessoas que estava entrevistando. Eles estavam todos na ponta dos pés em torno do assunto e foram muito cuidadosos em colocar ênfase no fato de que eles haviam se reconciliado. Então, eu estava ficando um pouco frustrado. Tipo, 'Algo deve ter acontecido, algo grande.' ”, disse o biógrafo.
O editor que se prontificou a cuidar da publicação da biografia conhecia uma pessoa que havia trabalhado na corte. O que ele não imaginava, é que o antigo profissional diria: “Todo mundo sabe que Albert tem uma filha com outra mulher”, revelou ele à Vanity Fair.
Logo que soube desse escândalo, o biógrafo passou a ligar para todas as pessoas que ele já tinha conversado, para comprovarem a versão contada.
“A Rainha Paola estava muito infeliz na corte. Visitei a cidade de onde ela é na Itália e está sempre ensolarado, lindo — e a comida é muito melhor do que na Bélgica. E ela era muito jovem, 21 quando se casou com Albert e se mudou para Bruxelas. O rei e a rainha [Rei Balduíno e Rainha Fabíola] na época eram extremamente religiosos e a vida na corte era muito sombria e solene e simplesmente não combinava com ela. Então, o casamento começou a desmoronar como resultado e quando Albert conheceu a mãe de Delphine, ela estava tendo problemas em seu casamento e eles encontraram conforto um no outro. Eles se uniram basicamente por causa de seus casamentos fracassados”, explicou Danneels à Vanity Fair.
Após longas conversas com o editor do livro, o autor — que a essa altura já tinha 18 anos — lançou a biografia “Paola”, em 1999. Poucas horas após o lançamento da obra, o escândalo da filha secreta do rei Albert II tomou conta dos noticiários do país.
“Ela era um segredo aberto para a mídia belga. Mas ninguém estava disposto a denunciá-lo. Assim que o livro foi lançado, era temporada de caça. Eles sabiam quem ela era, sabiam onde ela estava morando, e meu livro foi a desculpa de que eles precisavam falar tudo sobre isso ... No dia seguinte, saiu no jornal britânico The Times — a manchete era: 'Amado filho do rei belga morando em Londres', e uma enorme foto de Delphine na capa… No lançamento do livro, ninguém estava falando sobre a rainha. Todas as perguntas eram sobre o caso, Delphine e a infidelidade de Albert. Imediatamente comecei a receber telefonemas de repórteres de países vizinhos da Bélgica, como Alemanha, França — e então comecei a receber telefonemas de outros lugares. Meu irmão [ligou] da Irlanda dizendo: 'O que você fez?' ”, disse o escritor à Vanity Fair.
Seis anos depois, a artista Delphine Boël concedeu uma entrevista, onde confirmou ser fruto de uma relação extraconjugal entre o rei da Bélgica e a aristocrata Sybille de Selys Longchamps.
De acordo com a Vanity Fair, na época, a herdeira teria pedido ao pai para conceder proteção à mãe, que passou a receber inúmeras ligações da imprensa após a publicação da biografia não autorizada. No entanto, a mulher escutou: “Deixe-me em paz com essa história. Você não é minha filha”.
Em 2013, a artista entrou com um processo contra o progenitor, buscando o reconhecimento como sua filha biológica. Após anos de batalhas judiciais, o caso teve um fim apenas em 2020, quando Albert II finalmente a reconheceu como sua filha.