O candidato neoliberal venceu o líder sindicalista no segundo turno nas esperadas primeiras eleições após a ditadura militar
A ditadura militar que perdurou no Brasil até 1985 fez com que representantes eleitos democraticamente se tornassem quase um mito no país. Os brasileiros não tiveram eleições populares por 30 anos, iniciados após a vitória de Jânio Quadros em 1961, que também não durou muito tempo.
Então, em 1989, a população estava mais que ansiosa pela primeira eleição depois de 30 anos. As possibilidades de candidatos eram inúmeras: Ulisses Guimarães, Leonel Brizola e até mesmo Silvio Santos. Mas as coisas não seguiram como era esperado no processo eleitoral brasileiro daquele ano.
Uma inesperada reviravolta ocorreu durante as campanhas dessa primeira eleição. O favorito era Brizola (PDT), que se especulava que ganharia ainda em primeiro turno. No entanto, com o desencadear dos programas eleitorais, a bem financiada campanha de Fernando Collor o levou ao primeiro lugar, sucedido pelo caudilho gaúcho.
Fernando Collor (PTC, hoje PRN) e Lula(PT) foram para o segundo turno, contrariando muitas das análises realizadas na época sobre o resultado das eleições. Há exatos 31 anos, foi também a primeira vez na História do Brasil que se disputou um segundo turno eleitoral.
Collor representava o neoliberalismo e as oligarquias do nordeste. Já o candidato preferido, Brizola, tinha um projeto de reforma estrutural da economia baseada no trabalhismo. Esperando derrotar Brizola no segundo turno, Collor viu o terceiro lugar crescer de repente: Lula, representando os sindicatos do sudeste.
O alagoano percebeu (como ele mesmo já admitiu) que a vitória sobre Luiz Inácio Lula da Silva, que não tinha o peso de Brizola, seria mais fácil. Com força das campanhas de ambos, os dois foram para o segundo turno.
O que se acreditava era que Lula tinha uma apresentação mais bruta, defendendo um projeto menos elucidado. Além disso tudo, ele também era associado as greves: tinha menos credibilidade que o velho líder da resistência ao golpismo ou ao garoto prodígio de ombros largos e discurso eloquente.
No mês de dezembro daquele ano, então, ocorreram dois debates televisionados entre Fernando Collor e Lula da Silva, pela TV Manchete e pela Rede Bandeirantes. Por meio desses debates e pela mídia no geral, a imagem de ambos os candidatos foi construída.
Lula era o líder sindicalista, por mais que afirmasse mais tarde que aquela não era sua intenção. Já Collor se apoiava consideravelmente na imagem para atrair votos. Suas campanhas, por exemplo, contavam com frases de efeito e boa estampa, com o intuito de chamar a atenção do eleitorado.
Além da manipulação, já comprovada, da produção da Rede Globo e da Bandeirantes no auxílio à imagem de Collor e na construção de cenários desvantajosos para Lula, a transmissão posterior do debate pelo Jornal Nacional editou as falas em benefício do candidato do PTC.
Analisando o debate, a pesquisadora Lúcia Avelar apontou em seu artigo "As eleições na era da televisão", dados concretos de manipulação: “Um relatório da DENTEL (Departamento Nacional de Telecomunicações), divulgado em 08/12/89, aponta o favoritismo da Rede Globo para Fernando Collor de Mello: ele teria 78,55% mais tempo de divulgação no noticiário político, se comparado ao do seu concorrente Lula, no período de 27/11 a 06/12/89.”
O resultado era de se esperar: na primeira eleição desde a ditadura, o vencedor foi Fernando Collor de Melo, que prometeu um governo austero e ético, mas realizou medidas impopulares que ele acusou que os opositores fariam (como o confisco da poupança) e isso lhe rendeu o impedimento de seu mandato. O resultado nas urnas foi de 53,03% para Collor contra 46,97% para Lula, em relação aos votos válidos.
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