Roupa usada por Anna Wintour no MET Gala é fruto da saga de uma das maiores estilistas da História
Laura Wie, especialista em História da Moda Publicado em 19/08/2021, às 09h25 - Atualizado em 02/05/2022, às 20h21
Personalidades da mídia e relevantes nomes da moda ostentam luxuosas peças de roupa em mais uma edição do MET Gala, que ocorre em Nova York nesta segunda-feira, 2, com o tema: "Na América: Uma Antologia da Moda".
Também chamado 'Met Ball', o evento anual tem como objetivo conseguir fundos para o Museu Metropolitano de Arte, em Nova York. Organizado pela ilustre Anna Wintour, editora-chefe da Vogue, ela foi um dos nomes que chamou atenção logo ao pisar no tapete vermelho com um vestido brilhoso da marca Chanel, de autoria de Virginie Viard, e uma tiara dourada.
"Anna Wintour, que preside o Met Gala desde 1995, chegou ao tapete vermelho em alta-costura Chanel por Virginie Viard", escreveu a Vogue durante cobertura ao vivo do evento.
"A dona da festa! Anna Wintour usando Chanel", escreveu um internauta no Twitter sobre a roupa repleta de plumas.
Mas quem é a mulher por trás da marca que hoje chama atenção em mais uma noite ilustre do MET Gala?
Gabrielle Bonheur Chaneltinha 12 anos de idade quando a mãe morreu, em sua cidade natal Saumur. Sem condições de cuidar dos filhos, o pai, caixeiro viajante, precisou deixar ela e suas irmãs em um orfanato.
A Abadia de Aubazine, onde cresceu, foi responsável por uma série de referências para a vida adulta de Gabrielle. Ao sair de lá, aos 18 anos, a mocinha levou junto o gosto pela formalidade do uniforme das alunas, que tinha cores sóbrias e linhas retas - estilo que ela manteve.
Em sua trajetória como costureira, foi logo adaptando para as mulheres modernas que não queriam mais usar saias volumosas com anáguas e cheias de babados, além de blusas com rendas e fitas, que eram o costume no início dos anos 1900.
Veio do mosteiro – e do seu senso de praticidade - a inspiração para a criação do “pretinho básico”, o vestido preto que se tornou um clássico em nosso guarda-roupa anos depois.
Outra alusão de lá foi o cheiro de roupa de cama branca lavada, emanando nos corredores. Esse era um aroma que a Gabrielle adorava e foi lembrado mais tarde, quando a estilista lançou o perfume Chanel N° 5: entre inúmeras essências sofisticadas, ele trazia um composto sintético que exalava a “limpeza” dentro da sua fragrância.
Além disso, foi no ambiente da Abadia que ela constatou que o 5 era o seu número de sorte, por conta de símbolos antigos que ornamentavam as paredes. Assim, não foi difícil para ela escolher e nomear a quinta amostra, entre várias, que o perfumista Ernest Beaux teve como missão criar em nome de Chanel.
E é importante mencionar ainda um item valioso para a identidade da marca Chanel: a camélia branca, a flor preferida da adolescente, que nascia nos arredores do mosteiro.
Por não possuir nenhum cheiro, a flor delicada se firmou como um dos seus acessórios emblemáticos, pois não “brigava” com o perfume Chanel N° 5, e passou a decorar a lapela de casacos, o decote ou os laços de blusas, cintos e cabelos.
Usada primeiramente em sua forma natural, mais tarde a camélia começou a ser executada em diversos materiais, sendo um artifício de graça e feminilidade.
Gabrielle “Coco” Chanel soube desafiar o destino humilde que estava reservado para as meninas órfãs do convento de Aubazine, abrindo seus horizontes para uma vida com mais riscos.
Porém, com muita força de vontade e senso de oportunidade, ela provou seu talento costurando, produzindo e se firmando como empresária da moda em uma época em que a sociedade era bastante fechada e eram primordialmente os homens que empreendiam.
A sua determinação em transformar a vestimenta datada que aprisionava as mulheres no início do século 20 ganhou a confiança da clientela francesa e o conceito Chanel, aos poucos, se estendeu aos quatro cantos do mundo.
Além das influências marcantes do seu período de estudante, a estilista desenvolveu e disseminou as roupas esportivas femininas, as calças para mulheres, o visual marinheiro de listras azuis e brancas, o cardigã, a bolsa tiracolo e os colares de pérolas, entre tantas outras peças.
Um de suas contribuições mais importantes para a mulher ocidental que conquistou amplamente o mercado de trabalho a partir dos anos 50, foi o conjunto de saia e casaco combinando - o tailleur -, quase um uniforme para a executiva que surgia.
Elegância, simplicidade na modelagem e liberdade de ação, nunca esquecendo do charme: as palavras-chave do estilo Chanel, que sobreviveram à sua criadora e vestem as gerações que vieram e virão.
Saiba mais sobre a vida da estilista através do podcast 'Aventuras Narradas e Moda com História'.