Na batalha de Somme, a máquina que revolucionaria o combate terrestre foi uma brutal surpresa aos alemães
O ex-coronel Ernest Swinton mal podia disfarçar sua ansiedade. Ele havia organizado uma demonstração para figuras importantes do Parlamento e da cúpula da administração britânica. Entre os presentes, o lorde do almirantado, Winston Churchill, e David Lloyd George, que seis meses após aquele evento, realizado em junho de 1915, seria nomeado primeiro-ministro. Ambos saíram impressionados com o que viram. Uma nova máquina blindada, montada sobre lagartas e capaz de vencer obstáculos como cercas de arame farpado e, principalmente, trincheiras.
Para a guerra de atrito e de posições em que havia se convertido o conflito mundial no qual os ingleses jogavam um papel importante, o stuck, como foi chamado originalmente o nascente carro de combate, surgia como uma arma capaz de desfazer o incômodo equilíbrio entre os antagonistas. O codinome tanque, escolhido para confundir a espionagem alemã, prevaleceu e a visita de Churchill e Lloyd George acabou rendendo autorização para que a arma entrasse em linha de produção em dezembro daquele ano.
O Mark I / Wikimedia Commons
O primeiro modelo entregue, em janeiro de 1916, foi o Mark I. Dotado de dois canhões e quatro metralhadoras, tinha uma tripulação de oito homens. Eles eram responsáveis pela manobrabilidade e, claro, pela operação das armas. Quando a ofensiva do Somme teve início, em julho, os tanques e suas tripulações não estavam suficientemente preparados. A estréia só ocorreria a 15 de setembro, durante o avanço do exército britânico nos vilarejos de Flers e Courcelette, próximos ao Somme, com o objetivo de atingir a terceira linha de trincheiras alemãs. Das 50 unidades destacadas para a ação, 36 iniciaram o avanço. As demais quebraram. Mesmo sem atingir o objetivo da ofensiva, os ingleses saudaram o tanque como uma real possibilidade de pôr fim à guerra, derrotando a Alemanha.
“Ouvimos um estranho barulho de vibração e vimos movendo-se lentamente em nossa direção três enormes monstros mecânicos como nunca tínhamos visto”, narrou em suas memórias Bert Chaney, que à época era um sinaleiro de 19 anos do Exército inglês. “Em vez de ir para as linhas alemãs, os tanques pararam, nos miraram e abriram fogo com suas metralhadoras. Quando se deram conta de que estavam na trincheira errada, foram adiante, assustando os Jerries (apelido dado pelos ingleses aos alemães), a ponto de deixá-los loucos, fazendo-os fugir como coelhos assustados.”
Apesar do sucesso inicial da investida, os tanques não ajudariam os ingleses a romper a linha alemã por uma série de razões. A primeira deve-se ao fato de muitos deles atolarem durante as manobras ou quebrarem. Outro motivo é que, por essa época, os ingleses não haviam desenvolvido táticas de ações combinadas entre tanques e infantaria. E, finalmente, as condições dentro dos veículos eram insalubres. As temperaturas chegavam facilmente aos 50 graus Celsius e o barulho misturado aos gases dos motores tornava a permanência prolongada em seu interior praticamente impossível. Os dois meses de combates restantes no Somme serviriam para corrigir problemas e adotar táticas de combate para as máquinas. Uma dessas medidas foi a criação de um modelo dotado somente com metralhadoras, apelidado de fêmea, e que dava cobertura àqueles que tinham canhões, os machos. Como a comunicação por rádio ainda não era uma realidade, cada unidade possuía dois pombos-correios, que quando necessário, eram liberados por uma portinhola na traseira do veículo.
Atraídos pelo relativo sucesso de seus aliados com a nova arma, os franceses desenvolveriam seus próprios modelos, como fariam americanos e italianos também. Curiosamente, a Alemanha, sempre à frente no campo tecnológico, não se interessou muito pelo desenvolvimento de tanques, dedicando-se mais à produção de armas para destruí-los. Ao fim da guerra os aliados haviam produzido milhares deles, mostrando ao mundo que uma nova era nascera no dia 15 de setembro de 1916, com o primeiro combate dessa máquina que mudaria a história das guerras.
A produção de tanques
Confira a produção entre 1916 e 1918 (Em número de unidades)
Tropa britânica em um tanque Mark IV / Wikimedia Commons
➽ França: 4.800
➽ Inglaterra: 2.818
➽ Estados Unidos: 84
➽ Alemanha: 20
➽ Itália: 6