No final da década de 1970, o redator da BBC protagonizou um mistério que iniciou após uma pontada no metrô de Londres
O dia 07 de setembro de 1978 começou como qualquer outro para Georgi Markov. Dissidente da Bulgária, o escritor estava a caminho de mais um dia de trabalho na BBC quando sua rotina foi interrompida por algo pouco usual.
Logo no começo da manhã, ele parou seu carro sob a ponte de Waterloo, no centro de Londres, e caminhou até o ponto de ônibus mais próximo. Enquanto esperava, sentiu uma pontada em sua coxa direita.
Estanhando a sensação, Georgi virou-se para trás, a fim de identificar quem o teria cutucado. A única coisa que ele conseguiu ver, no entanto, foi um homem misterioso — que nunca foi identificado — com um guarda-chuva nas mãos fugindo em um táxi.
Naquele mesmo dia, Bernard Riley estava fazendo seu trabalho de rotina no hospital da região quando recebeu um paciente com urgência. Suando, com febre e se queixando de uma dor aguda na coxa, Georgi foi rapidamente internado.
Em entrevista ao programa de rádio Witness, da BBC, o médico lembra que o quadro do paciente era bastante grave. “Sua pulsação estava alta e sua temperatura, também", lembrou Bernard, em 2016.
Ainda bastante lúcido, contudo, o jornalista deu uma dica do que teria acontecido com ele. "A primeira coisa que ele [Georgi] me falou era que tinha sido alertado três meses antes que a KGB queria 'pegá-lo' e que tinha sido envenenado", contou Bernard.
Nascido no bairro de Sofia, na capital da Bulgária, Georgi Markov havia sido um influente autor do país, com diversos livros publicados. Com sua imponente trajetória profissional, no entanto, ele também tinha colecionado alguns inimigos.
Em 1971, o dissidente mudou-se para Londres a fim de escapar da fúria das autoridades e acabou apagado do país. Todas os livros que Georgi já havia escrito foram retirados das bibliotecas e livrarias da Bulgária e o nome do autor não foi mencionado pela mídia oficial de sua terra natal até 1989.
Anos mais tarde, quando já era casado com a bela Annabel Dilke e os dois tinham uma filha, Georgi supostamente foi ameaçado pela KGB, o serviço secreto soviético. O medo, é claro, passou a fazer parte da rotina do jornalista.
De volta ao hospital, já febril e com um estado de saúde debilitado, Georgi disse ao seu médico: "Vou morrer. E não há nada que você possa fazer". Para o escritor, aquele era realmente o fim da linha: ele morreu quatro dias depois do suposto envenenamento.
Ainda em entrevista à BBC, o médico Bernard Riley afirma que foi até o necrotério enquanto o corpo de Georgi era examinado. Na ocasião, o legista havia retirado uma parte do tecido da coxa direita da vítima, que estava inchada durante todo o tempo.
"Enquanto analisava a pele, um pequeno objeto metálico se deslocou e saiu rolando pela mesa”. Era uma bolinha de metal de 2 mm de largura com pequenos buracos. "Evidentemente, esses buracos poderiam estar preenchidos com alguma substância".
"Não poderia ser cianureto, nem tálio ou arsênio”, lembra o médico. Não demorou muito, então, para que a causa do óbito do homem fosse descoberta. Com inimigos poderosos e letais, Georgi Markov havia sido morto com ricina, uma substância altamente tóxica que tinha sido injetada em seu corpo através do guarda-chuva.