Acusado por abuso sexual, ele desafiou a Justiça dos EUA ao assumir diferentes comportamentos a cada vez que era detido
Wallacy Ferrari / Atualizado por Pamela Malva Publicado em 03/10/2021, às 10h00 - Atualizado em 21/08/2023, às 14h01
William Stanley Milligan, apelidado de Billy, sempre demonstrou sinais de distúrbios psicológicos, mesmo durante a infância. Nascido em Miami Beach, em 1955, o menino viajou pelos Estados Unidos após o divórcio de sua mãe e sequer entendeu o que estava acontecendo quando seu pai cometeu suicídio. Na época, Billy tinha apenas três anos de idade e o homem morreu por envenenamento voluntário de monóxido de carbono.
Antes de concluir o colegial, a mãe do jovem casou e divorciou em mais duas ocasiões enquanto residiu em Ohio. Billy por sua vez, demonstrava uma bipolaridade extremamente específica, variando não apenas seu comportamento, mas também a forma como se apresentava e os trejeitos da personalidade que externava.
Durante a infância, personificou 3 figuras além de sua personalidade normal, dizendo ser Shawn, Christene e, às vezes, dizendo não ter um nome ou um lar. As características refletiam em confusões e reclusão no ambiente escolar, mas se tornou algo grave na segunda metade da década de 1970, quando o jovem entrou na Ohio State University.
Em 1975, Billy foi preso por assalto à mão armada e estupro sendo obrigado a se registrar como agressor sexual e realizar comparecimentos ao fórum após a sua liberdade condicional em 1977. No fim do mesmo ano, o homem ignorou as medidas que poderia sofrer com a advertência e foi acusado de mais três casos de estupro, todos dentro das imediações da universidade.
Com o auxílio das três mulheres que relataram o caso, o homem foi identificado a partir do banco de fotos de agressores sexuais, junto com a compatibilidade de suas digitais com as impressões encontradas no carro de uma vítima. Em depoimento, uma das vítimas estranhou o comportamento do homem, afirmando que o mesmo "agia como uma menina de 3 anos de idade".
Após as denúncias, o homem foi encontrado em sua residência e manifestou surpresa no momento de sua prisão, sem apresentar resistência. Além de violar sua liberdade condicional, as armas encontradas em sua residência somaram em seus indiciamentos por roubo e estupro. O caso parecia ser fácil de concluído pelo excesso de provas, porém, mudou de rumo após os seus exames psicológicos.
Enquanto preparava sua defesa, foi diagnosticado com esquizofrenia aguda durante uma análise feita pelo doutor do caso. Sem a manifestação anterior, seus advogados buscaram uma segunda opinião, com a psicóloga Dorothy Turner, então responsável pelo Centro de Saúde Mental de Southwest Community, em Columbus.
Para a surpresa do próprio homem, foi possível concluir que Billy sofria de transtorno de personalidade múltipla. A constatação serviu como argumento de defesa para os defensores públicos do rapaz, que alegaram que o mesmo cometeu os crimes em uma personalidade que não o representava e que estava insano.
Durante as análises em hospitais psiquiátricos administrados pelo estado, o homem manifestou 14 personalidades distintas em 10 anos de tratamento. As figuras variavam entre uma garota lésbica de 19 anos chamada de Adalana e um comunista iugoslavo chamado Ragen, que via os assaltos como uma forma de dividir os bens igualmente.
Em 1988, Billy foi libertado, sendo a primeira pessoa absolvida de um crime grave alegando o transtorno de personalidade múltipla na história da justiça estadunidense. O rapaz foi acompanhado até agosto de 1991 como uma forma de observação do Estado para confirmar se poderia conviver em sociedade.
Em 1996, mudo-se para a Califórnia, onde abriu uma produtora de vídeos e tentou negociar um curta-metragem sobre a direção criativa de uma de suas personalidades, sem sucesso. Billy Milligan morreu aos 59 anos em 2014, vítima de um câncer.