A descoberta, que ficou conhecida como Tesouro de Hoxne, conta com mais de 14 mil moedas e 200 artefatos raros
No dia 16 de novembro de 1992, o fazendeiro britânico Peter Whatling perdeu seu martelo. Ele vivia num campo agrícola localizado a 2,4 quilômetros a sudoeste da vila de Hoxne, em Suffolk, na Inglaterra. A história poderia ser uma comum: um objeto sumiu, a pessoa o procura, e o encontra ou não.
Mas essa não foi uma narrativa normal. Whatling pediu que um amigo, Eric Lawes, jardineiro e detetive amador de metais, o ajudasse a procurar o tal martelo. Eles começaram a buscar por ele ao longo da propriedade, mas começaram a encontrar outros artefatos, anteriormente desconhecidos pelo dono da terra.
No começo, o detector de metais descobriu colheres de prata, joias, e muitas moedas de ouro e prata. Eles perceberam que provavelmente continuariam encontrando mais coisas se permanecessem escavando, então decidiram parar e convocar o Conselho do Condado de Suffolk e a polícia para continuar o procedimento.
Uma equipe de arqueólogos da Unidade Arqueológica de Suffolk, já no dia seguinte, se locomoveu até o local. A escavação foi feita com urgência e todo o tesouro foi retirado do subsolo em apenas um dia. Eles realizaram a investigação usando detectores de metal em um raio de 30 metros do principal local de descoberta.
O martelo do fazendeiro foi encontrado, mas ele era pouquíssimo importante em relação aos novos objetos descobertos no terreno.
O que Peter Whatling e Eric Lawes haviam encontrado, na verdade, se tornou o maior tesouro romano já descoberto na Grã-Bretanha, que ficou conhecido como Tesouro de Hoxne. A maioria dos artefatos estava enterrado dentro de uma caixa de carvalho, que provavelmente funcionava como um baú. Eles estavam também em caixas menores de madeira, em sacos, ou, ainda, embrulhados em tecidos.
As moedas foram os itens em maior número: 14.865 moedas romanas de ouro, prata e bronze foram desenterradas. Elas são os únicos objetos aos quais datas e locais de fabricação podem ser definidos mais facilmente, pois quase todas têm representação do imperador que reinava na época em que foram fabricadas.
A partir da análise de arqueólogos, chegou-se à conclusão que elas foram cunhadas em três dinastias diferentes, a dinastia Constantiniana, a Valentiniana e, por fim, a dinastia dos teodosianos. Elas datam de depois de 407 d.C., o que corresponde ao fim do território como província dos romanos.
O Hoxne Hoard, porém, continha muito mais do que moedas. Mais de 200 itens de talheres de prata e joias de ouro também foram descobertos, além de outras peças consideradas muito raras, como uma corrente corporal de ouro, pulseiras feitas do mesmo material e inúmeros vasos de pimenta dourados, chamados de piperatorias.
“Quando os romanos chegaram à Grã-Bretanha, trouxeram muita cultura material e muitos hábitos que fizeram o povo da Grã-Bretanha se sentir romano. Eles se identificaram com a cultura romana. O vinho era um desses — o azeite era outro — e a pimenta teria sido mais valiosa nesse mesmo tipo de ‘conjunto’ de romanitas”, explicou Roberta Tomber, especialista do Museu Britânico.
No ano seguinte, em 3 de setembro de 1993, o inquérito de um legista declarou que a descoberta era um tesouro. Na prática, concluiu-se que os objetos foram deliberadamente escondidos para serem encontrados em tempos posteriores.
Mas os motivos que teriam levado uma pessoa a organizar tal esconderijo ainda não estão claras. Acredita-se que o Tesouro de Hoxne tenha sido enterrado em um período em que a Grã-Bretanha romana se encontrava repleta de revoltas, no início do século 5.
Talvez por isso o indivíduo quisesse manter sua riqueza segura. Uma outra hipótese é que ele pode ter sido fruto de um roubo, que foi armazenado em baixo da terra para que não fosse descoberto pelas autoridades. Os pesquisadores, no entanto, não chegaram a uma resposta definitiva — muitas teorias são possíveis.
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