As peças já foram examinadas por um núcleo especializado e chama atenção pelo valor histórico
No dia 2 de agosto de 2021, a Praia do Flamengo, em Salvador, capital da Bahia, amanheceu com curiosos itens atrapalhando a vista paradisíaca do destino turístico; ao menos oito caixas apareceram na água e, levadas pela correnteza, chegaram até a areia, chamando a atenção de banhistas, que ligaram para autoridades locais.
A descoberta, divulgada pela filial do portal G1 na região, precisou ser retirada por um caminhão com guindaste a mando da Empresa de Limpeza Urbana de Salvador (Limpurb), devido ao peso. Além disso, teve uma amostra coletada pela Marinha para tentar compreender a origem das curiosas caixas pesadas.
Porém, a resposta sobre o item partiu de outra amostra, repassada ao Instituto de Ciências do Mar (Labomar) da Universidade Federal do Ceará, que em apenas um dia de análises, conseguiu descobrir o que era o artefato: resquícios de um navio nazista.
Liderado pelo oceanógrafo Carlos Teixeira, as características da caixa puderam ser relacionadas com um dos itens presentes em navios de carga alemães confeccionados durante o regime nazista; as caixas contendo fardos matérias primas para a fabricação de outros itens, sendo essa composta por borracha.
Estes navios realizavam transportes de metais como cobalto, estanho, latão, titânio pelos Atlânticos e, dessa maneira, otimizavam o traslado dos itens pesados com um veículo dedicado especialmente para isso.
O pesquisador também conseguiu concluir a origem específica da caixa encontrada na Praia do Flamengo; ela pertenceu ao navio SS Rio Grande, afundado pela frota americana em 1944 durante a reta final da Segunda Guerra Mundial e, hoje, está naufragado há quase seis mil metros de profundidade.
Alguns detalhes adicionais da descoberta ainda devem ser investigados, como a localização do navio. Tal estimativa pode ser obtida com as correntes de vento recentes registradas pelos órgãos meteorológicos da região, fato que chegou a ser comentado por Carlos em entrevista ao G1:
As correntes estão para o norte e os ventos estão para o norte. Então não teria como estar trazendo uma caixa de Sergipe ou do norte da Bahia para Salvador para a Região Metropolitana de Salvador, como Stella Maris e Flamengo. [...] Como elas chegaram em Salvador é um novo mistério", afirmou.
Porém, uma inscrição nas caixas auxilia a entender o caso; em alemão, há os dizeres "Produzido na Indochina Francesa" — na época do naufrágio do navio, a região era dominada pelo Japão, aliado dos alemães na guerra histórica.