A embarcação, que havia afundado 73 anos antes, apenas foi encontrada graças a um esquema mirabolante planejado pela Marinha dos EUA
Publicado em 05/12/2020, às 09h00 - Atualizado em 12/01/2023, às 15h38
Durante 73 anos, as evidências físicas do mais famoso naufrágio da história da humanidade ficaram inacessíveis; pouco se sabia sobre o local exato do Titanic, suas causas e que tipos de artefatos estariam presentes caso ainda existisse algum resto do navio no fundo do mar. A esperança surgiu no início da década de 1980, com um ousado plano documentado pela revista National Geographic.
Em 1982, um oceanógrafo chamado Robert Ballard dedicava esforços aos estudos do naufrágio, estudando rotas marítimas e caminhos de correnteza para, no futuro, localizar a embarcação que entraria para a História.
Sabendo disso, desenvolveu um aparato técnico capaz de proporcionar iluminação e registrar fotos ou vídeos no fundo do mar. Com um custo alto, ele decidiu consultar a Marinha para solicitar investimentos na tecnologia robótica.
Em plena Guerra Fria, ele se encontrou com Ronald Thunman, na época, Diretor Executivo de operações navais para guerra submarina, que se interessou bastante na proposta do estudioso — porém, não tinha o Titanic como alvo.
A ideia do militar era financiar a pesquisa, e também dedicar esforços na busca dos submarinos U.S.S.Thresher e U.S.S. Scorpion, afundados durante a década de 1960 e equipado com reatores nucleares.
Mesmo sem a permissão militar para trabalhar na busca do Titanic, Ballard topou a tentativa, visto que ao menos poderia concretizar o projeto e, posteriormente, ter fundos para prosseguir a pesquisa sozinho.
A regra, no entanto, era focar nos submarinos durante a missão secreta da Marinha dos EUA. Mesmo assim, Ballard chegou a comentar que havia a possibilidade do Titanic estar entre os dois submarinos, recebendo uma negativa rude do diretor.
Contudo, Thunman especificou uma exceção para as buscas; se Ballard tiver concluído a missão com uma folga no tempo estipulado, poderia fazer o que quisesse com o navio nesse período restante. Quem também estava ciente da regra era o então Secretário da Marinha, John Lehman, que autorizou a missão sem revelar publicamente.
Também localizados no Oceano Atlântico Norte, os submarinos americanos foram localizados em cerca de 4 mil metros de profundidade. Com o auxílio das fotografias, conseguiram constatar o que ocasionou nos abatimentos — além de confirmar a segurança dos reatores em relação a poluição do mar. Com a conclusão das provas, o oceanógrafo tinha apenas 12 dias para caçar o Titanic.
Uma coisa já chamava a atenção de Ballard durante as buscas dos submarinos: os efeitos das correntezas com destroços afundados.
De acordo com o pesquisador, a maneira com que os objetos mais pesados afundavam com maior facilidade proporcionavam, pela própria física das correntes, uma trilha linear que, se fosse encontrada, poderia levar ao item mais pesado.
Tendo como base os relatos do naufrágio do Titanic, Ballard compreendeu que, pelo fato de ter se partido no meio, o navio espalhou vestígios pelo mar, com a possibilidade de ter formado uma trilha de destroços. "Acabou por se confirmar ser verdade", enalteceu o pesquisador, que conseguiu encontrar a embarcação usando a técnica.
Com diversas fotografias coloridas registrando partes do motor, da carcaça e surpreendentes itens de membros da tripulação, a descoberta se tornou pública em 1985, jogando luz ao fato histórico.
Mas a Marinha nunca esperou que eu encontrasse o Titanic e, como tal, quando isso aconteceu, ficaram muito nervosos com a publicidade", acrescentou Ballard ao National Geographic.